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Reunião Anual da SBPC: déficit de atenção e hiperatividade são temas em debate

Hiperatividade, impulsividade e desatenção são características que aparecem com certa freqüência em um grande número de crianças e, na maioria das vezes, isso deve ser considerado natural dentro do desenvolvimento de cada

No entanto, muitas vezes essas características ultrapassam os limites da normalidade e devem receber maior atenção. Isso porque esses são sintomas de um distúrbio que pouca gente conhece, mas chega a atingir cerca de 5% das crianças em idade escolar, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

O assunto foi apresentado em um livro da psiquiatra Ana Beatriz Silva, com o sugestivo nome "Mentes Inquietas", e ajuda a entender melhor as pessoas que são injustamente rotuladas de rebeldes, enroladas, preguiçosas, desligadas ou irresponsáveis. As causas e os efeitos desse distúrbio, bem como o comportamento das pessoas afetadas pelo TDAH serão discutidos durante a 58a Reunião da SBPC. Uma mesa-redonda vai reunir os professores da UFSC, Reinaldo N. Takahashi e Flávio Vicente, e a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ester Nakamura-Palacios.

O TDAH é uma doença que de difícil diagnóstico e pode ser causado tanto por fatores genéticos como sociais. Normalmente aparece em crianças e se instala definitivamente antes dos sete anos de idade.

Antigamente, acreditava-se que o transtorno diminuía durante a adolescência, chegando a desaparecer quando atingida a fase adulta, mas hoje já se sabe que isso não acontece. Cerca de 65% das crianças com TDAH atingem a idade adulta com os mesmo sintomas, e a falta de diagnóstico e tratamento corretos gera grandes prejuízos na vida profissional, social e afetiva.

Uma pessoa com TDAH tem dificuldade em assistir uma palestra, ler um livro ou fazer qualquer outra atividade sem se dispersar. Comete erros por falta de atenção aos detalhes e faz várias coisas ao mesmo tempo, deixando várias tarefas pela metade. A impulsividade domina seu comportamento, e por isso ela fala e faz o que lhe vem na cabeça sem pensar se é adequado ou não. Costuma ser compulsivo, impaciente, irritadiço e com alterações constante de humor.

Esse tipo de transtorno é caracterizado por uma falha na captação do neurotransmissor dopamina pelos neurônios. Em uma pessoa normal, a dopamina é liberada por um neurônio com o intuito de estimular outro.

Após esse processo ela volta ao neurônio original, em um ciclo ininterrupto. No cérebro de quem sofre com o transtorno esse processo acontece mais rapidamente e, consequentemente, a dopamina tem pouco tempo para ativar os neurônios vizinhos.

O tratamento pode ser feito com medicamentos e também com terapias, quando os sintomas não são graves e não atrapalham tanto a rotina do paciente. O remédio mais utilizado pelos médicos para tratar o TDAH é o Metilfenidato, uma substância psicoestimulante, princípio ativo do medicamento Ritalina. Esse composto químico bloqueia a recaptação da dopamina, e com isso ela fica por mais tempo disponível entre os neurônios, aumentando suas chances de ser absorvida por algum deles e diminuindo os sintomas do transtorno.

A mesa-redonda

Um dos trabalhos que será apresentado na mesa-redonda mostra as vantagens do uso de animais espontaneamente hipertensos, os ratos SHR em particular, como modelos experimentais nos estudos sobre TDAH. Eles possuem um sistema nervoso mais simples, comportamentos de fácil interpretação e homogeneidade genética, o que beneficia o desenvolvimento de pesquisas sobre esse tipo de distúrbio.

Nesse estudo foram feitas avaliações do comportamento dos animais depois de receberem diferentes tipos de tratamentos.

Em um deles, os ratos SHR foram medicados com Metilfenidato e, a partir daí observou-se que, quando comparados com os ratos considerados normais, os que eram hipertensos apresentaram maior locomoção em ambientes novos e maior consumo de sacarina e álcool. No entanto não foi constatada nenhuma alteração comportamental entre esses ratos com hipertensão espontânea.

Um segundo tratamento eliminou o uso de qualquer medicamento e priorizou a utilização de diferentes tipos de ambientes durante o período de desenvolvimento do animal. Alguns foram criados dentro de ambientes considerados enriquecidos, contendo túneis, escadas e rodas, e outros cresceram em lugares onde esses objetos não foram colocados, os chamados ambientes padrões.

Ao final do experimento verificou-se que desempenho dos animais melhorou significativamente pela exposição ao ambiente enriquecido. Isso permite dizer que os tratamentos feitos a base de medicamentos nem sempre são os mais confiáveis, e que abordagens não farmacológicas, como o enriquecimento ambiental, por exemplo, pode ser mais significativo que o uso de Metilfenidato.

Esse medicamento também faz parte de outro estudo que será apresentado durante a mesa-redonda. Na pesquisa em questão, buscou-se verificar as possíveis alterações em diferentes funções cognitivas de crianças e adolescentes com TDAH a partir do tratamento com metilfenidato. Antes do início do tratamento, a comparação entre o grupo formado por pessoas que possuem o distúrbio e o de indivíduos que não têm o transtorno demonstrou que o primeiro apresentava déficits nas habilidades de leitura, escrita e aritmética e comprometimento das memórias de curto e longo prazo e da operacional. O tratamento com Metilfenidato reverteu vários desses déficits funcionais, como por exemplo, o da memória operacional e da memória de curto e longo prazo.

Com isso, os pesquisadores concluíram que avaliação neuropsicológica dessas funções se mostrou extremamente útil, tanto no auxílio do diagnóstico do TDAH quanto na avaliação da eficácia do medicamento farmacológico utilizado para o tratamento do distúrbio.

A mesa-redonda será realizada na terça-feira 18/7, a partir de 16h, na sala EEL 004 - Bloco A térreo do Centro Tecnológico.


Data: 17/07/2006