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ARTIGO - 8 de Março, Dia Internacional da Mulher

Rosilene Dias Montenegro (*)

 

 

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. (Simone de Beauvoir)

 

Em 1975, a Organização das Nações Unidas – ONU decretou o 8 de março como Dia Internacional da Mulher, e década de 1975 a 1985 como a Década da Mulher. Esse decreto constituiu o reconhecimento da luta secular das mulheres por respeito a sua dignidade humana.

 

No período de acumulação de riquezas, a chamada acumulação primitiva de capital, ocorrido entre os séculos XVI e XVIII, as mulheres foram obrigadas pelas condições miseráveis em que vivam com suas famílias a trabalharem nas fábricas que surgiam e se multiplicavam. Período das grandes transformações econômicas que resultariam na Revolução Industrial. Momento histórico em que a exploração sobre os homens e mulheres trabalhadores alcançou os limiares da desumanidade. Os ambientes das fábricas eram extremamente insalubres, trabalhava-se 16 horas por dia, por salários escorchantes e sem qualquer direito.

 

Essas condições eram ainda piores para as mulheres, pois, além de trabalharem 16 horas por dia, recebiam um terço dos já miseráveis salários que recebiam os homens trabalhadores, e ainda eram vítimas de assédio moral, assédio sexual, e discriminadas por serem operárias.  

 

Nas primeiras décadas do século XIX surgem os movimentos operários e as greves por diminuição da jornada de trabalho para 10 horas e melhores salários. Esses movimentos eram marcados pela liderança e participação dos trabalhadores homens. As primeiras greves de mulheres trabalhadoras ocorrem a partir de metade do século XIX. Reivindicavam principalmente a redução da jornada de trabalho e salariais iguais para mesmas tarefas que os homens.

 

Esses movimentos ganharam cada vez mais força e conotação de consciência política de classe, e também de condição de gênero. Para isso contribuíram as ideias socialistas e a militância de pensadoras socialistas e ativistas que difundiam a possibilidade de um mundo melhor, com uma nova moral, igualdade, liberdade e justiça. Nesse novo mundo, em construção, as mulheres teriam sua dignidade de pessoa humana reconhecida. Isso passava pelas conquistas econômicas e pela participação na política, daí as lutas pelo direito das mulheres poderem votar.

 

As mulheres conquistaram com muita luta, sacrifício, determinação e coragem, o reconhecimento de sua dignidade como pessoa humana. Os direitos conquistados tem que continuar sendo reafirmados a cada dia, a cada instante, mas estão postos.

 

No Brasil, por exemplo, um das grandes conquistas é a Lei Maria da Penha. Estudos recentes constataram que diminuiu a violência contra a mulher após a Lei Maria da Penha, e mesmo assim o Brasil é o 8º pais do mundo onde mais se comete violência contra a mulher. Indicando que ainda são muitas as barreiras da discriminação e da violência contra as mulheres. Essas barreiras serão vencidas tão mais ampla seja a inclusão das mulheres nos postos de trabalho e posições políticas e culturais mais proeminentes.

 

Sem dúvida, é importante que a mídia e o comércio propaguem as especificidades da mulher, do gênero feminino, associando-as a iguais condições, habilidades e competências para as atividades até então predominantemente masculinas, e nem por isso sejam menos mães, filhas, esposas, ou menos femininas (se assim o desejarem).

 

Às mulheres anônimas trabalhadoras que tiveram coragem de iniciarem a luta por direitos e nos deixaram de legado a conquista do reconhecimento de nossa dignidade humana, desencadeando um capítulo da história da humanidade que ainda está sendo escrito, agradecemos sua bravura. A sociedade é mais humana depois delas.

 

À afirmação de Simone de Beauvoir: “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”, peço licença para acrescentar: é pelo trabalho e pela formação acadêmica e intelectual.

Felizes Dias das Mulheres.

 

(*) Rosilene Dias Montenegro  é professora da Graduação e do Mestrado em História da UFCG. Atualmente é Pró-Reitora de Pesquisa e Extensão da UFCG.

 

**As afirmações e conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta responsabilidade dos seus autores, não expressando necessariamente a opinião da instituição.


Data: 08/03/2015