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Política de cotas é vitória para negros, diz Lula

Presidente ressaltou ações de sua gestão para reduzir a desigualdade

Ao abrir ontem em Salvador a 2ª Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu a existência de um difícil debate nacional em torno do Estatuto da Igualdade Racial, afirmando em seguida que ele é bom e fruto de um direito conquistado.

A uma platéia de 2 mil pessoas de várias partes do mundo, militantes do movimento negro e chefes de Estado de nações africanas, Lula afirmou que seu governo iniciou projetos com a intenção de reduzir a desigualdade.

"Todos nós temos uma dívida a pagar", afirmou. "Aqui no Brasil criamos a Secretaria Especial da Igualdade Racial, com o papel de ministro de Estado, para criar possibilidades de termos alguns avanços, o que, muitas vezes, não acontece com a facilidade que gostaríamos."

Lula citou o programa Universidade para Todos (ProUni) como exemplo de ações que funcionaram. Lembrou que, dos 203 mil alunos selecionados para bolsas nas universidades, 63 mil são afrodescendentes, porque o programa reserva parte das vagas para essa população.

Ao falar sobre o debate em torno dos dois projetos de lei que tramitam no Congresso, tratando de cotas raciais em universidades, no serviço público e em empresas que prestam serviços ao governo federal, o presidente afirmou: "A possibilidade de polemizar sobre essas questões não é uma coisa ruim, é uma conquista que os negros tiveram".

Lula evitou entrar em detalhes sobre a polêmica. Voltou a defender sua política de aproximação econômica com a África. "O Brasil vai continuar tendo forte prioridade na sua relação com o continente africano."

O encontro em Salvador reúne intelectuais africanos e da chamada diáspora, que engloba os países que receberam escravos africanos. O primeiro encontro foi no Senegal, em 2004.

Além do discurso de boas-vindas, Lula falou na primeira mesa da conferência, sobre o futuro da África e dos países da diáspora. Bastante aplaudido, ao chegar ao auditório ele teve direito a uma claque, que entoou o Lula-lá de velhas campanhas.

Mais tarde, ele se reuniu com um grupo de 20 pessoas, entre parlamentares negros, intelectuais que assinaram o manifesto a favor das cotas raciais, entregue na semana passada no Congresso, e militantes do movimento negro.

Diante deles e da ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, assegurou que o governo vai continuar defendendo o Projeto de Lei 73/99, que estabelece cotas para negros e índios nas universidades.

Confusão

Escolhido para sediar a Ciad pelo fato de concentrar a maior população negra no mundo fora da África, o Brasil deixou a desejar na organização do evento. Entre outros problemas, o acesso ao auditório da cerimônia de abertura era difícil, com apenas dois elevadores, o que provocou enormes filas.

No início da manhã, enquanto Lula recebia em audiência o presidente de Botsuana, Festus Mogae, o chefe do cerimonial do Itamaraty, embaixador Ruy Casaes, lavava xícaras e copos, porque o pessoal que deveria servir água e café não tinha chegado.

No discurso da abertura o presidente gastou pouco mais de três minutos. Perdeu mais tempo tentando ajudar a resolver o problema da tradução simultânea.

Logo depois dos cumprimentos aos presentes, Lula foi obrigado a parar, porque o sistema não estava funcionando. Ele acabou ajudando os tradutores a fazer os ajustes.

Governo tenta evitar descompasso entre ministros

Depois que o ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, surpreendeu sua colega Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial, com o anúncio de que o Executivo preferia investir mais em cotas sociais do que nas cotas raciais, o governo tenta afinar seu discurso.

Em encontro no Planalto, com a presença de Matilde, Tarso e Fernando Haddad, da Educação, ficou acertado que o governo dará ênfase às cotas sociais, mas com a soma das cotas raciais - como já tinha definido em 2004.

Por outro lado, também combinaram que agora os esforços serão concentrados na aprovação do Projeto de Lei 73/99, que trata de cotas em universidades e que o Executivo ajudou a preparar.

Quanto ao Estatuto da Igualdade Racial, que saiu do Congresso e trata a questão de maneira mais abrangente, o governo insistirá que está aberto ao diálogo.


Data: 13/07/2006