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Paulista faz "nariz" de laboratório

Proteína descoberta por grupo da USP melhora técnica usada para mapear moléculas do olfato humano. Criadora da nova técnica trabalhou com ganhadora do Prêmio Nobel; método ajudará a associar cheiros com receptores celulares

Uma técnica criada por pesquisadores do Instituto da Química da USP deve permitir o mapeamento preciso das moléculas envolvidas no olfato, um sentido ainda misterioso e cuja tentativa de decifração já rendeu até um Prêmio Nobel. Os cientistas desenvolveram um método para tornar células de cultura em laboratório mais sensíveis aos odorantes, substâncias que carregam cheiros.

A nova ferramenta foi elaborada pelo grupo da bioquímica Bettina Malnic, ex-orientanda da ganhadora do Nobel de Medicina de 2004, Linda Buck. Ela deve ajudar a cobrir uma lacuna de conhecimento sobre o olfato, que permanece inexplorada por falta de técnicas in vitro.

Humanos possuem 388 tipos de de receptores de olfato ("fechaduras" químicas nas células do nariz), que combinados produzem uma diversidade de cerca de 10 mil odores. O problema é que a função de 90% dessas moléculas é desconhecida.

"Apenas cerca de 30 receptores foram mapeados", disse Malnic. A dificuldade é que, nas células cultivadas em laboratório, os receptores não são produzidos em boa quantidade.

A receita para criar células de nariz eficientes em laboratório foi o uso da proteína Ric-8B, que promove a ativação dos receptores. Malnic desenvolveu a técnica primeiro em receptores de camundongo, e agora deve começar a mapear alguns receptores humanos. Ela descreve sua técnica na edição de hoje da revista "PNAS".

A Ric-8B existe naturalmente nos neurônios olfatórios, mas tem um papel biológico ainda desconhecido. "Achamos que ela aumenta a sensibilidade dos neurônios, amplificando a via de transmissão de sinais entre eles", diz Malnic.

Para um laboratório pequeno, pode ser difícil determinar quais combinações de odorantes e receptores geram os cerca de 10 mil cheiros que humanos são capazes de sentir. "Mas existem companhias de biotecnologia interessadas em ferramentas para fazer essas correlações", afirma Malnic.

"Queremos descobrir quais receptores são mais conservados entre espécies ao longo da evolução, e que ligantes eles reconhecem", diz. É provável que receptores compartilhados por muitos animais tenham funções importantes.


Data: 30/05/2006