Reunião Anual da SBPC: A vez das energias alternativas Problemas como a alta do petróleo e a crise do gás natural entre Brasil e Bolívia abrem espaço para a discussão sobre o uso de outras fontes, como a energia solar Tema considerado cada vez mais prioritário no mundo, a energia esteve em pauta nesta segunda-feira, em Florianópolis, no simpósio Políticas estratégicas para aproveitamento e geração de energia no Brasil Luiz Pinguelli Rosa, coordenador da Pós-graduação de Planejamento Energético e do Instituto Virtual da Coppe/UFRJ e Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudança Climática, insiste na necessidade de se repensar a estratégia energética brasileira. O setor tem sido afetado por problemas geopolíticos e econômicos, como o crescimento da demanda de energia da China, problemas como a crise do gás natural entre Brasil e Bolívia e a crescente alta do preço do petróleo. "Embora haja muitas incertezas, a tendência mundial futura é de preço alto do petróleo e poderá haver crise, dada a instabilidade geopolítica mundial";, avalia Pinguelli. A recente investida de Israel contra o Líbano, por exemplo, já se reflete em aumento do preço do barril. Além disso, a nacionalização da exploração de petróleo e gás promovida em maio pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, agravou a situação. A dependência do gás boliviano chega a 50% do consumo nacional. Como alternativas, Pinguelli aponta a expansão da produção nacional e a importação de outro países, como o Peru e a Venezuela, ou mesmo de fora do continente. Mas, para isso, as opções seriam o transporte de gás natural liquefeito (GNL) por navios metaneiros ou a construção de novo gasoduto, o que requereria investimento significativo. Pinguelli criticou a postura do governo Lula frente à questão energética. A seu ver, o país sofre com a falta de uma política para o setor firme e clara, com investimento constante. "Quando era presidente da Eletrobrás, estava a frente de uma empresa de geração de energia e queriam que estivesse a frente da geração do superávit primário", criticou. Energia solar Para Sergio Colle, do Laboratório de Engenharia de Processos e Tecnologia de Energia (Lepten) do Depto. de Engenharia Mecânica da UFSC, uma alternativa seria investir na energia solar e eólica como fontes complementares da matriz energética do país. Ele apresentou a experiência realizada com aquecedores solares integrados a chuveiros elétricos de 90 famílias do Condomínio Residencial Solar Buona Vita, em Florianópolis. Os resultados obtidos mostram que, mesmo numa região de baixa incidência solar, o pico de demanda de energia foi reduzido em 60% na média mensal. Para ser uma alternativa viável, no entanto, seria preciso desenvolver novas tecnologias de energia solar no Brasil. Segundo o engenheiro, os equipamentos utilizados no país baseiam-se em desenhos copiados de primitivas concepções de coletores solares e sistemas. Além disso, os processos de fabricação são geralmente rudimentares, com absorção crescente de tecnologias de fabricação de coletores largamente utilizadas na Europa, China, Israel, Austrália e EUA. Entraves Sergio Colle criticou a falta de interação entre os institutos de pesquisa e o MCT no planejamento de políticas de C&T para o setor. "Isto é uma anomalia. Os agentes de governo dos países desenvolvidos interagem com a comunidade científica na formulação das políticas", disse. Outro problema apontado por Colle refere-se ao financiamento dos projetos de P&D com recursos do fundo setorial de energia, o CT-Energ. "Diferentemente dos projetos de pesquisa em rede nos países desenvolvidos, esses fundos não contemplam diretamente a formação de recursos humanos de pós-graduação, cujo fomento de bolsas fica dependente da oferta universal centralizada do CNPq e Capes", disse. A formação de recursos humanos especializados aparece como outro gargalo do setor. Segundo Colle, o volume de engenheiros formados atualmente é suficiente apenas para prover a demanda das instituições de ensino, não para o setor produtivo. "É contrastante a relativamente alta produção de doutores em medicina e educação, num país em que os serviços públicos de saúde são deploráveis e a educação básica é das piores do mundo. Por outro lado, cai o valor agregado nas exportações brasileiras, tanto quanto a competitividade no mercado global, também por falta de desenvolvimento tecnológico", apontou o engenheiro. Data: 18/07/2006 |