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Ser ou não ser humano? Eis a questão!

Nesta quarta-feira, mesa-redonda na Reunião Anual da SBPC discutiu os “Avanços científicos e aspectos éticos na pesquisa com células-tronco”

Osvaldo Augusto Sant’Anna, pesquisador do Butantan e coordenador da mesa-redonda, destacou o papel social da ciência. “O fazer ciência é um ato social, então células-tronco também é uma questão social”. Segundo ele, muitas vezes essa dimensão social não recebe a devida importância, inclusive pela mídia, e não é decentemente debatida. Ele reclamou, por exemplo, dizendo que a ciência é feita apenas para 500 milhões de pessoas, quando já somos mais de seis bilhões no globo e que isso não é discutido.

O pesquisador, ao encerrar sua participação dizendo que “as células-tronco multipontes foram descobertos há pouco tempo e aí fica todo mundo naquele orgasmo coletivo” deixou a bola quicando para os outros dois participantes da mesa: Alice Teixeira Ferreira, pesquisadora da Unifesp e contra a pesquisa com células-tronco embrionárias, e Carlos Alexandre Neto, pesquisador da UFRGS e a favor de tal pesquisa.

O argumento de Alice Teixeira é que a partir da concepção, o espermatozóide tem papel fundamental no desenvolvimento do embrião. Como para a pesquisa com células-embrionárias, até agora, é necessário a destruição do embrião, ela se opõe à técnica.

Para Alice, a ciência deve investir no estudo das cadeias de sinalizações e diferenciações das células-tronco adultas. Isto pode, segundo ela, levar à cura de certos tipos de câncer, que parecem estar associados a falhas neste processo.

Outro ponto apontado por ela a favor das células-tronco adultas é que estudos recentes conseguiram aumentar o poder de multiplicação destas células a cerca de 200 vezes o da população inicial, número próximo, diz ela, ao das células-tronco embrionárias.

“E as embrionárias têm o risco de se injetadas num organismo causarem um teratoma [tipo de câncer formado por diferentes tecidos]”, argumentou..

Sobre a mídia, outro ponto citado por Osvaldo Augusto Sant’Anna, ela fez coro com o coordenador: “A imprensa vendeu as células-tronco como uma panacéia que ia curar tudo”.

A apresentação de Carlos Netto não foi preparada em cima da da pesquisadora da Unifesp, mas parecia. As principais questões estavam lá, mas com respostas opostas. Sobre os estudos com células-tronco embrionários, o pesquisador disse que “a ciência é uma aventura inacabada. Quando começamos uma pesquisa não sabemos exatamente onde ela vai dar”, mas segundo ele, temos que poder pesquisar para tomar decisões: “Sem conhecer nós não podemos tomar uma decisão”.

Ele pontuou que a pesquisa é importante para sabermos os benefícios e riscos das células-tronco e defendeu que são pesquisas promissoras demais para serem canceladas nesta fase “ainda embrionária”.

Para ele, nós não sabemos o que está por vir na área. “Não temos idéia do que serão as células-tronco em cinco, dez anos. Há cem anos não tínhamos antibióticos e hoje eles mudaram a saúde humana”, disse defendendo que as pesquisas, assim como produziram os antibióticos, podem levar a grandes revoluções na medicina com o uso de células-tronco.

Sobre a questão do uso de embriões, sua visão é contrária a de Alice, ele pontuou que cerca de 20% dos zigotos formados, “ou mais dependendo do estudo”, são desperdiçados por não aderirem ao útero. “Será que a natureza joga tanta vida fora?”

Ele lembrou ainda que o coração do feto demora quatro semanas para começar a bater, que o cérebro se forma na sétima semana e que ele só reage a estímulos a partir da vigésima semana.

Até mesmo em relação à mídia, neste tema bastante acusada de vender ilusões, o pesquisador foi condescendente. Para ele, a opinião pública realmente prometeu muito e cedo demais, mas ele ponderou que a mídia tem papel importante e que ela deve mostrar o que o cientista está fazendo. Para ele, o problema maior é a falta de uma educação científica de boa qualidade para a população do país.


Data: 20/07/2006