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Artigo - Setenta e oito rotações

Benedito Antonio Luciano*

 

Escrever fácil é muito difícil. Fácil é escrever de forma rebuscada para exibir uma suposta erudição. A arte de escrever bem, de dominar o ofício, de lapidar a palavra, não é algo que se consegue sem esforço. O aprimoramento é conseguido mediante muito exercício. O bom escritor necessariamente tem que ser um bom leitor. Ler é fundamental para quem pretende se comunicar, de forma clara e objetiva, por meio das palavras.

 

Um livro bem escrito prende o leitor logo nas primeiras páginas. É o caso do livro intitulado “78 Rotações”, de autoria do escritor paraibano Braulio Tavares. O título remete aos antigos discos de setenta e oito rotações por minuto ou 78 rpm, antecessores dos discos denominados LP (abreviatura de “Long Play”, em inglês) e dos atuais CD (abreviatura de “Compact Disc”, em inglês).

 

Para compor o livro foram selecionados textos publicados originalmente na coluna diária mantida por Braulio Tavares no Jornal da Paraíba, desde 2003. De acordo com o próprio autor, o uso do termo “crônicas” para descrever esses textos é uma simples generalização, pois alguns podem ser contos ou enquadrados em outros gêneros literários.     

 

Ao todo, são setenta e oito textos distribuídos ao longo de 167 páginas. Não sei se de forma proposital, os dois primeiros textos trazem como títulos: “A crônica” e “Uma crônica”.

 

Para quem, assim como eu, acompanha os escritos de Braulio Tavares, certamente há de perceber no livro “78 Rotações” as referências recorrentes ao escritor Jorge Luis Borges, ao compositor Bob Dylan, aos Beatles e aos cineastas Luis Buñuel e Federico Fellini.

 

Literatura, música e cinema fazem parte do universo brauliano. Desde o tempo em que Braulio morava em Campina Grande – PB, ele lidava com essas três artes. No Diário da Borborema, jornal impresso, ele escrevia sobre cinema. Nos bares frequentados pelos boêmios universitários era comum encontrarmos ele cantando algumas de suas composições, dentre elas a “Balada do andarilho Ramón” e as baladas de Trupizupe: o Raio da Silibrina.

 

No campo da literatura, Braulio é um autor eclético. Sua produção começou com a poesia popular, conhecida como cordel, com a obra “A pedra do meio dia, ou Artur e Isadora”, lançada, em Campina Grande, em 1979; seguida de “As baladas de Trupizupe” (Campina Grande, 1980); “Cabeça elétrica, coração acústico” (Olinda, 1981); “Balada do andarilho Ramón e outros textos” (Recife, 1980) e “Sai do meio, que lá vem filósofo” (Recife, 1982).

 

Depois, Braulio Tavares enveredou por outros gêneros: o ensaio com “O que é ficção científica” (Brasiliense, São Paulo, 1986), os contos e as narrativas em “A espinha dorsal da memória” (Lisboa, 1989), “Mundo fantasmo” (Rio de Janeiro, 1996, Lisboa, 1997), humor em “Como enlouquecer um homem: as mulheres contra-atacam” (Rio de Janeiro, 1994, São Paulo, 1997), o romance em “A máquina voadora” (Rio de Janeiro, 1994, Lisboa, 1997) e poesia em “O homem artificial” (Rio de Janeiro, 1999), só para citar algumas de suas obras.

 

Mas, voltando ao livro 78 Rotações, o que o leitor poderá encontrar além das crônicas são reflexões do autor sobre os mais variados assuntos, tais como: política, música, poesia popular brasileira, cinema, filosofia, história e aforismos, como por exemplo: “Se você jogar 100 sementes num roçado, e apenas uma delas brotar, você deve considerar isto uma vitória por 1x0, e não uma derrota por 99x1”.

 

* O autor é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 

As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 10/06/2015