Irã elogia proposta nuclear do grupo das seis potências Teerã diz que espera avançar em negociação, mas cita ambigüidades no plano; Oferta inclui incentivos, caso país islâmico suspenda seu programa atômico, mas prevê imposição de sanções, caso resposta seja negativa No que pode representar um avanço do impasse nuclear envolvendo o Irã, o principal negociador do país para a questão, Ali Larijani, destacou ontem "pontos positivos" na proposta dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e da Alemanha para que seu país suspenda o enriquecimento de urânio. Afirmou, no entanto, ainda haver "ambigüidades" a esclarecer. Larijani recebeu o documento, em Teerã, das mãos do chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana. Seu conteúdo não foi revelado. Sabe-se, no entanto, que ele contém estímulos e punições, dependendo da resposta do regime islâmico. Os signatários da proposta -EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha- tentam desde o final de abril, sem êxito, negociar um projeto de resolução pelo qual o Conselho de Segurança evocaria sanções econômicas contra o Irã. O impasse diplomático levou Paris, Londres e Berlim a suspender a negociação com Teerã após três anos de debate. Há algumas semanas, retomaram a discussão, com aval de Washington. Já Rússia e China, que se opunham a sanções imediatas, aceitaram a nova etapa. Enriquecer urânio não é uma atividade vetada pelo Tratado de Não-Proliferação, do qual o Irã é signatário. Mas informações incompletas que o país forneceu à AIEA (agência atômica da ONU) e a existência de um programa paralelo de enriquecimento de urânio tiraram a credibilidade da afirmação, reiterada pelos iranianos, de que seu programa tem como fim a produção de eletricidade. "Esperamos que, após estudarmos a proposta, possamos promover novos encontros e chegar a uma conclusão lógica e equilibrada", disse Larijani. O chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki, conversou por 25 minutos, ao telefone, com seu colega japonês, Taro Aso. Comprometeu-se a "estudar seriamente" o documento que Solana lhe entregou. Solana, por sua vez, disse que "a proposta está na mesa" e espera receber uma resposta positiva e benéfica para todos. O presidente dos EUA, George W. Bush, considerou "positiva" a reação inicial do Irã à proposta de negociação. "Veremos se os iranianos levam nossa proposta a sério. São eles que devem tomar a decisão", disse Bush, em Laredo, no Texas, onde promovia o projeto de reforma nas leis de imigração. Medidas Em Washington, diplomatas citados pela Associated Press disseram que uma das sanções em estudo seria o decreto de um embargo internacional sobre a venda de armas ao Irã. Caso o regime islâmico aceite cessar o enriquecimento de urânio, no entanto, os EUA aceitariam fornecer tecnologia nuclear ao país, com o qual não mantém relações diplomáticas desde 1979. Segundo o "New York Times", entre os incentivos estaria a promessa de fornecer ao Irã peças sobressalentes de aeronaves Boeing e Airbus. A chanceler alemã, Angela Merkel, exortou Teerã a aceitar a proposta ocidental. Ela conversou por telefone com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e disse que o objetivo dos dois governantes era levar Teerã à mesa de negociações. O presidente francês Jacques Chirac, que encontrou Merkel em Berlim, disse esperar que os iranianos cumpram seus compromissos com a AIEA. Para o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, é preciso dar tempo ao Irã para analisar a proposta. O processo, disse, "está num estágio muito sensível", e é preciso sigilo para evitar que seja objeto de controvérsias públicas. Data: 07/06/2006 |