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ARTIGO - São João em Campina Grande

 Benedito Antonio Luciano *

 

Minhas lembranças mais remotas do São João em Campina Grande, Paraíba, se situam no início do decênio de 1960. Por esse tempo, a maioria das ruas dos bairros periféricos da cidade não era asfaltada e a tradição de acender fogueiras na frente das casas nos dias de Santo Antonio, São João e São Pedro era mantida.

 

No período junino, era comum ver casas enfeitadas com lanternas confeccionadas com papel colorido e bandeirolas coloridas. À noite, essas lanternas eram acesas e tudo ficava muito bonito.

Durante os principais festejos, era usual o consumo de quentão (bebida à base de cachaça, gengibre e canela) e comidas à base de milho (canjica, pamonha, mungunzá, bolo, milho assado e milho cozinhado). No céu, para além da fumaça das fogueiras, podiam ser vistos balões e fogos de artifício. Nas ruas, as noites frias e, às vezes, chuvosas do mês de junho eram aquecidas pelo calor humano e pelo calor das fogueiras.

 

Naquele tempo, adultos e crianças podiam se postar diante das fogueiras e conversar até tarde da noite, pois a bandidagem não tinha tomado conta das ruas. Nas comemorações de Santo Antonio, o santo casamenteiro, as moças faziam adivinhações para saber a letra do nome do rapaz com quem se casariam.  As comemorações de São João eram (e continuam sendo) o ponto alto das festas juninas. Na véspera e no dia de São Pedro, embora em menor quantidade, também eram acesas fogueiras e soltados fogos e balões.

 

Até meados do decênio de 1970, o forró autêntico, com sanfona, triângulo e zabumba, era a música executada e dançada pelos casais em ambientes suburbanos  decorados com bandeirolas no teto, folhas de eucalipto no chão e palhas de coqueiros nas portas e janelas. Em tudo refletia a resistência da cultura rural mantida no meio urbano.

 

Com o passar do tempo, como não poderia ser diferente, a cidade cresceu, veio o desenvolvimento e com ele as mudanças: as ruas foram asfaltadas, a violência afastou as pessoas da frente de suas casas, o forró autêntico foi se tornando eletrônico (o chamado forró de plástico), as fogueiras foram proibidas de serem acesas sobre o asfalto e os folguedos juninos foram perdendo a autenticidade e a liberdade das manifestações populares.

 

Mesmo assim, algumas manifestações populares resistiam em manter a tradição, como a realização de quadrilhas juninas no meio da rua. Foram essas quadrilhas que motivaram a criação, por parte da Prefeitura Municipal de Campina Grande, de um espaço público destinado às comemorações juninas. Esse espaço foi criado e denominado “Parque do Povo”. E foi assim que Campina Grande, “Rainha da Borborema”, se transformou na cidade do “Maior São João do Mundo”, pois são trinta dias de festas em diversos locais da cidade: no “Parque do Povo”, nos Clubes e nas Casas de Show.

Neste ano de 2014, em que se comemora os cento e cinquenta anos de Campina Grande, estima-se que, entre os dias 6 de junho e 6 de julho, cerca de dois milhões de pessoas passem pelo Parque do Povo para assistir às apresentações de artistas ligados à música popular nordestina e desfrutar da hospitalidade do povo campinense.

 

Votos que tudo transcorra em paz! Viva o São João de Campina Grande!        

               

Benedito Antonio Luciano é professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFCG.

 


Data: 20/06/2014