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Artigo - Grãos de esperança

Benedito Antonio Luciano*

 

Foi lançado no dia 25 de agosto de 2016, na Academia Paraibana de Letras, em João Pessoa, o primeiro livro literário de Wilson Guerreiro Pinheiro, tendo como título “Grãos de esperança: 300 haicais guilhermianos”.

 

Natural de Corumbá, Mato Grosso do Sul, Wilson Guerreiro Pinheiro foi um dos engenheiros eletricistas formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA, que escolheu a cidade de Campina Grande, Paraíba, para iniciar a sua carreira profissional, em 1971, como professor do curso de Engenharia Elétrica na Universidade Federal da Paraíba - UFPB, atual Universidade Federal de Campina Grande - UFCG.

 

Depois de obter o título de Mestre em Engenharia Elétrica pela UFPB, em 1973, o professor Guerreiro obteve os títulos de “Master of Science” e de “Doctor of Philosophy” em Eletrônica pela Universidade de Southampton, Inglaterra, em 1975 e 1979, respectivamente.

 

No convívio profissional com o professor Guerreiro, no Departamento de Engenharia Elétrica da UFPB, entre 1979 e 1999, firmamos uma sólida amizade, compartilhando os nossos interesses comuns nos campos da engenharia elétrica, da literatura e da música, pois compusemos um chorinho, com letra minha e melodia dele.

 

Tendo se aposentado em 1999, Guerreiro mudou-se de Campina Grande para João Pessoa, onde aprofundou os estudos musicais em cursos de composição, harmonia e instrumentos com professores renomados, dentre os quais Eli-Eri Moura, Marco César de Oliveira Filho, J. Orlando Alves e Liduino Pitombeira, tornando-se membro do Laboratório de Composição Musical da UFPB e dedicando-se à produção de peças sonoras para teatro e vídeo, com destaque para a composição “Circunfluências II”, para orquestra sinfônica.

 

Voltando ao livro de estreia do professor Guerreiro, além do título muito bem escolhido, há no subtítulo uma pista sobre o conteúdo: “300 haicais guilhermianos”. O haicai é um tipo de poesia minimalista de origem japonesa, composta de três versos de 5, 7 e 5 sílabas, nesta ordem.

 

No caso do poeta paulista Guilherme de Almeida, ele assumiu para si rimas do primeiro com o terceiro verso, tendo no segundo verso rimas internas na segunda e na sétima sílaba. Por exemplo, no haicai número trezentos do “Grãos de esperança”: “Co’o arado criança/ a terra sulca, onde enterra/um grão de esperança”.

 

Antes de ler os haicais do professor Guerreiro, o primeiro contato que tive com esse tipo de poesia foi lendo Millôr Fernandes, no jornal “O Pasquim” e na revista “Veja”. Lembro, também de ter lido alguns haicais do curitibano Paulo Leminski.

 

Sendo de origem sertaneja, não deixei de perceber nos haicais de Guerreiro termos e palavras que denotam íntimo conhecimento dos elementos da natureza e dos sentimentos do povo nordestino brasileiro: “Um cacto do chão/floresce mal entardece/no estéril sertão.” // “Perto do lajeiro,/os braços ergue ao espaço/um verde facheiro.” // “Morre lento o gado/bovino, ovino e caprino/no sertão estiado.” // “No bruto sertão,/carcaças e mais carcaças/dispersas no chão.” // “Pro homem do sertão,/saúva e gota de chuva/preveem a salvação.” // são alguns exemplos.

Para além da base técnica e do conteúdo pertinentes, destacam-se nos haicais de Guerreiro fortes influências de sua formação acadêmica e musical: concisão, objetividade, ritmo, sonoridade e, sobretudo, o domínio estético da palavra nos sentidos conotativos e denotativos.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 02/09/2016