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Artigo - O design, a feira de banalidades e a III Conferência Nacional de Cultura

Wagner Braga Batista

 

Assistindo a programas dominicais, num aquecimento para o desconforto anunciado, o iminente rebaixamento do Fluminense a divisão de um plano de saúde, deparamo-nos com cenas grotescas na televisão.

Numa delas, um designer de modas, esmerava-se em abrilhantar supostos vestuários feitos com chapinhas de garrafas, com acetato de fitas de videocassete, com fios de garrafas PET, com lascas de plásticos, com filmes fotográficos, entre outros materiais.

Estes produtos contraditam seus propósitos nominais. São típicos exemplos de um discurso falacioso e da inutilidade de produtos que nele se referenciam. Ao invés de reaproveitar, reciclar ou reutilizar utilizar materiais, contribuem para o aumento da descartabilidade e do lixo em nossa sociedade. Aumentam a poluição visual e a degradação ambiental. São verdadeiros alibis de projetos sustentáveis inconsistentes.

Estes produtos comportam-se como peças de exposição. Fora das vitrines e passarelas, como tantos outros, não servem para nada. São utilizados para legitimar projetos duvidosos, muitas vezes para angariar recursos públicos e fornecer visibilidade para seus autores. No dia a dia, jamais serão utilizados. Comportam-se como instrumentos de autoflagelação. Prestam-se apenas para torturar seus usuários.

Na outra cena, o design disputava espaço entre espécies bizarras. Lado a lodo, nas filas de acesso à vulgaridade e à pantanosa cultura das tardes dominicais proporcionadas pela televisão comercial.

Sofrego, disputava o prêmio da banalidade com coisas excêntricas que, em tese, nos divertem, na prática, agridem nossa consciência. Humilham todos aqueles quee zelam pela proficiência técnica e crítica da nossa profissão.

Neste diapasão, o desenho industrial ou design, gradativamente, declina de suas potencialidades técnica e críticas para se somar ao balaio de besteiras ofertadas em premiações licenciosas, sob auspício dos cofres públicos, e em vitrines de shoppings.

Vulgariza-se para se compor como coisa exótica, em nome da brasilidade.

Deste modo,  desperta inveja às caras e bocas artificiosas, que desfilam nas passarelas e vitrines da banalidade.

O design caiu numa armadilha, refém de estratégias de marketing e das ambiguidades do liberalismo tende a comportar como o avesso de suas postulações originais. À buscar legitimidade por meio da superexposição de aparências e de alibis publicitários,  que desprezam a essência do que produz.

Nos próximos dias, teremos a realização da III Conferencia Nacional de Cultura, na qual o design se fará presente como uma área afeta ao campo das políticas culturais.

O desenho industrial ou design pode contribuir para o reconhecimento e ampliação de direitos sociais por intermédio de políticas, democráticas, inclusivas e distributivas inerentes à produção e ao consumo de bens essenciais. Precisamos enfatizar que educação e cultura não são mercadorias. São bens indispensáveis, que exigem sistemática qualificação e avaliação do poder público. Principalmente, porque o Estado, direta ou indiretamente, torna-se seu maior provedor, por meio do financiamento público.

É preciso revitalizar a democracia, democratizar o Estado e recuperar sua imprescindível dimensão pública.

O desenho industrial ou design, ao invés de se afirmar como artifício publicitário ou maquiagem de produtos, pode confirmar sua vocação histórica, impondo-se pela capacidade de aprimorar o desempenho de bens e de serviços na sua órbita de atuação, contribuindo, deste modo, para reduzir a obsolescência e o desperdício, que degradam nossas condições de vida.

Questionando suas ambiguidades, pode se qualificar para compor agenda de temas estratégicos para a economia, a educação e a cultura, tornado-se elemento indispensável do desenvolvimento de politicas públicas, que contribuam para a inclusão social.

 

Wagner Braga Batista é profesor aposentado da UFCG


Data: 11/11/2013