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Artigo - Os chicletes na Câmara dos Deputados

Wagner Braga Batista*

 

Uma pequena nota da Folha de São Paulo (04 de agosto de 2015, URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/228365-painel.shtml)  fala sobre a imundície que impera no Congresso.

 

Reporta-se à limpeza, recentemente realizada na Câmara dos Deputados. Óbvio, não se trata de inexequível e necessária limpeza ética. De varredura na corrupção e nos achaques, tão comuns ultimamente no Legislativo e no Judiciário. De saneamento básico, que elimine bactérias, causadoras de cumplicidade, epidemia que se espalha em ambientes infectos.  De agentes patogênicos, que agridem nossa consciência, escondidos sob tapetes do Congresso.

 

Trata de faxina cosmética, rotineira. Para retirar residuais vícios menores e maus hábitos corriqueiros, que nada têm a ver com ritos parlamentares. Ou melhor, retificamos o que foi dito. Tornam-se partes integrantes do rital legislativo.

 

Faxineiras desregulamentadas, por mais que nos confunda esta polêmica e empenhadas no árduo trabalho, serão ineptas nesta limpeza. A bem dos imundos, deixarão digitais comprometedoras.

 

Desta turma da bala, algumas delas, sujas de sangue.  Não conseguirão varrer resíduos de ratos, cédulas com traços de cocaína, cheques sem fundo trazidos de lupanares, embalagens de favores, mal acondionados. Tampouco espanarão miúdos filhotes de pixulecos, colonias de maracutaias e milhares de acidentes no trabalho precário. Involuntariamente,  depositarão  em caçamba comum membros amputados de terceirizados,  fraldas sujas de calls centers, notas fiscais sonegadas, discursos comprados e processos engavetados por Geraldo Brindeiro. Misturados com hermenêuticas biblicas, votos imparciais de Gilmar Mendes, delações premiadas e sigilosas confissões, arrancadas entre quatro paredes, teremos o lixo dignificado por residuos provenientes de magnânimo congresso. Não há vestigios de garantias por serviços prestados, de cadáveres enterrados no plenário e da pletora de barbaridades,  que não têm lugar nesta honrosa casa.

 

Como se diz à boca miuda: delitos não passam recibo, nem atos comprometedores deixam vestígios. Sujeiras localizadas são descuidos. Imprecações ocasionais, de dois tipos. Envergonhadas, que se escondem, com justo receio. E descaradas. Que enchem o peito e são ostentadas como um trunfo, como se fossem motivos de orgulho. Entre achacadores tornam-se expressão de prestígio.

 

Apresentadas em ambientes reservados, com cenoplastia. Musicas épicas, Biblias no sovaco e pistola na cintura. São inseridas em  biografias, curriculos e cartão de visita. Gozam de imunidades. Sentem-se intimidatórias e ameaçadoras. São exibidas em lapelas e salões de festa. Tornam-se troféus, expostos ao lado de retratos familiares. Tornam-se simbolos de poder, acima de poderes constituídos.

 

Na Câmara, onde projetos de lei relevantes não colam, sujeira cola.

 

Não a  reles sujeira, a sujeira graúda, precedente em agendas e pautas de votação.

 

A sujeira grauda gruda,  torna-se proeminente e se dissemina em sessões e pautas bombas. Às claras e reservadamente. Tem algo em comum com o durex e os chicletes, é  aderente. Porém difere destes produtos que não aderem conscientemente.

 

A sujeira graúda gruda por vocação, predestinação e obséquio do direito original. É uma dádiva do livre arbitrio no exercicio de plutomandatos, de governos de coalização e da cooptação. Proporciona legitimidade ao aluguel de legendas de alugel, a partidos de ocasião, a paus mandados e pobres subdeputados, que se sacrificam como despachantes de empreiteiras e amanuenses de agências financeiras, para complementar seu reduzido salário. O sacrificio é da natureza do ofício.

 

Pois  bem na contabilidade da sujeira miuda localizada, foram creditados 142 chicletes, distribuidos pelos tapetes do plenário, e outros tantos,  retirados debaixo das mesas de votação.  É tudo verdade. Leiam a nota no prestimoso jornal paulistano.

 

Sexta-feira, um artigo, chama nossa atenção. Publicado no mesmo jornal, discorre sobre  imensa confraria e a extensão da sujeira: “Somos todos Câmara” ( URL: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/228638-somos-todos-camara.shtml)

 

Escrito por Eduardo Cunha, sugere unidade parlamentar para comprometer todo mundo com a sujeira.

 

Ai, cabe uma advertência. Nem todos integrantes da torcida apostam na desmedida sujeira. Há deputados oposicionistas e situacionistas- poucos, a bem da verdade- que não colam chicletes em baixo de mesas de votação. Sua integridade é incontestável.

 

Também, não podemos inferir que coladores de chicletes são hegemônicos na mais alta casa legislativa.

 

Tampouco que colar belotas, sob as mesas, é regra de conduta sancionada pelo parlamento. Se assim fosse, após a limpeza destas imundícies, inclitos parlamentares sentir-se-iam desfalcados de seus pertence.

 

 De pronto, redigiriam fundamentado  requerimento exigir verbas indenizatórias para reparar seus prejuízos.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição


Data: 10/08/2015