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Cientistas cidadãos - Plataformas online reúnem dados e fotos de amadores

Por meio de aplicativos, colaboradores ajudam cientistas em projetos que vão do inventário das aves no mundo até o mapeamento de animais atropelados nas estradas brasileiras

 

Se para a ciência a participação dos cidadãos é cada vez mais fundamental - e mais viável, graças à internet e aos recursos digitais -, para os cidadãos a experiência de participar de um projeto científico real é considerada extremamente gratificante e apaixonante.

 

Colaborador frequente da plataforma de E-Bird, que reúne registros de cidadãos cientistas sobre a abundância e distribuição de aves em todo o planeta, o músico Francisco Falcon registra aves desde 2009. "É muito emocionante saber que acabamos contribuindo para o conhecimento, com informações que até então a ciência não tinha", disse Falcon. Os dados da plataforma são utilizados por cientistas de todo o mundo.

 

Contrabaixista profissional em Niterói (RJ), Falcon começou a se interessar por aves na infância, mas nos últimos anos passou a fotografá-las e a entrar em contato com ornitólogos e grupos de observação de pássaros.

 

"Aí comecei a perceber que há muito mais aves do que imaginamos. Comecei a observar principalmente na minha casa, na área verde que tenho no quintal. Só ali já registrei 64 espécies diferentes. No ano passado, em Búzios, descobri uma ave migratória que até agora não havia sido registrada no estado do Rio", contou.

 

Para estimular a formação de novos cientistas cidadãos como Falcon, a Ong SAVE-Brasil criou o projeto Cidadão Cientista. Segundo a coordenadora do projeto, Karlla Barbosa, a iniciativa se baseia em convocar grupos de interessados para jornadas de 24 horas de observação em parques e unidades de conservação. Os dados também são enviados à plataforma E-Bird.

"Esse tipo de projeto é importante não penas porque contribui com a ciência, fornecendo dados para monitoramento e pesquisas, mas principalmente porque envolve o participante, que percebe a importância da conservação", explicou Karlla.

 

Depois da jornada de observação, os participantes são orientados a registrar as espécies com todos os dados, incluindo fotos e sons. Um grupo de monitores, ornitólogos profissionais, faz a verificação dos dados. "Cada encontro tem a participação de cerca de 50 pessoas, que ficam fascinadas com a atividade. Um dia não precisarão mais da nossa presença, vão monitorar as aves espontaneamente, disse Karlla.

 

Atropelamento de animais. Outro projeto de ciência cidadã que tem grande interesse dos participantes é a Plataforma Urubu, que mapeia atropelamentos de animais nas estradas brasileiras. Segundo o coordenador da plataforma, Alex Bager, do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, na Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais),

 

Há três anos, os usuários, que já chegam a 20 mil, usam o aplicativo do projeto para registrar animais mortos em  1,7 milhão de quilômetros de estradas existentes no Brasil. "Acreditamos que hoje a Plataforma Urubu é a maior rede de ciência cidadã da América Latina. Os usuários enviam as fotos e nós temos 800 pesquisadores que ajudam a identificá-las. Já temos cerca de 25 mil registros", disse Bager.

Segundo ele, um dos grandes problemas de ciência cidadã é a qualificação dos dados. "Nós resvolvemos isso no nosso sistema, onde cada foto é avaliada no pelo menos cinco especialistas diferentes.

Número astronômico. Trabalhando com ecologia de estradas há mais de 20 anos, em 2012 Bager fez uma análise para estimar a quantidade de animais atropelados anualmente. Ele chegou ao número astronômico de 475 milhões de vertebrados selvagens mortos a cada ano nas estradas.

 

"Não seria possível monitorar tanta estrada - e tantos atropelamentos - apenas com cientistas. Era preciso criar uma ferramenta que usasse a contribuição da população. Quando os dados são integrados no nosso mapa, é possível identificar quais são os locais onde há alta mortalidade de determinada espécie. Isso é depois usado pelos gestores públicos para planejar passagens, túneis ou passarelas nos locais críticos."

Segundo Bager, não é possível sabe quantos animais o sistema já salvou. "Nós atuamos em em políticas públicas, o que desencadeia um processo em cascata cujo alcance é difícil de medir. Mas já atuamos com mais de 20 Unidades de Conservação. Agora estamos renovando o preojto e já há mais de 200 unidades interessadas em adotar o protocolo que usamos e em adotar o Sistema Urubu como ferramenta de planejamento", afirmou.

 

Uma das usuárias mais assíduas da plataforma é Elaine Marin, de 42 anos, que se dedica a competições de moutain bike em São José do Rio Pardo, no interior paulista.

 

"Pedalo muito pelas estradas, entre as cidades da região, e frequentemente encontro animais atropelados. Meu filho é biólogo e me mostrou a Plataforma Urubu.Quando acesso o aplicativo, mesmo sem internet, ele liga o GPS automaticamente. Quando chego em casa, envio a foto ao sistema e ele já registra o local exato. Para mim é uma coisa muito gratificante poder ajudar. Tenho muito orgulho", disse Elaine.

 

(Estadão)


Data: 04/04/2017