Artigo - Quem nos despe do verde e amarelo Wagner Braga Batista Em tempos outros, José Maria Marin, ex-governador de São Paulo, nomeado pela ditadura militar, teria invocado Pelé e enviado o DOI-CODI para chutar as portas do Bom Senso. Colocaria Dostoiesky no pau de arara e arrancaria a choques elétricos segredos inconfessáveis que escondemos até de nossas próprias almas. Eliminaria o direito a livre escolha de torcedores, concedendo-os apenas a sequazes e torcionários. Diálogo e bom senso, nem pensar. Dialogo seria mostra de fraqueza. O ato de pensar, abre a casamata da estupidez ao transito da reflexão. Jogador de futebol quando pensa coore o risco de emitir aviso prévio para empresário, cartola e técnico falastrão. Em tempo de democracia passiva e de governos de coalizão, José Maria Marin empenha-se apenas em pintar cabelo e a este negócio de coalizar. Acomodado no trono da dinastia Havelange e Ricardo Vil Teixeira, administra seus negócios. Volta-se inteiramente ao ilicito, legalmente protocolado e patrocinado pelos que nos despem de verde e amarelo. A CBF é uma nova Nação. Ainda que não seja chamada Brasil, adquiriu direitos da FIFA para nos subtrair o verde e o amarelo. Vende esta marca como se anuncia Bom-Bril. Comercializa o verde e especula amarelo no mercado publicitário. Esta empresa privada despe nossas ilusões do verde e amarelo e movimenta anualmente uma bagatela de 300 milhões de reais sem prestar contas a ninguém. A seu modo, unilateral e discricionário, capitaliza receitas geradas pelo patrocínio de campeonatos no país do futebol. Seus últimos dirigentes, João Havelante e seu ex-genro, Ricardo Vil Teixeira, que presidiu a CBF por 23 anos, são acusados em foruns internacionais de prática de corrupção e enriquecimento ilicito. O último migrou definitivamente do território da bandalheira para o paraíso da canalhice, onde está enquistada Miami. A CBF é controlada pelos novos duques e barões dos gramados . Ao peso de ouro e de emblemáticas copas e espadas detém 27 feudos federativos. Com seus séquitos de jornalistas e atletas do doping esportivo dividem o direito natural à posse de 20 sesmarias, abrigadas sob o nome fantasia de clubes de futebol. Graças a este consórcio de empresas de fachada administra a disputa das receitas do futebol brasileiro. Amor à camisa? Respeito profissional? Espirito esportivo? Estes apelos que impregnam o imaginário popular não têm lugar do mundo dos negócios. Náo germinam em empreendimentos obscuros que sufocam o futebol, penalizam atletas e asfixiam torcedores com o torniquete vil da corrupção, da manipulação de resultados e das adulterações realizadas pelo marketing esportivo. Neste pântano indecoroso, uma brisa renova o ar. Introduz nova terminologia no debate esportivo. Interdita a fala de dirigentes viciados em abusos e de comentaristas desabituados a pronunciar as palavras desconhecidas: direitos trabalhistas. O frescor não é proporcionado por um destes sprays descartáveis, que perfumam ambientes pesados, mas de um conceito gramsciano involuntário, que traz a flagrância do bom senso aos campos de futebol. Areja cabeças ornadas com a falta de idéias e penteados exóticos. Sopita o perfume do passe livre suscitado por Afonsinho e da democracia corintiana dos anos 1980. Enseja retirar das mãos destas máfias o controle deste esporte de massas, que um dia foi chamado de alegria do povo e hoje se converteu em hedionda máquina internacional de lavagem de dinheiro. Data: 03/12/2013 |