topo_cabecalho
Nova fábrica de biofármacos reduz gasto de importação

Só com a produção de um fator de coagulação sanguínea será possível economizar R$ 120 milhões

Ao inaugurar o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares ontem, o Brasil deu um importante passo rumo ao desenvolvimento tecnológico em saúde e à redução do gasto anual de R$ 1,5 bilhão em importação de biofármacos.

A unidade, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), vai permitir a produção, no País, de hemoderivados como os fatores de coagulação sanguínea usados em hemofílicos, que hoje representam uma despesa anual de R$ 120 milhões.

Também vai sair da bancada do laboratório uma nova tecnologia para a fabricação de vacina contra febre amarela. O primeiro biofármaco com tecnologia 100% nacional deve ficar pronto em três anos, segundo estimativa da Coppe.

Com 150 metros quadrados e equipamentos equivalentes aos encontrados nas indústrias farmacêuticas, o laboratório, cuja construção o Estado adiantou há dois anos, custou cerca de R$ 2 milhões, sendo R$ 1,5 milhão da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

"É uma questão de nos tornarmos soberanos também na área de biofármacos. Considero que o País vai conseguir uma grande economia, já que investiu R$ 1,5 milhão em um laboratório que vai permitir a redução de gastos com medicamentos excepcionais, para tratar doenças como aids e câncer, por exemplo, que hoje fazem os governos federal e estadual gastarem R$ 1,5 bilhão", declarou a coordenadora do laboratório, Leda Castilho, professora da Coppe.

Segundo ela, a infra-estrutura da unidade vai permitir que os pesquisadores deixem uma molécula pronta para a etapa de testes in vivo, ou seja, em animais e humanos.

Além disso, ressalta Vera, metade do laboratório é constituído de uma área classificada, ou seja, em condições muito especiais para permitir a produção de medicamentos por meio da biotecnologia, com modernos sistemas de purificação.

"Com isso, vamos poder produzir biofármacos com qualidade e deixarmos prontos para serem usados nos ensaios clínicos.

É uma etapa crucial. Poucos laboratórios no mundo podem fazer isso”. De acordo com a Coppe, atualmente, apenas dez países produzem biofármacos em escala industrial.

O laboratório vai produzir derivados do sangue e vacinas, entre outros biofármacos, por meio de células cultivadas em ambiente controlado e, posteriormente, purificadas.

No caso dos hemoderivados como os fatores de coagulação, a técnica tradicional usa plasma humano, menos segura do que a usada no laboratório.

"O plasma humano pode estar contaminado com agentes infecciosos, por isso o recombinamento é mais seguro. No começo das infecções por HIV, por exemplo, muitos hemofílicos morreram porque ninguém conhecia ainda o vírus da aids.

A mesma coisa pode acontecer novamente", disse a pesquisadora. Além da segurança, a produção nacional pode evitar que o País reviva a vergonhosa Máfia do Sangue, que desviou, em um período de dez anos, mais de R$ 2 bilhões em compras superfaturadas de hemoderivados feitas pelo Ministério da Saúde.

Rapidez e segurança

Somado ao desenvolvimento do fator de coagulação IX e do fator estimulante de colônias de granulócitos - usado no tratamento da deficiência de glóbulos brancos -, o laboratório, junto com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vai produzir a vacina contra a febre amarela por meio de um método mais rápido e mais seguro do que o tradicional, ressaltou a pesquisadora.

Atualmente, o imunizante é produzido a partir de embriões de galinha, que são inoculados com o vírus atenuado da febre amarela. O novo processo vai usar células de hamster chinês da linhagem Vero.

Certificadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), elas já são usadas em alguns países para a produção de vacinas contra a poliomielite, a gripe e a raiva. "A gente vai usar a célula do hamster, infectada com o vírus inativado da febre amarela, para produzir o biofármaco.

O uso da proteína recombinante permite que a vacina tenha uma pureza de 99,9%. A vacina atual é muito eficaz, e segura, mas tem uma pureza bem inferior", explicou Leda, acrescentando que a rapidez na produção é importante, pois permite maior agilidade em casos de epidemia.

Considerando a gripe aviária, outro ponto fundamental na nova tecnologia é a possibilidade de dispensar o uso de embriões de galinha. Vera ressaltou que, no Brasil, existe apenas uma granja certificada para fornecer o material, situada em Uberlândia.


Data: 11/07/2006