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Professor Solon de Medeiros Filho (in memoriam)

Benedito Antonio Luciano*

 

 Nascido em Patos – PB, em 1934, o professor Solon de Medeiros Filho recebeu o título de engenheiro eletricista pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, em 1960. De 1961 a 1990 ele exerceu a função de professor de Medidas Elétricas da UFPE. De 1961 a 1997 atuou como engenheiro da Companhia Energética de Pernambuco – CELPE, onde foi Chefe da Divisão de Medição, tendo estagiado em empresas de eletricidade no exterior: França, Suíça e Hungria.

 

Meu último encontro com o professor Solon de Medeiros Filho se deu entre os dias 7 e 10 de outubro de 2008, em meio à programação do XVIII Seminário de Distribuição de Energia Elétrica – SENDI, evento realizado em Olinda – PE, quando foi prestada uma homenagem justa ao professor Solon, mestre imbatível na arte das medidas elétricas, em seus aspectos teóricos e práticos.

 

Essa homenagem ocorreu no dia 9, no Chevrolet Hall, antes do jantar-show com apresentação ao vivo da cantora paraibana Elba Ramalho.

 

Na oportunidade, diante de uma plateia de cerca de duas mil pessoas, o homenageado apresentou uma aula-espetáculo.

 

Dotado de uma memória incrível e uma didática impecável, o professor Solon, exibia um fino senso de humor, mesmo quando tratava de assuntos sérios, como o risco de morte ocasionado por imperícia no exercício da função de engenheiro eletricista, ele sempre tinha um “causo” para contar; e a cada relato, a cada “causo” contado, risos e aplausos da plateia.

 

Um dos “causos” hilários envolvendo o professor Solon não foi contado por ele e sim por um ex-aluno dele no curso de Engenharia Elétrica da UFPE, em Recife. Segundo o ex-aluno, a turma dele resolveu pregar uma peça, amarrando um jumento na entrada da sala de aula e aguardando, escondidos, fora da sala de aula, para ver qual seria a reação do professor.

 

Ao perceber a armação dos alunos, o professor Solon se dirigiu ao jumento:

-“Bom dia, senhor jumento!”

E entrou na sala de aula vazia.

Depois, ao sair, dirigiu-se, novamente ao jumento e, em voz alta, disse:

- “Até a próxima aula, senhor jumento!”

Na aula seguinte, ele entrou na sala e como se nada tivesse acontecido, dirigiu-se sorridente aos alunos:

- “Bom dia, senhores alunos!”

E foi distribuindo as folhas de papel com a prova para os alunos que, surpresos, perguntaram:

- “Professor, quando o senhor marcou essa prova?”

Com tranquilidade e sorridente, o grande mestre falou:

- “Na aula passada. Deixei o recado com um colega de vocês. Por acaso, ele se esqueceu de lhes comunicar?”

 

Certamente, os que foram alunos do professor Solon devem guardar na memória muitos “causos” para contar. Na maioria deles, piadas que só fazem sentido para quem cursou disciplinas da área de eletrotécnica em cursos de graduação em engenharia elétrica. 

 

Finalizando a citada aula-espetáculo, o professor Solon revelou que mantinha um arquivo, “guardado a sete chaves”, com todas as notas dos mil, seiscentos e setenta e nove alunos que por ele passaram. Sem citar nomes, leu algumas das respostas hilárias às questões formuladas nas provas orais e escritas por ele formuladas.

 

Exercitando a memória, ele contou que começou a dar aulas ainda no ginásio, quando ajudava os colegas que tinham dificuldades em matemática. A partir daí, tomou gosto por lecionar e dividiu o seu tempo nos anos do científico e nos cursos de graduação (engenharia elétrica e matemática), com aulas particulares. “Minha paixão sempre foi a engenharia. Eu fiz matemática como opção, já que dava aula há muito tempo”, recordava o mestre que, na oportunidade, aos setenta e quatro anos, esbanjava vitalidade.

Concluindo, na fala de agradecimentos, ele não conteve a emoção: “É muito gratificante ser reconhecido. Sinto-me útil sabendo que os livros que escrevi ajudaram tanta gente a aprender”.

 

Autor de seis livros: “Fundamentos de Medidas Elétricas”, “Medição de Energia Elétrica”, “Problemas de Eletricidade”, “Uma Família do Sertão Paraibano”, “Estórias do meu tempo” e “Outras Estórias”, o professor Solon faleceu em sua residência, em Olinda – PE, na manhã do dia 20 de outubro de 2016.

Ao professor Solon de Medeiros Filho, todo o meu apreço e saudosa lembrança.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 27/10/2016