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Artigo - O adágio da prova de fogo

Hiran de Melo*

 

Você que vem de um relacionamento duradouro se pergunta: "eu vivo um grande amor?" Interessante que, ao tentar se responder, você mesmo define um critério: "saberei a resposta definitiva na prova de fogo".

 

O adágio da prova de fogo informa que só se sabe se alguém ama, quando este estiver diante de um problema capaz de provocar uma ruptura definitiva no relacionamento que se apresentava, até então, como estável. Classificado no Livro da Face como sério.

 

Quantas vezes somos a prova de fogo de outra pessoa?

 

E se somos pelo menos uma vez, como profetiza o adágio, não o somos por acaso. Há de existir uma quebra de premissas garantidoras da estabilidade anunciada.

 

Se as premissas são de obediência é porque no relacionamento há uma dependência de um pelo outro. O dependente obedece. E, quando deixa de fazê-lo, a ruptura se apresenta como solução... então, a prova de fogo se realiza.

 

Se as premissas são de observação da inteireza do outro, não há espaço  para se falar em obediência à vontade do outro. Mas, sim, em respeito para com as opiniões e as atitudes do mesmo. Este é um relacionamento de aliança entre soberanos; não de submissão do escravo ao mestre.

 

Pode se perguntar, em face da Prova de Fogo, se somos parte da chama viva que veio para ficar. A chama que arde, ilumina, mas não queima.

 

Que nome você daria a esta chama?

 

Refiro-me a Chama que lhe chama pelo nome, no aguardo da realização do adágio: "Um amor tão puro que ainda nem sabe a força que tem. É teu e de mais ninguém."

 

Disse você isso a alguém que acreditou e, então, depois você partiu?

 

Adágios são verdades atemporais, que a gente verbaliza antes de sentir e que se apresentam como nossas verdades eternas. Redundante, pois se é verdade, já é para sempre. E se são eternas, são divinas. Não são nossas.

 

Mas, no humano, diferentemente no divino, a vida se manifesta na temporalidade de "tudo passa". Assim sendo, a vida se dá na passagem.

 

Como ensina Francisco - o santo - na morte da vida velha, o nascimento da vida nova. Nesta cadeia de mortes e nascimentos, de rupturas, é que se encontra a Vida Eterna.

 

As passagens se dão, também, nas superações dos obstáculos - na presença da pedra no meio do caminho,  anunciada no poema - propiciando ao casal a consolidação do relacionamento. Agora, cada vez mais seguro e respeitoso. Nestes casos, vale o canto do poeta: "amor da minha vida, até a eternidade".

 

É possível que ajam outras alternativas. Entretanto, creio, fora da Chama que move o ser, nada pode ser feito pelos terapeutas do corpo ou da alma.

 

* Hiran de Melo é professor da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 04/11/2015