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Artigo - Anás por caifás

Wagner Braga Batista

 

 

Se observamos a atuação dos articulistas da direita colérica poderemos constatar que transitam pelos mesmos veiculos de informação, que se proclamam arautos da liberdade unilateral de imprensa. Gozam de espaços privilegiados para canalizar seu furor contra tudo e contra todos que ameaçam privilégios assegurados à custa da subtração de direitos sociiais.

 

Agem de forma escusa, porém não saem da linha. Nem da linha editorial destes meios de comunicação, nem tampouco da recomendável prudência de seguir pesquisas de opinião. Ou seja, as tendências que regulam o marketing jornalistico.

 

Contudo, quando a chapa esquenta, com a desfaçatez habitual, transformam o dito em não dito. Não tem pejos de trocar Anás por Caifás.

 

Anás e Caifás, foram dois sacerdotes fariseus, que entregaram Jesus às torturas  e o submeteram ao juizo de  Pilatos, que, por sua vez, lavou as mãos. Estas passagens simbólicas são sugestivas e reveladoras de como a sociedade civil muitas vezes absorve pulsões democráticas, porém não se compromete com sua efetivação. Exime-se, muitas vezes de enfrentar abusos de poder.

 

Além dos abusos de governos, defrontamo-nos com violações, frequentemente praticadas por  consórcio de interesses que articula o judiciário, a midia oligárquica e grandes grupos empresariais.

 

A trajetória da midia oligárquica não é retilinea. Está sujeita a  oscilações ditadas não só por interesses obscuros, mas também pela pressão social.

 

É marcada por mudanças repentinas de rumos. Ao sabor das marés vazantes e montantes, oferece-nos episódios emblemáticos de suas oscilações.

 

O apoio incondicional ao golpe e ao regime militar desfez-se da memória editorial e política  diante das nuvens da redemocratização. A reação e o silêncio frente à campanha pelas eleições diretas para a Presidência da República foram quebrados pelas manifestações de massa que atraíram milhões de pessoas às ruas das grandes cidades.

 

Hoje nos defrontamos com mais uma guinada da midia oligárquia. Após as cáusticas críticas às mobilizações recentes, ao perceber que se tratavam de fenomenos massivos de grande repercursão e que poderiam ser capitalizados na crítica a governos populistas, subitamente mudaram a posição das suas antenas.

 

Mobilizaram seus aticulistas para estabelecer a sintonia controversa dos interesses oligarquicos com as reivindicações democráticas de movimentos sociais.

 

Articulistas de aluguel não recebem no caixa das empresas. Suas formas de retribuição e de remuneração não são as convencionais. Tampouco são estritamente pecuniárias ou estão inseridas na contabilidade destas empresas.. O financiamento de suas verdades e difamações via de regra é patrocinado pelos benemerentes de causas anti-populares.

 

Um articulista, hoje auto-exilado, antes detratava a tudo e a todos. No passado, não muito longinguo, dedicava-se a outro esporte, igualmente devastador. Chutar vitrais.

 

Flagrado pelas cameras fotográficas, dava vazào a sua indole destrutiva. Adolescente, aproveitara-se de manifestação popular para chutar e estilhaçar vidraças de um banco, descerrando as cortinas para o filme que vria a seguir em sua atuação jornalistica.

 

É claro, este jovem não possuia nenhuma convicção política, nem tampouco identidade com as reivindicações que mobilizaram populares. Distinguia-se pelo vandalismo, pelo desprezo à vida pública e pelas marcas de suas roupas vistosas.

 

A depredação de instituições democráticas tornou-se sua vocação profissional. Este é o jornalista talhado para as principais editorias da midia oligárquica.

 

As recentes manifestações de rua , por conta de sua complexidade e diversidade, podem ser examinadas por diferentes viéses.

 

O tratamento dispensado aos fatos políticos deriva não só dos interesses subjacentes aqueles que a reportam, mas também do alcance de pressões sociais que elas exercem..

 

A midia oligarquica e seus articulistas não hesitam em ceder seus anéis ante iminente perda de dedos.  Renunciam a sua ótica distorcida, porém utilizam-se encarnecidamente de todos artifícios ao seu alcance para assegurar seus privilégios e suas jóias, entre as quais o monopólio dos meios de comunicação e da verdade.

 

A revitalização dos processos políticos requer o desmonte destes poderes paralelos que cometem abusos contra a democracia e as camadas subalternas. Pressupõe a defesa da democratização dos meios de comunicação, bem como do poder judiciário.

 

A reação conservadora, alicercada no quarto poder e nos subterrâneos da justiça, distorce e põe em risco conquistas democráticas. Investe contra a consolidação de direitos sociais.

 

Não causa estranheza a ira da direita conservadora diante de pequenas transformações sociais que ameaçam seus interesses. Na medida em que perde espaços políticos, volta-se a deplorar o cenário democrático, no qual tem dificuldades de deitar raizes. Torce o nariz e aposta que o circo pegue fogo para que todos lambam nas chamas.

 

A imprensa oligárquica, com seu poder de manipulação, é a trincheira preferencial do conservadorismo que está sendo derrotado democraticamente.

 

A direita enraivecida não tem compromisssos públicos e sociais. Promove a politica de terras arrasadas que consubstancia sua indole excludente, anti-democrática e devastadora de instituições sociais. É herdeira das tradições fascistas e autoritárias.

 

Ou seja, diante de iminentes perdas, a midia oligarquica e seus patrocinadores não temem em trocar Anás por Caifás, o ruim pelo pior.

 

Aposta no incendio do circo porque tem a receita de antanho. Em caso de calamidade social, apressa-se a convocar o leão.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 27/11/2013