topo_cabecalho
Pesquisadores e representações sociais se reúnem em Pré-Conferência das Nações Unidas para Combate à Desertificação


Pesquisadores e representantes da sociedade civil se reuniram nesta quarta (25) e quinta-feira (26), em Campina Grande (PB), para discutir, à luz do conhecimento científico, tecnológico, popular e as práticas tradicionais, estratégias de combate à desertificação, degradação das terras e convivência com a seca.

 

O “Seminário Nacional Combate à Desertificação, Degradação das Terras e Convivência com a Semiaridez para Redução da Pobreza e um Desenvolvimento Sustentável” é preparatório para a participação da delegação brasileira na 3a Conferência Científica Internacional da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), a ser realizada em Cancún, México, no período de 9 a 12 de março deste ano.

 

Um dos focos da participação do Brasil na UNCCD tem sido promover o diálogo entre sociedade civil, governos e instituições de pesquisa científica e tecnológica na busca de implementar boas práticas para convivência sustentável, de forma inclusiva, promovendo a segurança hídrica, alimentar e energética, com conservação da biodiversidade, contribuindo, desta forma, efetivamente para o combate à desertificação.

 

Durante a abertura do evento, que ocorreu na manhã desta quarta-feira, na sede do Insa, Francisco Barreto Campello, ponto focal do Brasil na UNCCD e diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (DCD/MMA) destacou que um dos diferenciais importantes da participação do Brasil na UNCCD é de sermos o único país que tem uma representação efetiva da sociedade civil dentro da Convenção. “As representações de outros países acontecem de forma isolada, por organizações sociais que participam da Convenção de forma individualizada. O Brasil tem uma postura diferente por adotar uma representação coletiva da sociedade civil. Hoje contamos com a Associação Semiárido Brasileiro (ASA), rede formada por mais de mil organizações sociais e atualmente credenciada pela Convenção”.

 

O Instituto Nacional do Semiárido (Insa/MCTI) é o correspondente científico do Brasil na Convenção. Na abertura o diretor Ignacio Hernán Salcedo ressaltou a importância do somatório dos conhecimentos científicos e empíricos para o combate à desertificação. “A ideia deste Seminário Nacional é promover o diálogo entre aqueles que estão do lado dos conhecimentos empíricos, dos conhecimentos locais, e aqueles que constroem os conhecimentos científicos, de forma a buscar uma realidade que permita uma convivência sadia com a condição semiárida, realidade perfeitamente possível de ser consolidada”.

Alternativas de adaptação

 

Uma das experiências desenvolvidas no Brasil que tem chamado atenção de outros países é uma pesquisa inédita desenvolvida pelo Insa e a ASA que acompanham a trajetória de vida de 100 famílias de agricultores e agricultoras familiares, distribuídas em 10 territórios dos nove estados do Semiárido brasileiro. O objetivo é identificar as estratégias ecológicas e sociais implementadas pelos agricultores e agricultoras que lhes têm possibilitado conviver e adaptar-se com impactos ambientais extremos, como a desertificação, as mudanças climáticas e os longos períodos de estiagem.

 

Francisco Campello enfatizou a importância de um trabalho da ciência direcionado efetivamente para as necessidades efetivas da população. “Essa experiência de pesquisa com os agricultores experimentadores que vem sendo desenvolvida no Brasil, voltada para o uso sustentável dos recursos naturais demonstra um esforço que vem sendo feito para que o trabalho de combate à desertificação seja um reflexo da forma de conviver adequadamente com o ambiente”, completou.

 

O representante da ASA, Paulo Pedro de Carvalho, destacou ações importantes que têm sido empreendidas no Brasil para valorizar as alternativas agroecológicas encontradas pelos agricultores para conviver com a região semiárida e o papel do Insa como correspondente científico do país na Convenção para colaborar com pesquisas, estudos e ações concretas para a convivência com o Semiárido. “Enquanto sociedade civil nosso entendimento é que estamos dando passos importantes no sentido da participação da sociedade civil. Nós sabemos que o Comitê de Ciência e Tecnologia da Convenção, embora reconheça essa participação da sociedade civil e a importância dos conhecimentos tradicionais, tem dificuldade de considerar os conhecimentos tradicionais da sociedade civil como ciência, ressaltou”.

 

Beranger Araújo, da Secretaria de Recursos Hídricos, Meio Ambiente e Ciência e Tecnologia (SERHMACT) da Paraíba e ponto focal técnico do Governo do Estado na Convenção, citou um programa específico de combate à desertificação implementado pelo Governo do Estado nas regiões do Seridó, Cariri e parte do Curimataú, com financiamento de 50 milhões de dólares do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida). Ele também ressaltou que o conceito de combate à desertificação é muito amplo e abrangente: “Se o Governo constrói adutoras, barragens, canais, estradas, escolas, rede de fibra óptica para dar acesso à informação e facilitar a vida das pessoas, se distribui ração para apoiar os agricultores na criação dos animais, se desenvolver estratégias de conservação da biodiversidade, está fazendo indiretamente uma ação de combate à desertificação”.

 

O evento preparatório também subsidiará a definição de iniciativas no Brasil alusivas ao Ano Internacional dos Solos (2015), cuja coordenação foi delegada à UNCCD e a FAO pela Assembleia Geral da ONU, para apoiar ações e projetos em prol da conservação e sustentabilidade do solo.

 

O encerramento acontece hoje à tarde com a elaboração de um documento estruturado com base nos conhecimentos compartilhados e nas diretrizes definidas durante o evento para subsidiar o posicionamento da delegação brasileira que participará da 3ª Conferência Científica da UNCCD. O documento final será apresentado na reunião com os membros da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD), prevista para acontecer dia 05 de março, em Brasília (DF).

 

A preparação das representações brasileiras atenderá a um dos principais desafios enfrentados pelos delegados à Conferência que é apresentar o desenvolvimento de conhecimentos inovadores e recomendações aos responsáveis pela formulação de políticas, em relação à avaliação da vulnerabilidade das terras e populações às mudanças climáticas e às atuais e futuras capacidades adaptativas.

 

(Ascom Insa)


Data: 26/02/2015