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Reunião Anual da SBPC: Local para pensar e não para patentear

Diretor da Fapesp mostra que desenvolvimento tecnológico é papel das empresas. Universidades devem produzir conhecimento

Os transistores foram inventados em 1948 por engenheiros contratados pela empresa norte-americana de comunicação Bell. Inicialmente, era um aparelho estranho e pouco eficiente. Mas foi o início para as pesquisas que levaram ao nascimento de microcircuitos, computadores e, finalmente, a internet. Uma das invenções tecnológicas mais relevantes do século XX não nasceu em uma Universidade. E isso não é preocupante, acredita Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.

Brito participou, na tarde de terça-feira, 18, da conferência A Universidade, as pesquisas e as empresas durante a 58ª Reunião Anual da SBPC, que segue até sexta-feira, 21 de julho, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Como contextualizar é preciso, Brito fez um breve resumo de algumas das principais teorias econômicas, indo de Adam Smith e Karl Marx a Joseph Schumpeter. “Antes, o crescimento vinha da junção de capital e força de trabalho. Depois, um importante fator foi introduzido: o conhecimento”, disse. O americano Robert Solow, prêmio Nobel de economia em 1987, foi quem primeiro apontou essa nova ordem mundial.

Se o diferencial é dado pelo conhecimento, qual o papel dos pensadores nos centros de ensino e nas empresas, e qual a interlocução desses dois universos? Para Brito, a resposta é simples. “É preciso acabar com essa idéia de que o avanço do país deve sair dos doutores que estão na academia”, afirma Brito. Para ele, a função dos pesquisadores nas Universidades é se ater à produção intelectual. “Senão, como é que fica a filosofia? Acaba?”, questionou.

Projeção internacional

Na opinião do diretor da Fapesp, outro agravante é o que classificou de timidez do empresariado brasileiro, que não exporta a tecnologia desenvolvida no país. “O mundo não vê o que fazemos. Perdemos oportunidades incríveis”, criticou, ao ressaltar a importância do governo para o desenvolvimento dos setores produtivos.

Para Cruz, há motivos estruturais para o atual quadro. Até o início dos anos 1990, a economia fechada criou uma certa paralisia de idéias e iniciativas entre o empresariado brasileiro, que se acostumou à falta de perspectivas e concorrência. Outro fator foi a instabilidade política e monetária enfrentada pelo Brasil por muitos anos. Mas, acima de tudo, Brito afirma que um dos grandes responsáveis pela inércia da indústria brasileira é a eterna espera pela transferência de tecnologia por parte das Universidades nacionais. “Mas isso tudo está mudando gradativamente”, acredita.


Data: 19/07/2006