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Artigo - Tempo de tristeza e de portas fechadas

Hiran de Melo

 

Fiquei sabendo, recentemente, que um para cada cinco brasileiros sofre de depressão. Sou um dos uns. Prefiro chamar a tal coisa de tristeza. Assim fica mais fácil combatê-la sem apelar para drogas. No passado curei todas as decaídas em depressão me jogando de cabeça no trabalho. Trabalhava até a exaustão. Não dava tempo para pensar no que me deixava triste, dormia de cansaço. Afastava a tristeza quando estava desperto. Embora, ao dormir ela viesse habitar os meus sonhos ou pesadelos. Com o tempo os pesadelos se cansavam e as sombras se dissipavam com o despertar do Sol.

 

Hoje não dá mais para apelar para este caminho. Falta motivação e falta energia suficiente para trabalhar até a exaustão. Então, resta-me a esperança que seja possível curar a tristeza com a alegria. A alegria encontrada nas coisas e nas pessoas que possuam a capacidade de fazer aflorar um contentamento, um sorriso.

 

Nas coisas, acredito que seja nas bicicletas que encontrarei alegria; pois existe uma relação antiga de encantamento, desde minha adolescência, com elas. Atualmente, são chamadas de bike (como não tenho forças para reagir, nem a tenacidade de um Ariano, “aceito” tal denominação).

 

Aprecio muito ficar paquerando uma “bike”, ir diversas vezes as lojas especializadas somente para vê-las, até encontrar uma que seja irresistível. Ai, não tem jeito, tenho que adquiri-la. É que os estudiosos da religiosidade humana chamam de encontro com o numinoso.

 

Com as pessoas não é assim. Não tenho nenhuma vontade de paquerar de verdade... o tempo passou. Estou na idade de ser paquerado. Se não agrado a ninguém, que eu fique sozinho. Pois sou, em essência, como cantava a menina que pôs melodia nos versos meus.

 

Encontrei o teu olhar

Doidinho

Paquerando eu

 

Logo senti

Meu coração

Já era teu

 

Chorei agradecido

Convertido

Pelo cheiro teu.

 

Cheiro trazido

Pelo Sopro divino

Que do nada tudo

Fez e faz meu.

 

Cheiro trazido

Pelo Sopro divino

Que do nada tudo

Fez e faz eu.

 

Nada há acrescentar ou a mal dizer. Apenas agradecer a vida que o Altíssimo me deu e a oportunidade de conhecê-la por inteira.

 

 

Hiran de Melo é professor aposentado da UFCG


Data: 25/05/2018