Pesquisa inédita revela o sofrimento de parentes de dependentes químicos Pesquisadores brasileiros divulgam, nesta terça-feira (3/12), o maior estudo mundial do perfil de família de dependente de drogas do Brasil e as dimensões dos transtornos psicológicos e físicos causados aos parentes mais próximos ao usuário. O estudo contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI). O Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família) entrevistou 3.153 famílias de todas regiões do país, de junho de 2012 a julho de 2013. Coordenado pelo pesquisador Ronaldo Laranjeira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (INPAD) – apoiado pelo CNPq -, o Lenad Família traz informações sobre as características sociodemográficas, percepção do problema e tempo para a busca por ajuda, impacto financeiro e psicológico da família e impressões sobre os tratamentos utilizados. De acordo com Ronaldo Laranjeira, o conhecimento destas informações é de fundamental importância para o planejamento de tratamentos mais amplos e eficientes e de políticas de saúde pública com foco no amparo desta população. Vulnerabilidade - A habilidade de trabalhar ou estudar foi afetada na metade das famílias que tem dependentes de substâncias em casa, mas também ter um parente nestas condições incomoda e atrapalha a vida social. Há também o relato de quase um terço que menciona rouba de pertences e empréstimos de objetos sem devolução e ameaças por parte dos parentes dependentes. O Lenad Família identificou também que a família do dependente se apresenta em situação de vulnerabilidade e de riscos para o desenvolvimento de problemas de saúde. “O estudo mostrou que familiares de dependentes químicos apresentam significativamente mais sintomas físicos e psicológicos que a média da população. Observou-se também que as mães sofrem mais sintomas físicos e psicológicos decorrentes do uso de seus filhos que outros familiares, independente da substância que levou ao tratamento”, destaca o estudo. Veja gráfico: problemas relacionados ao uso e perspectivas O Lenad Família soma-se ao II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (II Lenad) recentemente divulgado pelo INPAD, que estimou que no país há 5,7% de brasileiros dependentes de álcool e/ou maconha e/ou cocaína, representando 8 milhões de pessoas e 1ue pelo menos 28 milhões de pessoas vivem no Brasil com um dependente químico. Perfil da família A pesquisa revelou que as mulheres (66%) são as responsáveis pelo tratamento do dependente de álcool e/ou de substâncias ilícitas, além de serem a maioria das entrevistadas (80%). Essas mulheres, de acordo com o estudo, sofrem forte impacto negativo e “têm uma sobrecarga de cuidar do filho dependente e ser responsável pelos cuidados da família”. Veja gráfico: responsabilidade pelo tratamento Veja gráfico: parentesco com o paciente em tratamento Grande parte dos pacientes em tratamento tinha entre 12 a 82 anos, com média de idade de 32 anos. Entre as substâncias usadas regularmente pelos pacientes, o Lenad levantou que a maioria era poliusuária de drogas, sendo mais da metade consumidores de maconha (68%), álcool (62%), cocaína (60,7%) e crack (42%). Os familiares relataram que tinham conhecimento que o paciente consumia droga por um tempo médio de 9 anos e que a recusa por parte do dependente foi a principal razão na demora por iniciar o tratamento. Somente 30% dos familiares procuraram ajuda assim que tiveram o conhecimento sobre o uso de substâncias pelo paciente. Dos pacientes, quase um terço tinham ensino superior incompleto ou completo. Veja gráfico: grau de instrução Veja gráfico: tempo médio para procurar ajuda por região x substância usada Impacto financeiro O tratamento dos dependentes de substâncias no país é pago exclusivamente pelo próprio familiar e o uso de convênios foi citado em 9% dos casos. Este dispêndio, de acordo com os pesquisadores, afetou “muito ou drasticamente as finanças da família em quase metade dos casos entrevistados (45%)”. A internação foi citada com a mais positiva e eficiente (56%) entre os tipos de ajuda procurada e impressão da eficiência, seguida por grupos de mútua ajuda como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e Amor Exigente, Alanon e Pastoral da Sobriedade. Saiba mais sobre o estudo. Confira os resultados. (CNPq) Data: 04/12/2013 |