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PF cumpre 23 mandados em operação que investiga fraudes em concursos de universidades federais

Dois servidores do alto escalão da UFJF são afastados

 

A Polícia Federal investiga um esquema de fraude em concursos públicos para o ingresso em universidades federais de Minas Gerais e Brasília. A corporação cumpriu nesta terça-feira 23 mandados de busca em residências de suspeitos e prédios públicos em três cidades mineiras (Belo Horizonte, Juiz de Fora e Governador Valadares) e Distrito Federal, e afastou dois servidores do alto escalão da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), em Minas Gerais.

 

Segundo as investigações, iniciadas em maio deste ano, ao menos dois concursos públicos para o campus em Governador Valadares (MG), da UFJF, foram fraudados. A estrutura na cidade do Vale do Rio Doce entrou em operação no fim de 2012 e, por isso, foram contratados profissionais para preencher o quadro. Até o momento, a Polícia Federal já identificou 11 pessoas aprovadas através da fraudes.

 

- Temos três servidores de alto cargo da UFJF responsáveis pela maior parte das fraudes. Os indícios apontavam que as pessoas envolvidos fizeram as provas do concurso em um espaço de tempo muito curto, bem menor que o do restante dos candidatos. Além disso, não fizeram os cálculos necessários para a resolução dos problemas e obtiveram notas muito próximas do máximo. Uma delas chegou a tirar 119 em 120, enquanto o restante ficou muito abaixo disso - explica o delegado da PF responsável pelo caso, Cristiano Jomar Costa Campidelli.

 

O policial também afirmou que as pessoas aprovadas não tinham histórico em concursos e, ainda, apresentavam algum tipo de parentesco ou relação muito próxima com os servidores da UFJF apontados como responsáveis pelo esquema. Ao todo, são sete funcionários da UFJF, incluindo dois da Copese (Comissão Permanente de Seleção da UFJF), dois secretários e um ex-secretário de Governador Valadares.

 

Esquema nacional

 

Campidelli não descartou a possibilidade de um esquema envolvendo universidades federais de todo Brasil. Isso porque dois dos aprovados através da fraude são funcionários da Secretaria de Educação Superior, do Ministério da Educação. Eles passaram em junho deste ano para cargos no campus de Valadares e, em agosto, foram transferidos para a estrutura em Juiz de Fora.

 

Segundo a PF, os funcionários não chegaram a trabalhar em nenhuma das duas cidades - mas receberam durante o período o salário, que, sem benefícios, girava em torno de R$ 3 mil. Eles estavam, na verdade, aguardando uma transferência para a Universidade de Brasília (UnB), o que já estava previamente combinado com um dos servidores da UFJF.

 

- Duas pessoas que desejavam trabalhar na UnB, mas provavelmente não tinham competência, entraram na UFJF para ingressar na UnB. Isso está cristalino, não tem dúvida. Posso afirmar que em nenhum momento o objetivo dessas pessoas foi trabalhar em Juiz de Fora ou Valadares. Vai ser apurado (se existe um esquema maior), mas parece que é um mecanismo de ingresso para universidade - diz Campidelli.

 

Um dos esquemas investigados pela PF revelou crime de falsidade ideológica. Um dos envolvidos conseguiu uma declaração da própria UFJF de que tinha uma qualificação que ainda não possuía. O professor que assinou o documento foi um dos afastados pela PF.

 

Dos 11 aprovados pela fraude, dez passaram para diversos cargos (jornalista, assistente de administração etc.) do edital 12/2014 e um para cargo de auditor do edital 22/2014. Na operação desencadeada nesta terça-feira, batizada de "Password", a PF apreendeu mídias (como pen drive, CDs, laptops etc.) e documentos.

 

Por nota, a UFJF afirmou que está contribuindo com a investigação e que forneceu todos os documentos e informações solicitados. A assessoria esclareceu que, como as investigações ainda estão em curso, a universidade espera o fim dos trabalhos da polícia para se pronunciar em relação aos concursos públicos. Por fim, completou que "caso haja qualquer tipo de comprovação de irregularidade, a UFJF será a primeira interessada em efetivar os procedimentos adequados"

 

(O Globo)


Data: 22/10/2014