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Artigo - Tudo de mim

Hiran de Melo*

 

Hoje pela manhã ouvi uma canção em inglês e, mesmo nessa língua, pude sentir que o poeta foi maravilhoso. Tanto o poeta que criou a letra, como o que fez a melodia e o que canta. Não sei se esses três estão em uma mesma pessoa ou se em várias. O fato é que o meu dia ficou bem melhor.

 

Depois fiquei sabendo que a canção tem como título 'All of me' e quem cantava era John Legend, música que faz parte do álbum Love in The Future, lançado em 2013. Gostei por demais da poesia contida na letra, na voz e na melodia. Gostei tanto que vou cometer uma temeridade, comentar a letra. Não toda a poesia lá contida, mas recortes do tudo de mim.

 

"My head’s under water 

But I’m breathing fine 

You’re crazy and I’m out of my mind". 

 

Veja, que beleza! Quando alguém está com a cabeça submergida na água, pressupõe-se que haja dificuldades em respirar, ou mesmo que não exista respiração. Mas, o poeta informa que respira bem.

 

Não é dito, todavia suponho que ele assim o faz sem ter a natureza dos anfíbios e sem ajuda de aparelhos respiratórios. Tanto é assim que ele se encontra fora de si. Ao mesmo tempo em que a sua bem amada está louca.

 

Penso que o poeta descreve um encontro com o numinoso; que sem retirá-lo do mundo o coloca em um novo estado de consciência, no qual para descrevê-lo faz uso de imagens fora do mundo natural. Segue-se, então, a revelação própria dos homens que amam.

 

"Cause all of me 

Loves all of you 

Love your curves and all your edges 

All your perfect imperfections".

 

O poeta que ama, ama a companheira do jeito que ela é. E, para não deixar dúvidas, anuncia que tudo nele, ama tudo nela. Ama na forma mais concreta do amor, ama o corpo, as curvas e os contornos do mesmo, os seus limites. E caso este corpo, o que é o caso mais provável, não se enquadre no modelo de perfeição imposto pelos especialistas em beleza dos outros, ele vê este não enquadramento como perfeitas imperfeições.

 

Penso que o poeta anuncia que a bem amada é única e só pode ser amada na sua inteireza. Nisso há um convite para você, amado leitor, não procurar na sua companheira o padrão de beleza imposto ou proposto pela moda vigente. Ou qualquer outro padrão. Não busque padrão de beleza, acolha a beleza única existente na sua companheira, de modo que ela seja a sua bem amada para sempre.

 

Depois o poeta se volta para uma relação de amor denominada pelos antigos como Plileo. Uma relação amorosa em que ele espera alguma coisa em troca e da mesma dimensão da que ele oferece. Não alguma coisa vaga. Ele oferece tudo de si na espera de receber tudo da companheira. Provavelmente não vai acontecer, mas é uma espera boa, que pode se converter, com o tempo, em uma esperança realizável.

 

"Give your all to me 

I’ll give my all to you 

You’re my end and my beginning 

Even when I lose I’m winning 

Cause I give you all, all of me 

And you give me all, all of you." 

 

Destaquei apenas estes versos, mais a letra como um todo é muito boa, é maravilhosa, é bela. Deixo com você um link para apreciar melhor a canção em um dueto de piano e violino.

 

Link: https://www.youtube.com/watch?v=Spe6113csjU

 

*O autor é professor da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 27/11/2015