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Artigo - A torcida do Fluminense escolheu o Papa errado

Wagner Braga Batista

 

Sabem por que estamos padecendo? A torcida do Fluminense elegeu o padroeiro errado.

Depois que o Conselho Diretor do Fluminense, oficializou o Papa João Paulo II como padroeiro,  tudo deu errado.

 

Já se dizia nos velhos tempos do bonde da Carioca, que oficialização de santo imaculado só produz resultados em repartições públicas, nas quais funcionários ausentes são santificados pelo pessoal da limpeza e do cafezinho, que se desobrigam do trabalho. Quando oficializa milagre e santo, o milagre até pode dar certo, mas sem que se diga o nome santo. Este dissabor nos espera nos tapetões do judiciário.

 

A benção de João de Deus será cantada num tribunal de justiça, onde os milagres que acontecem não podem ser creditados aos santos de ofício.

 

Elegemos o Papa ante quando a escalada liberal sufocava os direitos do povo. Neste contexto, em 1980, o time das elites sagrou-se campeão. Esta coincidência histórica reproduziu o sucesso de 1964 e 1969, anos do golpe militar e do recrudescimento da ditadura.

 

Que terrível sina.

 

Neste diapasão escolhemos nosso padroeiro. O Papa que sufocou a teologia da libertação e contribuiu sigilosamente com sinistras ações da CIA. Lamentavelmente, fizemos a escolha errada.

 

Poderíamos ter eleito o papa que reaproximou a igreja católica do povo, despojou a liturgia dos ranços clericais e secularizou a  religião. Humanizou-a, como pregava Nelson Rodrigues, vestindo sandálias franciscanas da humildade. Pregou a paz sobre a terra e em demonstração inquestionável desta inclinação, num evento marcante, desceu do trono para adentrar, com os próprios pés, a Basilica de São Pedro. O outro João, João XXIII, atualizou a igreja, promoveu o diálogo com outras religiões e  humanizou a vocação sacerdotal. Com seu ato simbólico, colocou a igreja com os pés no chão.

 

Ousamos dizer, a torcida do Fluminense, está rezando para o Papa errado.

 

Se aclamasse e rezasse para João XXIII não estariamos enfrentando este dilema e este drama de consciência, decorrente de conhecidas causas seculares, da inépcia administrativa, da influência de patrocinador e do salto alto de meia dúzia de jogadores.

 

Não fosse isto, não torceríamos em vão. Estariamos torcendo por um time e não pelos resultados de jogos obscuros de bastidores na 39ª rodada, jogada nos tapetões do judiciário esportivo.

 

Estaríamos honrando as tradições triclores e o espirito esportivo, consagrados em mais de 102 anos de existencia, ao invés de ser reféns do casuísmo. Não estaríamos torcendo pelo  oportunismo fora de campo.

 

Se rezassemos  para João XXIII, certamente, com seu senso de justiça, aconselhar-nos-ia:

 

- Paguem a segunda divisão e entrem no céu de alma lavada. Retornem ao Campeonato Brasileiro, do qual nunca deveriam ter saído, com a consciência tranquila e a dignidade de verdaeiros campeões.

 

Enfim, neste tortuoso caminho, ainda podemos fazer novas escolhas. Aqueles que são católicos podem pedir a benção a Francisco, um papa inegavelmente comprometido com os pobres, injustiçados e sofredores como nós.

 

Neste ano fomos de uma indigencia dolorosa, porém ainda temos escolha.

 

Os refratários ao povo, que não quiserem optar por João XIII, podem convincentemente adotar o sorridente e generoso Francisco como novo padroeiro, também abençoou a camisa tricolor.


Data: 16/12/2013