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Artigo - A guerra do futebol

Wagner Braga Batista

 

No Brasil, a crescente elitização do público em estádios de futebol está sendo acompanhada por um movimento reflexo. Contraface deste refinado processo de exclusão social, que se viabiliza por meio da exigência de novos parâmetros técnicos para a construção e creditação de sofisticados e superfluous estádios de futebol, a violência se diversifica e ganha corpo como resultado da sutil emulação gerada pelo marketing, pela sua capacidade de gerar pulsões e forjar identidades que se afirmam por meio da discriminação dos diferentes.

 

A exasperação da identidade repelente e canibalesca, que despreza e não reconhece o direito a alteridade, transforma o espirito esportivo numa balela.

 

O futebol transforma-se no espaço  privilegiado para a simbiose de gangs de diferentes portes e extrações.

 

Grandes empresas que impulsionam o marketing esportivo e máfias  que controlam  os jogos de cassinos virtuais, estão no topo de uma cadeia sinistra que articula dirigentes de federações e de clubes de futebol, empresários de jogadores e torcidas organizadas. 

 

As torcidas organizadas, que fornecem visibilidade à violencia fisica, sào apenas a ponta do iceberg.  Mantêm obscuras outras formas de violência e de transgressões. São a massa de manobra ou correias de transmissão de negócios ilicitos, velados pelo suposto manto da paixão.

 

Esta semana, concitados pela promotoria pública, advogados de clubes negaram-se a subscrever declaração de que  torcidas organizadas são financiadas por grandes agremiações futebolisticas paulistas.

 

A  guerra de bastidores desdobra-se na escalada de violência, organizada ou não, que toma conta  do futebol.  Conflitos de interesses, não explicitados, exacerbam rivalidades e transformam eventuais adversários em irreversiveis inimigos,  que disputam  espaços nas novas arenas do mercado futebolístico.

 

Esta nova denominação dos estádios de futebol é sugestiva. Expressa o acirramento das rivalidades, a canabalização do futebol pelo mercado esportivo. Configura o arcabouço que entrelaça a ideologia dos shoppings com a espetacularização das disputas acirradas, dos negócios e apostas veladas, bem como da capitalização da agonia dos que estão aptos a frequentar ou são colocados à margem dos campos de futebol.

 

O padrão FIFA, por meio de artificios aparentemente formais, instituiu a ditadura dos negócios que dominam o futebol. Maquiados pelo marketing,  encobrem o apartheid que, aos poucos, afasta camadas de baixa renda destas arenas e as transforma em usuários de redes de comunicação, que detêm o controle da transmissão de jogos de futebol.

 

Arenas privatizadas, por meio de generoso financiamento público, e  verdadeiros monopólios midiaticos sedimentam novas formas de exclusão social. Convertem esportes de massa em vigorosos ingredientes de receitas financeiras, integrando habilidosamente instalações físicas de estádios, regras esportivas, horários e resultados de jogos em estratégias comerciais.

 

Neste enquadramento , eclodem várias formas de violência organizadas ou não. Entre elas, as que estão em sintonia com canibalização do futebol.

 

Ao introjetar as tensões deste canibalismo, torcedores ficam a mercê de irreconciliáveis sentimentos.  De marginalizados pela lógica excludente e de incompreensivel senso de débito, de apreço incondicional por esta estrutura que os marginaliza e os devora.

 

O desenrolar desta rutura nos ajuda a entender porque o marketing ,cada vez mais, patrocina a associação do futebol com o alcool, que entorpece a razão e os sentidos, porém estimula  a libido e liberta pulsões.

 

Na região nordeste, populacões periféricas, postas à margem destas arenas excludentes, também se ressentem desta rutura. Reagem de forma intempestiva e sugerem a estrangeiros que o nordeste se converte num faroeste.  Seus atos de violência  não sào atípicos, nem fogem aos padrões da FIFA.

 

Sua irracionalidade é lidima expressào do canibalismo que nos devora.


Data: 20/11/2013