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Cérebro se reativa depois de 19 anos

Neurônios se 'esticaram' e refizeram conexões após lesão

Um homem que estava praticamente inconsciente por quase 20 anos recobrou a fala e os movimentos. A recuperação ocorreu à medida que seu cérebro espontaneamente desenvolvia novas conexões nervosas para repor aquelas rompidas num acidente de carro.

Terry Wallis, um cidadão de Arkansas, EUA, com 42 anos de idade, é considerado a única pessoa do país a recuperar-se tão dramaticamente tanto tempo depois de uma lesão cerebral. Os detalhes sobre o caso foram publicados ontem no Journal of Clinical Investigation.

Embora o progresso de Wallis seja intrigante, médicos afirmam que não se pode esperar o mesmo fenômeno de pessoas em persistente estado vegetativo. E admitem também não saber como induzir um paciente com lesões menos graves a uma recuperação como a obtida por Wallis, três anos atrás.

"É como ganhar na loteria", disse Ross Zafonte, chefe de reabilitação do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. "Não quero entusiasmar familiares que podem pensar que agora temos uma cura." O estudo sobre Wallis foi conduzido por Henning Voss e Nicholas Schiff na Universidade Cornell, com colegas da Centro Médico JFK.

Wallis tinha 19 anos quando um acidente automobilístico causou uma lesão traumática do cérebro. Ele ficou um breve período em coma e depois sobreviveu num estado de consciência mínima, em que estava desperto mas incapaz de se comunicar, exceto por acenos e gemidos ocasionais.

Lento cabeamento

"As fibras nervosas das células foram atingidas, mas as células em si permaneceram intactas", explica James Bernat, neurologista do Centro Médico Dartmouth-Hitchcock.

As células nervosas podem formar novas conexões - nervos dos braços e das pernas podem crescer 2,5 centímetros por mês após uma lesão -, mas isso é muito menos freqüente no cérebro.

A nova pesquisa mostra que, em vez de uma melhora repentina, na realidade a recuperação de Wallis demorou duas décadas, à medida que os nervos do cérebro formavam novas conexões a um ritmo imperceptível, até que houvesse, novamente, um cabeamento capaz de conectar uma rede completa.

Técnicas avançadas de registro de imagens do cérebro detectaram os estágios finais desse processo. "Montamos um mapa de como as conexões estão funcionando", explicou Schiff.

O mapeamento foi comparado ao de outro paciente que sofreu lesão cerebral em um acidente aos 18 anos de idade e está há seis anos inconsciente.

Também havia evidências de alterações nas conexões nervosas, mas elas não eram organizadas a ponto de fazer diferença em suas habilidades funcionais.


Data: 04/07/2006