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Artigo - A velha onda, ressuscitada e pior

Hiran de Melo

  

Uma velha onda, tida como morta, se verdadeiro o fato que estava, ressuscitou no face. O carinha escreve uma tolice qualquer, uma frase. Achando o máximo resolve espalhar a "merda" pela rede. Para dá um caráter de algo de valor, muitas vezes, atribui a tal "frase genial" a alguém famoso, de preferência já morto.

 

Digo velha onda porque ela se fez presente, com muita força, no passado, até mesmo na época do nascimento do cristianismo. Quando os escritores dos evangelhos acharam por bem atribuir aos apóstolos mortos a autoria dos evangelhos. Neste caso, não se tratava de bobagem, mas de algo que iria mudar o mundo.

 

Na nova onda, a ressuscitada e pior, se trata tão somente de disseminar uma atitude de conformismo em face ao poder de um "saber" que se impõe exatamente por nada dizer de bom, de útil e glorioso.

 

Sugere, apenas, mil interpretações. Então, cada um faz o que dela achar melhor. Nisto tem algo em comum com os evangelhos; os leitores ou ouvintes de cada denominação, fazem deles o que desejam. Como todos nós sabemos, os 'textos sagrados' são abertos à imaginação do leitor e à vontade do pastor.

 

Na web há também os casos de não inventar frase alguma, mas de pegar uma frase solta de um escritor, e lançá-la sem nenhum comentário, sem nenhuma referência ao contexto no qual o escritor criou a tal frase. Ela fica solta, aberta a mil interpretações, um oráculo para satisfazer à preguiça de pensar de qualquer tolo.

 

Vejamos um exemplo de uma frase solta, divulgada em uma página do Facebook, de título Essência Maçônica.

 

"Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem algo".

 

A frase é atribuída a Oscar Wilde (1855-1900). No momento, não estou em condições de verificar a autenticidade de tal autoria. Assim não posso afirmar em que categoria esta frase se enquadra. Entretanto, o que importa é que se trata de divulgação de uma frase solta, sem comentário e sem contextualização.

 

Vamos admitir que ela seja da autoria do escritor irlandês autor de “O Retrato de Dorian Gray” e do qual dizem que "morou por um bom tempo em Londres, onde teve uma vida movimentada, regada aos prazeres da bebida, escrevendo poemas e textos dramatúrgicos". Portanto, se trata de um escritor e dramaturgo militante.

 

Diferente do tipo que vive isolado e voltado para a sua produção literária. Em geral, este tipo de escritor militante vive rodeado de amigos e inimigos. Portanto, seus escritos muitas vezes refletem as suas posições assumidas na luta.

 

Lendo esta frase, sem considerar para quem o Oscar Wilde a dirigiu, veremos uma contradição: se alguém critica já faz alguma coisa, criticar. Logo não estar entre os que não fazem nada. Portanto, temos uma frase sem sentido, nula por si só. Onde está a essência maçônica?

 

Por outro lado, considerando que o Oscar Wilde era um escritor militante, é possível que ele esteja se referindo aos que não fazem literatura, não escrevem livros, mas se dedicam a crítica literária.

 

Em particular, possivelmente, se dirigia aos críticos que não apreciaram de forma positiva o seu trabalho literário. Nesta hipótese, esta frase nada mais seria do que uma tentativa de desqualificar os oponentes. Onde está a essência maçônica?

 

Desqualificar o oponente é uma prática terrível, que em hipótese alguma se harmoniza com a divisa maçônica do cultivo da tolerância pelo diferente.

 

Assim como, também, tentar justificar o que se faz só pelo fato de fazer algo, afirmando que é melhor do que nada fazer, é um terrível vício combatido pela Ordem Maçônica.

 

Por exemplo, a frase poderia muito bem ser utilizada pelos corruptos que, em geral, acreditam que os não corruptos são todos aqueles que apenas, ainda, não chegaram ao poder. Basta colocar no lugar de "algo" a palavra "corrupção".


"Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar os que fazem corrupção".


Meus amados irmãos, o primeiro convite que a Maçonaria faz é desbastar a pedra bruta, que somos todos nós. Para tanto não basta apenas usar um avental. Pois, desbastar não é algo simples, fácil e maneiro, como copiar e colar. Ao contrário, é algo complexo, difícil e pesado. Portanto, não é para qualquer um, apenas para os verdadeiros iniciados.

 

 

Hiran de Melo é professor da UFCG


Data: 11/04/2014