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Artigo - O excesso de hormônios e deficiência de democracia

 Wagner Braga Batista

 

 

Tornou-se corriqueira a afirmação de que somos radicais na juventude e conservadores em idade avançada. Vistas deste modo, nossa longevidade, nossas inclinações e conviccões ficam ameaçadas pelos hormônios. Estimulam o cerebro, mas inibem a razão.

 

Poderíamos  explicar genocídios. Atos de vandalismo e arruaças teriam como alibis as descargas de hormônios.

 

O excesso de hormônios, assim como de objetos inúteis e descartáveis,  incitar-nos-iam à desenfreada destruição e eliminação do que consideramos supérfluo. Assim sendo, o patrimonio public seria pouco condizente com nossas pulsões hormornais.

 

O excesso de hormônio tem como contrapartida a deficiência de democratina, enzima produzida pela glândula da consciência politica, hipertrofiada por 21 anos de ditadura e quase outros tantos de esbulhos liberais.

 

Graças a esta façanha histórica, a ambiguidade, o cinismo e a impostura se transformaram em máscaras que escondem nossas verdadeiras faces. Mascaras equivalents aos lenços que cobrem os rostos de vândalos e blac blocks.

 

A façanha histórica permite que, no plano da oralidade, até mesmo democratas dos últimos quinze minutos, sejam ousados. Aqueles mesmos, que deram sustentação a iniquidades seculares, ora defendem liberdades imprevistas e se regozijam de desqualificar os que sempre lutaram pela justiça e pela efetivação de direitos sociais.

 

Alinham-se aos heróis do mensalão, Joaquim Barbosa e os que engordam graças ao aplauso licencioso.

 

É confortável dizer-se favorável  à liberdade quando ela existe. Quando entra em falta no mercado, esta gente se converte à religião do silencio. Como caronas da licenciosidade, nào hesitam em participar de todos espetáculos.Quando o circo está armado, não tem pruridos de dizer que toda manifestações de rua é louvável.

 

Deste modo esta gente, herdeira da façanha histórica, o golpe cívico-militar de 1964, sente-se  aliviada da desfaçatez, da habitual  indiferença e do descompromisso com a vida social. Liberta-se de desagradáveis  convulsões e  suores noturnos. Parece levitar e trocar o cheiro de cavalos pelo  odor penetrante da democracia, pulsionada pela glândula da consciência, dopada durante todos estes anos.

 

Súbito, esquecemo-nos de quem somos, juntamente com liberais de última geração e  torcionários do antigo time, abrigados sob o manto da liberdade.

 

Em se tratando de governos de coalizão, todos comem à mesma mesa e bebem do mesmo pote, solidários com as manifestações de liberdade e com a sua licenciosidade.

Esta sensação de alívio  momentâneo se desfaz quando nos deparamos com o cenário descerrado pelo quebra-quebra, pela violência indiscriminada, que paralisa a vida social.

 

Aí se estabelece uma estranha homologia entre o receituário da desfaçatez e a prática liberticida. Ambos se consagram a dilapidação ou a destruição do patrimônio público.

 

Sob a ótica liberticida, esta coisa mesquinha e torpe, a vida social, conspira em prol das mazelas do sistema   e dos políticos, todos, que lhe oferecem suporte.

 

Para eles, tanto faz. Parecem-lhes farinhas do mesmo saco. O sistema ea vida social devem ser freados para que pulsões liberticidas tenham curso.

 

No entanto, quando cerram as cortinas e se apagam os holofotes da encenaçào liberal, o cenário é outro.

 

De fato, fomos surpreendidos com a irupção de movimentos que se mantinham em estado latente. Aparentemente apresentavam linhas de ação e metas convergentes. Na prática revelaram-se um agregado de forças e tendências díspares, uma conjunção multifacetada de forces que dificultava a percepção de suas especificidades..

 

Havia enorme diversidade de movimentos embutidos num só. Passada a onda de mobilizações recentes, podemos perceber o quanto são distintas suas motivações e desenlaces.

 

Há segmentos comprometidos com a revitalização da democracia e a ampliação de direitos sociais, mas existem também alguns tantos outros comprometidos apenas com sua visão de mundo e com interesses exclusivistas.

 

Os acacianos democratas dos últimos quinze minutos retrucarão com o velho bordão: Este é ônus da democracia.

 

Lemos texto bastante elucidativo das ebulições sem representação, sem cara e sem limites,  que afrontam a consciência política: Black blocs: paradoxos e imposturas, acessivel no site de Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/Black-blocs-paradoxos-e-imposturas/29444. Seu autor, Marco Aurélio Weissheimer, adverte-nos:

 

Há mais democracia e política numa lixeira instalada por uma prefeitura em uma calçada do que no ato estúpido de alguém que a arrebenta gratuitamente. Há mais democracia e política numa lâmpada que ilumina uma rua à noite do que no ato de quebrar um caixa eletrônico do Banco do Brasil com um taco de beisebol.


Para arrematar, sugere uma reflexão: “A ausência da representação é o ninho onde já foram chocados muitos ovos de serpentes.”


Data: 21/11/2013