topo_cabecalho
Artigo - Choque elétrico

Benedito Antonio Luciano*

 

Desde os tempos primevos, os seres vivos estão submetidos aos fenômenos naturais relacionados com a eletricidade e, dentre eles, as descargas atmosféricas, causadoras de muitas mortes e desastres ambientais.

 

No início, antes de o ser humano evoluir cientificamente, o fenômeno das descargas atmosféricas, seguido de raios e trovões, assim como os seus efeitos, alguns devastadores e fatais, era atribuído à ira dos deuses.

 

Entretanto, com o desenvolvimento científico nos campos da eletricidade e do magnetismo, o que antes era visto como uma manifestação sobrenatural passou a ser compreendido como algo que poderia ser reproduzido pelo homem, em laboratório.

 

Foi desta forma que, partindo das leis físicas básicas que regem o eletromagnetismo, as primeiras redes de energia elétrica e linhas telegráficas foram implantadas, evoluindo para os sistemas atuais, com toda a sua complexidade operacional, benefícios e riscos a eles associados, dentre os quais o choque elétrico.

 

O choque elétrico pode ser definido como o efeito patofisiológico resultante da passagem de um fluxo de cargas elétricas, conhecido como corrente elétrica, pelo corpo de uma pessoa ou de um animal. O choque elétrico é, portanto, a reação do organismo à passagem da corrente elétrica pelo corpo.

 

Cientificamente, sabe-se que as atividades biológicas, seja ela neuronal ou muscular, por exemplo, são originadas por impulsos gerados por correntes elétricas internas.  Entretanto, caso uma corrente elétrica externa, devido a um contato direto ou indireto com partes energizadas, venha se somar aos impulsos elétricos do corpo, ocorrerá alteração nas funções vitais do organismo de tal forma que, dependendo de certos fatores, pode levar o indivíduo à morte.

 

E dentre esses fatores destacam-se: o percurso da corrente elétrica pelo corpo; a intensidade da corrente elétrica; o tempo de exposição ao choque elétrico; o tipo de corrente elétrica (contínua ou alternada); a frequência da corrente elétrica; o nível de tensão; as condições da pele e a quantidade de água no organismo do indivíduo.

 

Como consequência do choque elétrico, as principais perturbações por ele causadas nos animais e seres humanos são: inibição dos centros nervosos, inclusive daqueles responsáveis pela respiração, podendo causar parada respiratória; alteração no ritmo cardíaco, causadora da fibrilação ventricular e uma consequente parada cardíaca; queimaduras, produzindo necrose do tecido; alterações no sangue provocadas por efeitos térmicos e eletrolíticos, tetanização e alterações no sistema nervoso.

 

Adicionalmente, sempre é bom lembrar que todo choque elétrico, mesmo de pequena intensidade, é potencialmente perigoso. Por exemplo, se no ambiente de um centro cirúrgico um pequeno choque elétrico atingir o médico ou o paciente durante uma intervenção, isto pode causar contrações involuntárias e movimentos bruscos com consequências imprevisíveis.

 

Em algumas situações, o choque elétrico é o acidente primário. Mas, as sequelas realmente sérias decorrem dos acidentes secundários originados do choque, como a queda de uma escada ou de estruturas elevadas.

 

Neste contexto, a compreensão do fenômeno do choque elétrico e, sobretudo, dos seus efeitos causados por ele sobre o corpo de seres humanos e animais se reveste de grande importância para a efetiva prevenção de acidentes e sinistros.

 

Face ao exposto, considero de extrema importância a introdução do tema, desde cedo, na formação de eletrotécnicos, médicos, engenheiros eletricistas e especialistas em segurança do trabalho. E vou além, dado à sua relevância, considero que este assunto deveria ser amplamente apresentado e discutido por especialistas nas escolas e nos meios de comunicação social.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 16/11/2016