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Pesquisadores de diferentes áreas compartilham na Reunião Anual da SBPC reflexões e experiências em espaços interdisciplinares

A estrutura departamental e o modelo conservador das Universidades são as principais barreiras para o êxito de iniciativas interdisciplinares dentro destas instituições, afirmaram os participantes da mesa-redonda sobre o tema, realizada nesta terça-feira.

Com formação acadêmica em áreas diferentes, falaram dos problemas que vêm enfrentando para consolidar núcleos e centros interdisciplinares no ambiente acadêmico.

A cientista social Maria Lúcia Maciel, da UFRJ, falou de sua atuação, há dois anos, no Laboratório Interdisciplinar sobre Informação e Conhecimento (Liinc), voltado para a reflexão sobre informação, conhecimento e desenvolvimento.

Fruto de uma parceria entre a UFRJ e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), o Liinc não é vinculado a nenhum departamento da Universidade e é integrado por pesquisadores das áreas de geografia, psicologia, engenharia, antropologia, economia, comunicação e ciências políticas.

O Laboratório tem encontrado dificuldades na hora de apresentar projetos para o CNPq. "Logo na primeira página vem a pergunta 'que área?'", conta Maciel. "Acabamos colocando ciências sociais."

No caso do físico Fernando Zawislak, da UFRGS, os entraves para a consolidação de um grupo interdisciplinar na instituição partiram da própria comunidade acadêmica, marcada, segundo ele, pelo corporativismo e conservadorismo.

Ele citou o caso do curso de doutorado em ciência dos materiais que criou com um grupo na UFRGS. Inicialmente, o curso teve problemas de alocação e, depois de consolidado, não foi bem recebido pela comunidade de engenheiros.

Ainda que seja um entusiasta de atividades interdisciplinares, Zawislak ressaltou que interdisciplinaridade não deve ser confundida com uma generalização do conhecimento. Em cada atividade interdisciplinar deve haver o conhecimento profundo de cada disciplina.

"Não há espaço para o homem do conhecimento universal", afirmou. "A interdisciplinaridade deve ser exercida por pessoas competentes em suas áreas, que interagem com outras."

Ex-reitor da Escola Politécnica da USP, o engenheiro Vahn Agopyan aponta conflitos tanto nas Universidades quanto nas agências de pesquisa que dificultam as iniciativas interdisciplinares.

Nas Universidades, os currículos são disciplinares, as atividades de pesquisa se contrapõem às atividades de docência e os órgãos centrais são disciplinares. As agências de fomento, por sua vez, replicam este modelo, embora já haja alguns indicativos de mudança, com a criação de comitês interdisciplinares no CNPq.

Na sua avaliação, o grande desafio está na flexibilização das atividades acadêmicas e, principalmente, na mudança de cultura da academia. "A dificuldade da interdisciplinaridade é culpa nossa, das nossas estruturas, divididas em disciplina, e da cultura conservadora", afirmou.

Ele citou como exemplo positivo o caso da USP Leste, o novo campus da USP que concentra cursos das áreas de Artes, Ciências e Humanidades. "Não basta defender a interdisciplinaridade, tem que praticar", concluiu.


Data: 19/07/2006