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Artigo - O exercício da moralidade na Câmara

Wagner Braga Batista*

 

Para resguardar a moralidade na Câmara, a Sra Cristiane Brasil, filha do célebre Roberto Jefferson ( denunciou o Mensalão porque estavam lhe pagando pouco) e atual líder do PTB, apresentou projeto de lei proibindo o uso de decote no parlamento. Ainda pouco se sabe sobre restrições ao uso de cores de batom, de cédulas de propina e do mimetismo de camaleões, que transitam pelo plenário.

 

Certamente, subdeputados da bancada de Eduardo Cunha, exultaram. Os 120 integrantes da bala, que querem restabelecer a porrada em parlamentares do sexo feminino, restaurar a indústria de cartuchos e assegurar humanos direitos de assassinar à luz do dia, na Praça da Sé, saudaram esta iniciativa moralizadora.

Os reis da bola celebraram a moralização do tráfico, de jogadores de futebol, de votos em confederações, de resultados de partidas, de concessões para o marketing esportivo e da boca livre na corrupção da FIFA. Como não poderia deixar de ser, não mediram elogios à coibição de decotes.

 

Representantes do trabalho escravo aplaudiram a propositura parlamentar. Acionarão suas  milícias saneadoras, a proibição de biografias, os salubres agrotóxicos e transgênicos, bem como promoverão novas sangrias no meio rural para avalizar este propósito. Com única ressalva. Emenda aglutinativa, suprime, de vez, qualquer escrúpulo ético nas votações de interesse público.

 

Franquias da Biblia não ficaram para trás. De imediato propuseram regulamentar a propriedade intelectual sobre Jesus. Para não parecermos sacrílegos, convém informar que não se trata de uma licença poética. O Dr Eduardo Cunha detém direito exclusivo sobre publicidade e assuntos confessionais no site jesus.com, financiado com recursos provenientes de dízimos e de achaque. O pastor Maracutaia também se coçou. Em prol da moralidade mobilizou seus prosélitos para legalizar seus condomínios e concessões de venda de terrenos  no céu.

 

De soslaio, de mansinho, a moralidade bate às portas de ONGs e empresas que financiaram a eleição da Presidência da Câmara. Que colocaram nos ares os 21 jatinhos fretados, que levaram a mensagem da probidade e arrebanharam incondicional apoio de nefelibatas da mão na bufunfa à campanha de Eduardo Cunha.

 

A moralidade trouxe às tribunas filhotes de oligarquias, noviços que aspiram a gerencia de lojas no shopping no parlamento. Disputam lugar no mercado das grifes de suas famílias, das legendas no lupanar e de subdeputados, entregues à justa causa da desoneração da luxúria, do ódio, de calls centers, da imputabilidade de menores, do tráfico de influência, de nomeações  e da locação de mandatos por grandes empresas.

 

Por falar em locações moralizantes, esta semana, temos novidades. Após reajuste dos contratos, de R$ 1,9 milhão para R$ 2,3 milhões, todos 81 senadores receberão novos automóveis modelos Nissan Sentra zero quilômetro para revitalizar a frota da moralidade. É claro, com o reforço dos automóveis pagos para seus seguranças com recursos públicos.

 

A passos lentos, a moralidade chegou à Câmara dos Deputados.

 

Em Comissões temáticas e parlamentares de inquérito, lisura, transparência e portas abertas constituem ameaças para a moralidade reinante.. Prendem nas portas rabos da maior parte de seus membros. Os que ganharam propina no Petrolão, ora denunciam sua privatização. Os que vendiam cartas de alforria no Ministério do Trabalho, hoje dispensam suas marmitas e requentam grana de empresas no BNDES.

É preciso arrematar a moralidade. Preservar a boa aparência. Dizer em alto e bom tom: A tolerância foi varrida da Câmara.

 

Como toda regra tem exceções, a partir de agora, próteses, botox éticos e injeções de consciência serão admitidas apenas em partes pudendas. Cabelos implantados, somente no beiral das testas, onde faltam ideias. Fios de ouro na cútis, só entre homofóbicos.  Caninos esgarçados somente na arcada dos Dráculas do centro oeste. Anéis de safira, poderão ser usados como sinal  de respeito. Honrarão os capodecina do Rio de Janeiro.

 

Por fim uma advertência. Recomenda-se que a publicidade na TV Câmara, a compra de votos e de reeleição presidencial, lobbies passados, gravações telefônicas de privatizações das teles e automóveis de luxo sejam guardados fora de apartamentos funcionais e mansões do lago norte. Ou que sejam arquivados por Geraldo Brindeiro.

 

Em nome da moralidade, a partir de hoje, não serão tolerados decotes na Câmara.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 09/09/2015