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Artigo - Identidade e cultura do design

Wagner Braga Batista

 

 

O desenho industrial ou design enfrenta grave crise de identidade. Decorrem de inconsistências na formação educacional que se reproduzem na prática profissional. Porém, o que mais agrava a falta de identidade é a permeabilidade deste campo à ação de profissionais sem qualificação ou experiência que se sentem autorizados a desenvolver projetos de produtos industrializados.

 

Este problema se acentuou graças à banalização da profissão. A falta de estatuto pofissional abriu espaço para ampla gama de produtos  e de serviços, de qualidade e de destinação questionáveis, bem como para seus autores se beneficarem da vulgarização e da  licenciosidade emergente. Por meio de vários artificios, reivindicam-se da chancela do desenho industrial ou design para credenciar suas intervenções e seus artefatos .

 

O licencioso contrabando de banalidades, modismos e clichês terminológicos acarretou a  degeneração do design. Contribuiu para o deslocamento da proficiência técnica e do senso critico, atributos de projetos de desenho industrial. Gradativamente foram  substituídos por artificios promocionais e  estratégias publicitárias,  utilizados para a veiculação de badulaques.

 

O desenho industrial ou design convive com indefinições e inconsistências, que afetam esta atividade desde seus primórdios no Brasil. Na medida em que o desenho industrial se transformou em terra de ninguém, em seara na qual campeia toda sorte de aventureiros, enfrentará o agravamento deste problema provocado pela ação de muambeiros , que vendem barato profissão, cara a todos que obtiveram formação específica e a exercem condignamente.

 

Apesar de dispormos de mais de 800 cursos de desenho industrial e design no Brasil, que formam anualmente cerca de 7 mil estudantes, pessoas sem graduação especifica sentem-se no direito de se apresentar como designers e se arvorar a ditar procedimentos que sequer estão habilitadas a realizar.

 

Por trás da apologia e da celebração cinica do design, esconde-se uma conduta acritica e licenciosa que compromete e coloca em descrédito esta profissão

 

A falta de identidade e de uma cultura, que sedimente e delimite nosso campo de atividades,  é um sério problema para estudantes que se graduam em cursos e  profissionais desta área. Veem-se a mercê de disputa desigual no mercado de trabalho. Defrontam-se com auto-promotores,  muitos dos quais sem qualificações técnicas, que dificultam o reconhecimento efetivo e a regulamentação da sua profissão.

 

A falta de identidade e de cultura consistentes  impede que profissionais e estudantes se integrem num campo proximal. Dificulta sobremaneira a afirmação de pressupostos básicos desta atividade, de princípios diretores para seus projetos, a constituição de estatuto e de  código de ética, que inibam a ação de aventureiros, que colocam em descrédito e  desqualificam o trabalho de profissionais desta área.

 

A falta de regulamentação da profissão é o alibi usual para que ocupem nosso campo de trabalho e usurpem nossos postos de trabalho.  Porém, a  falta de regulamentação profissional não  autoriza que pessoas sem a qualificação mínima exerçam atividades que há cinquenta anos dispõem de cursos superiores para a formação de seus profissionais. Mais grave, valham-se de diferentes artificios para se pronunciar em nome de uma profissão que desconhecem

 

Este ardiloso processo de deslocamente e desqualificação de graduados em desenho industrial e design provoca a redução da remuneração profissional.  Reproduz-se e se amplia quando são sonegados  direitos elementares e condições de trabalho minimas de trabalho. Patamares profissionais são rebaixados  pela possibilidade de contratação de técnicos sem qualificação que prestam serviços a baixo custo, sem fazer exigências.

 

A falta da consciência profissional é um subproduto da falta de identidade profissional, que se dissemina e se perpetua por meio deste jogo de perde e ganha. 

 

Nós, desenhistas industriais e designers , graduados, somos os únicos perdedores. Perdemos porque nossos clones invadem nosso campo de trabalho, atentam contra nossa profissão e subtraem nossos direitos.

 

O que mais nos surpreende, e nos causa indignação, é a adoção da licenciosidade como regra de atuação profissional.  Uma regra deplorável que atinge indistintamente todos estudantes e profissionais graduados deste campo de atividades.

 

A permissividade reinante neste meio facultou a individuos sem formação específica, sem histórico neste campo de trabalho, sem qualquer reflexão e elaboração sistematizada, sem que jamais tenham dado um risco numa folha de papel, a prática da desfaçatez .  A utilização de toda sorte de artificios para se sobrepor à formação e ao trabalho qualificado de profissionais de desenho industrial e design.

 

Por isto, convém que enfatizemos, com ou sem regulamentação da profissão, devemos zelar pela nossa identidade profissional, pela nossa formação, obtida a duras penas em cursos de desenho industrial e design.

 

É preciso colocar pingos nos is. Não necessitamos de clones, muambeiros e atravessadores que, sem nenhum prurido, têm a ousadia de sitiar nosso campo de trabalho, tecer considerações sobre profissão que desconhecem e  dizer o que devemos ser.


Data: 13/12/2013