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Artigo - A Universidade somos todos nós?

Hiran de Melo

 

Tenho escutado no meio universitário, por parte de alguns colegas que se dão ao trabalho, ou deleite, de refletir sobre o papel da universidade, que a nossa instituição se encontra sem rumo, sem bússola. E, em geral, apontam como causa a falta de lideranças acadêmicas cujas autoridades advenham da coerência nas tomadas de decisão, competência administrativa, conhecimento do caminho que a universidade precisa seguir e etc... não apenas dos cargos que ocupam.

 

Exatamente o contrário do que se ver em uma equipe de futebol de sucesso. Por exemplo, a Seleção Brasileira comandada por Luiz Escolari, campeã mundial em 2002. Naquela seleção a liderança do treinador foi tão evidente que ela foi batizada de Família Escolari. Havia ali o que se costuma dizer o exercício do poder vertical.

 

Na tomada de decisão vertical, um grupo, a equipe técnica, estuda e apresenta alternativas, cabendo ao líder decidir e a outro grupo executar. A execução é observada, orientada e corrigida, quando necessária, pelo líder da equipe, o seu treinador.

 

Na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) não é assim, nem de longe. Aqui vale a horizontalidade, a decisão vem dos "comandados" ou de um colegiado que os representa. Sendo que a origem deste  sistema de comando surgiu com a implantação do processo de escolha do dirigente máximo da instituição pelo voto direto dos que fazem a comunidade acadêmica. 

 

Esta horizontalidade não é exclusiva da UFCG. Hoje ela está presente em quase todas as escolas públicas de ensino. Penso que, na Paraíba, o marco histórico foi a eleição do prof. Antonio Sobrinho para o cargo de reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 

 

O lema da campanha eleitoral vitoriosa já dizia tudo "A universidade somos todos nós". A universidade tanto era o professor laureado pela sua excelência no ensino e pela sua respeitabilidade na comunidade científica, derivada da qualidade da sua produção acadêmica; quanto era, também, o agente administrativo. A partir deste lema a universidade estava presente tanto no exercício das suas atividades fins, quanto no exercício das atividades meio.

 

De lá para cá nada mudou. Ao contrário, se horizontalizou mais ainda. Todos tem o direito e necessitam serem ouvidos sobre o destino da instituição. Para tanto, o perfil exigido do líder é de alguém com grande capacidade de escuta, que esteja permanentemente voltado para os que fazem os três segmentos da instituição, os eleitores. Não apenas durante o processo eleitoral, como também durante todo o seu mandato no cargo, ou mesmo depois.

 

Assim é que, toda vez que é eleito um novo reitor, passada a festa da vitória, urgente se faz montar na reitoria um balcão permanente de atendimento às demandas - que crescentes sempre se farão - colocando o novo Magnífico Reitor e seus auxiliares quase que exclusivamente em uma atitude reativa, dando respostas.

 

Se a universidade somos todos nós, então, seremos mais do que os demais  se formos organizado em uma entidade que defenda os nossos interesses. Com este pensamento foram se formando sindicatos e associações. Por exemplo, a Associação de Secretários da UFCG. 

 

Na administração do prof. José Edilson de Amorim, conforme o seu lema de campanha, a universidade tem que ser cada vez melhor. Para quem ou para o quê? Não é o Magnífico Reitor quem responde, embora ele deseje e tente, mas, sim, os que se dizem representantes da comunidade universitária.

 

O reitor antes de decidir sobre questões importantes e abrangentes tem que ouvir todas as entidades, ou até mesmo tem que ouvir alguém que isoladamente diga que precisa ser ouvida porque é uma usuária do SUS. 

 

Por exemplo, conforme relatou-me um colega professor que se fez presente na última sessão do Conselho Pleno da UFCG, o Magnífico Reitor, presidente do conselho, determinou que fosse feita a leitura do relatório relativo à Adesão da UFCG à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), para logo em seguida revogar, sucessivas vezes, a sua determinação para ouvir, primeiro, o que os representantes das entidades tinham a dizer. Eles assim exigiam. 

 

Tendo sido ouvido todas as entidades ali representadas, quando se pensava que finalmente haveria leitura do relatório, o Magnífico Reitor precisou ouvir mais uma voz, a da usuária do SUS.  

Todavia, este não é um caso isolado. É apenas o atual e mais simbólico. Em verdade, o reitorado não dispõe de um projeto político-administrativo para a UFCG, elaborado por sua equipe técnica. O lema de campanha "UFCG Cada Vez Melhor" se resume no esforço de atender de forma satisfatória à demanda da clientela interna e conciliar este atendimento com o projeto do MEC para as instituição federais de ensino superior. 

 

Por fim: na ausência de projeto político-administrativo próprio, a reitoria toca o do MEC. E quando a execução do mesmo entra em conflito com os interesses que as entidades representativas dos segmentos da comunidade universitária defendem, resulta no isolamento político do Magnífico Reitor. É este, no meu entender, o principal problema de uma administração baseada na horizontalidade do poder.

 

 

Hiran de Melo é professor da UFCG)


Data: 08/04/2014