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Artigo - Design: Políticas Públicas como instrumentos de realização de direitos sociais - Parte V

Wagner Braga Batista

 

 

O desenho industrial ou design integrou-se à dinâmica da economia capitalista pela sua vertente irracionalista que estimula a produção de bens obsoletos e supérfluos, o consumo conspícuo, a obsolescência planejada, a descartabilidade, o desperdício e a deterioração da vida urbana e do meio ambiente.

 

Na atualidade, estes processos se viabilizam graças a alibis que remetem ao bem estar individual e à sustentabilidade.  Na prática, configuram a tentativa de gerenciar a irracionalidade da economia, de perpetuar a crise do capitalismo,  que impõe a inovação aparente, a chamada destruição criativa e a valorização de investimentos improdutivos. Por esta via, virtualidades da produção em série são desprezadas para assegurar a fabricação de bens supérfluos, substituir a padronização de produtos e componentes pela acentuada diversificação, que acelera a  perecibilidade de utensílios..

 

A produção em massa, capaz de contemplar relevantes demandas de grandes contingentes populacionais, sofre digressões. Manter-se-á centrada na personalização de produtos, que privilegia gostos individuais, em detrimento de necessidades  substantivas, passiveis de superação pelo uso de artefatos industrializados. A economia do desperdício desenha o cenário crítico e corrrosivo provocado pelo acúmulo de lixo industrial e pela degradação do meio ambiente, que ameaçam a estabilidade planetária, nossas condições de vida e de futuras gerações.

 

A produção supérflua, que atende a veleidades individuais, adquire  precedência na pauta economica em prejuízo da atenção a inadiáveis necessidades sociais.

 

Neste enquadramento, vaidades e a futilidades, induzidas por estratégias de marketing e fomentadas por modismos, ganham relevo. Convertem-se em  motrizes da economia do desperdício.

 

Valores simbólicos, utilizados para induzir a produção e o consumo de produtos supérfluos, são celebrados como bens intangíveis do patrimônio imaterial. Nesta acepção, estas deformidades apontadas e incorporadas como elementos integrantes da nossa cultura, são estimuladas por diretrizes culturais e patrocinadas com recursos destinados a políticas públicas, apesar de tangenciarem e desprezarem direitos sociais. Ao invés de viabilizarem sua realização, representam, isto sim, a degenerescência de direitos elementares de todo ser humano.

 

O desenho industrial ou design tem sido utilizado como instrumento de sutis modalidades de diferenciação, de discriminação e de exclusão social por meio da indução do consumo de bens conspícuos e supérfluos, dotados de artificiosos valores simbólicos. O atributo principal destes bens é denotar poder e prestigio pessoal, conferindo aparente ascendência social aos seus usuários. Instauram a mitologia dos idolos de pés de barro, exuberantes, opulentos, porém frágeis e sem sustentação. Reforçam a idolatria da aparência.

 

A busca da diferenciação social por meio do consumo de produtos conspicuos tem sido valorizada por estratégias publicitárias com enfase na diversificação de identidades. 

 

Por seu intermédio, o ethos humano e societário será degradado e substituído gradativamente por pulsões do mercado, pela artificiosa e enganosa imagem produzida por estratégias publicitárias. Necessidades serão sublimadas e preteridas pela compulsão de reproduzir esta imagem decalcada em padrões de vida inconsistentes. 

 

A diversificação induzida por estratégias econômicas se reproduz na enganosa diversificação proporcionada pelo consumo compulsivo, que tem como desdobramento a preservação da desigualdade social.

 

A cultura da diversificação impulsiona o culto às diferenças. Ocupa-se em  esconder a base sócioeconômica responsável pelas profundas desigualdades sociais mascaradas pela diversidade cultural. 

 

O reconhecimento da diversidade cultural deve ser acrescido de crescente e criterioso compromisso com a identificação da sua natureza. Das adversidades que transformam historicamente a cultura em expressão da árdua luta pela sobrevivencia.

 

O  reconhecimento da diversidade cultural suscita a necessidade de identificar as matrizes destas culturas. As causas e condições da diversidade cultural associadas a estruturas sócioeconomicas, que explicam marcantes iniquidades sociias.

 

Sob este prisma, as tentativas de espetacularização da cultura sofrem impactos, arranhões e se despojam de glamour. Revelam o cinismo, a indiferença e a falta de estofo dos promotores da cultura envernizada, beneficiária de linhas financiamentos público, abrigada na penumbra, atrás das luzes dos seus holofotes publicitários.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 30/04/2014