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ARTIGO - Cachorro também é gente

Wagner Braga Batista*

 

No inicio da década de 1990, um herói do submundo sindical pontificou na cosa nostra nativa.

 

Pioneiro do sindicalismo de resultados, celebrizou-se pela truculência e pelas frases pouco ortodoxas, que ganharam mais visibilidade e audiência quando se candidatou à assecla de Fernando Collor.

 

Nesta condição tornou-se precursor da administração de gangs,  que posteriormente fatiaram o Ministério de Trabalho.

 

Certa vez, a cachorrinha de Antônio Magri, este é o nome do vulgo, flagrada fazendo turismo em Brasilia, em automóvel de chapa branca, motivou indagações de pobres pingentes, que ainda hoje disputam espremidos espaços em transportes públicos.

 

O Ministro, sem hesitar, apressou sua defesa. Numa máxima pre-monitória, antecipou evidências do tempo iniquo em que estamos condenados a viver:

 

- Afinal, cachorro também ambém é gente.

 

Tomamos conhecimento que o primeiro passo para o reconhecimento tardio dos direitos humanos dos animais foi dado em nosso país. Não por meio da voz autorizada de alguma divindade, mas pela prática licenciosa que reproduz as iniquidades tão corriqueiras em nossa sociedade.

 

A partir de agora,  almas boas de cães de madame e de gatos de Marta Suplicy terão acesso aos céus.

 

Receberão documento de identidade. Ou seja, passaportes.

 

A exemplo de cartões de crédito, estes passes de mágica, que elevam a cidadania e transformam indigentes de direitos em consumidores de fato, os passaportes caninos e feninos conceder-lhes-ão transito livre pelos portais da licensiodade..

 

Pelo visto, Magri tinha razão, alguns cães e gatos certamente são até mais humanos.

 

A julgar pela luxúria de pet-shops e do bom trato que recebem pelas mesmas mãos que hostilizam seres humanos, somos levados a crer que a advertência de Magri está se consumando. Caes e gatos, por fim, são mui justamente contemplados com direitos humanos que ainda faltam para muita gente que não late, nem mia.

 

Nos EUA, em meio à crise econômica e ao deficit de políticas públicas, muita gente se serve de guloseimas, erroneamente chamadas de rações para cães e gatos.

 

Os animais hoje podem viajar quando, por que meios de transporte e para onde quiserem. Com seus cartões de crédito e passaportes podem usufruir des férias e direitos trabalhistas negados aos que trabalham.

 

Segundo o jornal O Globo, dia 23 do corrente (URL: http://oglobo.globo.com/pais/passaporte-para-caes-gatos-comecara-ser-emitido-dentro-de-90-dias-10852561) o Ministério da Agricultura, em sintonia com a democratização dos aeroportos e das passagens áereas, promove a intensificação do turismo animal.

 

...anualmente, o trânsito internacional de cães e gatos corresponde a 0,1% do trânsito internacional de passageiros, cujos principais destinos são os Estados Unidos (53%), países da União Europeia (16%) e do Mercosul  (14%). No caso de animais que vêm de fora, 43% procedem dos EUA, 22% da UE e 15% de países do Mercosul.

 

Graças a projeto da FIFA, os cães humanizados terão acesso à cultura e ao lazer. Poderão assistir in loco os jogos da Copa do Mundo.

 

Para superar as barreiras protecionistas e as leis que inibem o transito de animais, o irredutivel direito de ir e vir estará assegurado aos cães humanizados.

 

O Ministério da Agricultura vai emitir passaporte para o trânsito nacional e internacional de cães e gatos. As regras estão definidas em portaria publicada nesta sexta-feira no “Diário Oficial da União”.

 

Uma nova janela de oportunidades se abriu para integrar cães humanizados em escala planetária. Dentro em pouco teremos a hierarquização de cães e gatos por meio de passaportes diplomáticos e programas de milhagem.

 

Enquanto cães percorrem o mundo, humanos menos humanizados ficam onde sempre estiveram, separados por intransponíveis oceanos economicos, que os mantêm na pobreza e na miséria.

 

 Foi-se o tempo em que vida de cão expressava sacrifício. Implicava em desdouro.  

 

Estes novos tempos são auspiciosos para cães e gatos. O fastio destes novos seres humanos tem proporcionado folga às ratazanas.  

 

O direito de ir e vir será também extensivo a roedores de grande e pequeno porte. Graças à nova cidadania, ratazanas ascenderam.. Migraram de sarjetas e esgotos para ocupar lugares de honra em governos de coalizão, em parlamentos, no judiciário e em administrações públicas. Tornam-se proficientes homens de negócio, demonstrando notável expertise na arte de roer o erário público.

 

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 23/11/2013