topo_cabecalho
Reunião Anual da SBPC: novas espécies de ostras e vieiras poderão ajudar Santa Catarina a intensificar a maricultura

Vencedor do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica em 2005, o Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM) da UFSC está mostrando na Reunião Anual da SBPC, que vai até esta sexta-feira, como colabora com a intensificação da maricultura em Santa Catarina

Responsável pela produção das sementes de ostras que fazem de Santa Catarina o principal produtor desses moluscos no país, a equipe está ampliando sua áreas de atuação e intensificando os mecanismos de transferência do conhecimento gerado na universidade aos pescadores artesanais catarinenses.

Além de trabalhar com a produção de sementes de ostras e mexilhões, agora o laboratório está também fornecendo sementes da espécie Vieira para maricultores. Durante esse ano, a produção deverá ser intensificada devido ao aprimoramento das técnicas de transferência do molusco para o mar.

Um novo projeto inovador é a produção de sementes de outro tipo de molusco, a Pteria. As pesquisas ainda estão nas fases iniciais, mas as potencialidades são animadoras. Além de ser uma espécie nativa da costa brasileira, a Pteria colymbus pertence à família das Pteridae, conhecida por sua capacidade de produzir pérolas comerciais.

Assim, esse tipo de molusco pode proporcionar uma enorme possibilidade de uso artesanal e ornamental.

As primeiras sementes da Pteria colymbus cultivadas no Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC já foram transferidas para o mar e o resultado dessa produção poderá ser verificado dentro de oito meses.

Três pontos básicos permitem que os pesquisadores tenham boas expectativas. A primeira vantagem dessa espécie é que ela possui uma produção semelhante a da Vieira, que já é conhecida pela equipe do laboratório. Além disso, esse tipo de molusco costuma habitar regiões de baía, justamente o local onde está a maioria dos pescadores. Por fim, a Pteria colymbus se caracteriza por se fixar naturalmente nas estruturas da maricultura, facilitando o acesso a novas sementes.

O Laboratório de Moluscos Marinhos também está desenvolvendo um trabalho de rastreamento de sementes de ostras. Através desse programa é possível acompanhar desde a origem genética da semente até o seu destino, por produtor e por área de produção. A equipe do laboratório espera que, através desse mapeamento, possíveis perdas de qualidade possam ser verificadas e que com isso ocorra melhorias na produtividade.

O LMM e o Prêmio Finep

O Laboratório de Moluscos Marinhos (LMM) da UFSC foi o vencedor do Prêmio Finep de Inovação Tecnológica 2005, na categoria Inovação Social. O projeto apresentado pela equipe do laboratório para concorrer ao prêmio mostra que as atividades desenvolvidas pela universidade e o repasse desse conhecimento para pescadores artesanais estão na base do crescimento da maricultura no estado de Santa Catarina.

Inscrito com o título "Cultivo de Moluscos: Uma Revolução Social no Litoral Catarinense", o projeto descreve como o trabalho da universidade resultou em benefícios sociais e ambientais.

Importância social

A transferência do trabalho desenvolvido no laboratório para os pescadores possibilitou o restabelecimento das atividades marítimas tradicionais, que passavam por um período de estagnação econômica devido ao declínio da pesca artesanal. Muitos pescadores deixavam de trabalhar no mar, por causa da baixa lucratividade, para se dedicar a outras atividades.

Depois da valorização da produção de moluscos, essa situação foi revertida. Atualmente até os filhos dos pescadores aprendem a atividade através de uma formação técnica e deixam de abandonar as comunidades pesqueiras. Hoje já são mais de mil maricultores, reunidos em 20 associações em todo o Estado.

Várias regiões foram beneficiadas pelo crescimento do cultivo de moluscos, como o Ribeirão da Ilha. O local se transformou no maior produtor de ostras do Brasil e, impulsionado pelos restaurantes que têm os moluscos como principal prato do cardápio, consolidou-se como um importante pólo turístico da cidade.

Além disso, o desenvolvimento da maricultura beneficiou a implantação e o crescimento de novos setores da economia, como fabricantes de insumos e de equipamento para cultivo.

Importância ambiental

O meio ambiente também foi favorecido pelo aumento do cultivo da ostra, espécie que exige locais apropriados para desenvolvimento. Como a atividade deve ser desenvolvida em locais com boa qualidade de água, há uma maior conscientização por parte dos produtores, que passaram a se comprometer com a limpeza do ambiente.

Além disso, o molusco concentra material particulado presente na água e cria nichos ambientais, serve de sistema para auxiliar na remoção do excesso de matéria orgânica dos ambientes e de local para desenvolvimento de grande quantidade de fauna acompanhante (aquela que se desenvolvem junto às espécies cultivadas). Assim, é comum nos locais de cultivo voltarem os camarões, os siris e os peixes, que podem novamente fazer parte das atividades de pesca dos pescadores artesanais locais.

O projeto

No Laboratório de Moluscos Marinhos da UFSC, são desenvolvidas diversas etapas essenciais para o cultivo de ostras em Santa Catarina. Entre elas, o estoque de reprodutores, a fecundação, a indução para desova e a produção de larvas que depois se transformam nas sementes de ostras que são repassadas aos pescadores.

Esse trabalho, desenvolvido pelo LMM é fundamental porque o principal tipo de ostra comercializada e consumida no estado e já difundida para vários outros locais do Brasil é a japonesa, espécie que se adaptou bem às condições do mar catarinense.

Além da ostra japonesa, o LMM trabalha com três espécies nativas: a ostra de mangue, a Vieira e o mexilhão. No caso da ostra japonesa, o cultivo da semente em laboratório permite maior controle da produção, que é feita de acordo com a demanda.de moluscos por parte de produtores.

Em 1997, o LMM tinha capacidade de entregar aos produtores cerca de 400 mil sementes por mês. Hoje esse número passou para 5 milhões. Atualmente, com as tecnologias desenvolvidas, o laboratório repassa ao setor produtivo aproximadamente 40 milhões de sementes no ano, com capacidade atual de triplicar essa produção, caso haja demanda e programa a entrega às necessidades e demandas do produtor por épocas e quantidades.

Além da própria equipe do LMM, o trabalho conta com a parceria da EPAGRI e desperta a participação de vários outros setores da UFSC.

O trabalho associado ao cultivo de moluscos envolve profissionais de mais de 20 departamentos da universidade.


Data: 18/07/2006