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Artigo - Enem 2015: com ressaca e redação a corrigir antes do juízo final

João Tertuliano*

 

No primeiro dia do Enem 2015 me sentia em festa aos 62 de idade. Em casa, ao ver que acertei 78% das questões de Ciências Humanas no primeiro dia, e ao ler comentários de professores da área, credito meu relativo e modesto sucesso em Ciências Humanas às oportunidades havidas para estudar Epistemologia na Faculdade de Educação da USP no mestrado em Ensino de Ciências nos idos de 1990.

 

Assim, durante três das quatro horas de exame desobrigado, havia considerado as desafiadoras questões de Ciências Humanas um tanto confusas, e encarei a parte de Ciências da Natureza como faço palavras cruzadas, acertei apenas 42% das questões. A rigidez do exame impedindo rasuras, proibindo consultas, e sem dicas nos rodapés - adoráveis mimos - realçou a pouca intimidade que desfruto com a Química, e uma ignorância quase absoluta em Biologia, disciplina inexistente no Ensino Médio em minha juventude no Científico de Exatas dos anos 1970. Saí sem o caderno no dia de estréia, mas vi equívocos também em Física onerando a minha falta de empenho.

 

As questões de matemática do segundo dia - algo estressantes pra mim - couberam nos cantinhos em branco da diagramação da prova, acertei 55% delas a favor da preguiça comum à vaidosa idade [_ http://www.ufcg.edu.br/prt_ufcg/assessoria_imprensa/mostra_noticia.php?codigo=15493 ].

 

No segundo dia tivemos deliciosas e clássicas prosas de Ferreira Gullar e Fernando Bonassi, versos consagrados de Olavo Bilac, Cecília Meireles e Manoel Bandeira. Estivemos também na companhia contemporânea de José Paulo Paes e Cacaso, arrodeado de odes nostálgicas de Viaro e Lygia Fagundes Telles, contemplando Gastão Viana homenagear Pinxiguinha, e revivendo dores de cotovelo com Chico Buarque, Toquinho e Vinicius. E lá se foram-se cinco horas e meia de prova, seiscentos enternecidos minutos.

 

Assim, para bem longe da ranzinzice de Raul Pompéia e Graciliano Ramos, embarquei na doçura amarga de Luís  Gonzaga e Humberto Teixeira em Assum Preto. Cravei 70 % de acertos em Linguagens, e míseros 20 % de opções corretas na parte de Língua Estrangeira. Havia enxergado as cinco páginas de rascunho do caderno rosa como rascunhos para a redação polêmica. O resultado será divulgado em janeiro de 2016, no juízo final.

 

*João Tertuliano é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 03/11/2015