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Artigo - Revitalizando o crime do Rio da Guarda

Wagner Braga Batista

 

 

Na década de 1960, um dos precursores da perversa modernização, asséptica e conservadora, realizada sob instrução de agências multilaterais e sob auspícioso financiamento externo norte-americano, propos-se a revitalizar a cidade do Rio de Janeiro.

 

Por meio de intervenção urbana reproduzia a estratégia do Barão de Huisman. Modernizava a cidade e perpetuava o atraso decorrente da cristalização de profundas desigualdades sociais.

Deste modo, o governo do então Estado da Guanabara desenhava uma nova topografia para o meio urbano e estabelecia limites para contenciosos sociais.

 

As áreas privilegiadas e prósperas ficariam resguardadas para elites. Aos pobres, sujos e maltrapilhos estaria reservado o lugar nenhum.

 

Num contexto de ebulição social, o governo do Estado da Guanabara utilizou-se da chamada revitalização de áreas urbanas como plataforma publicitária conservadora.

 

Pioneiramente, valeu-se do atualissimo artifício de congestionar o transito da cidade para transformar obras públicas em objeto da atenção e admiração pública.

 

Neste cenário, o governo de Carlos Lacerda, de triste lembrança,  ganhou o laurel de administrador  operoso e modernizador urbano.

 

Vultosos recursos financeiros, canalizados para grandes obras públicas e investimentos em transportes urbanos, não se limitaram a este fim.  A transferência de recursos públicos para a inciativa privada contribuiu para campanhas políticas sinistras, a maior delas o ardiloso financiamento de estratégias de dissuasão e de desgate do Governo João Goulart, que resultaram na sua deposição por meio do golpe cívico militar de 1964.

 

Grandes corporações formaram fundos, compartilhados com integrantes de governos estaduais, de parlamentares, da imprensa oligarquica, de agencias publicitárias, de  instituições religiosas, entre outros, que patrocinaram a propaganda e a mobilização de forças conservadoras que viabilizaram o golpe militar.

 

O Governador do Estado da Guanabara,  Carlos Lacerda (1960-1965) , entre tantas proezas, também se celebrizou pelo incremento da  limpeza étnica das ruas da cidade.

 

Á época, grotões do Rio de Janeiro, alvos da especulação imobiliária, que se aceleraria na década de 1970, abrigos de indigentes e marginalizados, foram varridos pela ação de forças conservadoras que se complementavam. De um lado políticas sociais, supostamente assistencialistas, que  transferiam compulsoriamente populações pobres e afluentes para conjuntos urbanos, via de regra distantes da cidade. De outro a truculencia polícial que tratava questões sociais como atentados à ordem vigente.

 

Estas ações, legitimadas por parcela da igreja conservadora, eram enaltecidas pelas camadas médias, que se sentiam favorecidas pela preservação do necessário distanciamento de contingentes populacionais, potenciais infratores da lei.

 

Ao invés de transparecer a inquestionável violação de direitos, a política de higienização da cidade obtinha o endosso das elites, bem como se revestia de invólucros dignificantes e redentores, a exemplo de nomes atribuídos a longínguos conjuntos habitacionais para os quais eram removidos favelados, Vila Kennedy, em homenagem ao presidente norte americano assassinado em 1963, e Cidade Deus, onde a pobreza, apartada de condições indispensáveis de vida, sentir-se-ia acolhida pela graça divina..

 

A Villa Kenney, contemplada com uma réplica da Estatua da Liberdade, é um dos chamados bairros proletários, construídos para abrigar populações removidas das favelas.

 

A obra foi financiada com recursos da “Aliança para o Progresso”, programa norte-americano destinado ao fomento de projetos sociais na América Latina  destinados a barrar o avanço do comunismo.

 

A remoção de indigentes e de favelados na zona sul do Rio de Janeiro, consumada muitas vezes com o incendio de barracões, teve incidentes ainda mais trágicos.

 

Um dos episódios mais contundentes desta hedionda assepcia modernizadora, utilizada para eliminação física da pobreza, ocorreu no Estado da Guanabara, em 1963, perpetrado por integrantes da Seção de Repressão à Mendicância.

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O Rio da Guarda, afluente do Guandu, rio que atende ao abastewcimento de agua potável da cidade, descortinou o cenário de desfecho trágico, o afogamento de mendigos retirados das ruas da cidade.

 

Este crime, desvendado acidentalmente, pela reconstituição deste episódio sinistro feita por uma das vitimas, uma indigente idosa, aparentemente sem condições de subsistir à tentativa de afogamento, que se salva porque fora nadadora na juventude.

 

Graças a seu relato, a sociedade civil tomou conhecimento do enlace ignominioso, que articulava programa de governo, elites conspícuas, corporações e empreiteiras, que transformaram a revitalização do espaço urbano em alibi providencial para a especulação imobiliária.

 

Na ante-sala do golpe militar, nos porões da sociedade excludente. ensaiava-se a prática do sequestro e do desaparecimento de gente incomoda, que se seguiu.

 

A  higienização das cidades, por meio da expulsão ou eliminação fisica de pobres e de indigentes,  tornava-se a mola mestra de política social de governo.

 

Este fato foi rememorado por filme recente, intitulado “Topografia de um desnudo" (2009), de autoria de Teresa Aguiar.

 

As políticas de limpeza étinica e de remoção de indigentes de áreas nobres de centros urbanos ainda têm velados financiadores, admiradores e adeptos no mundo atual.

 

O que causa estupefação é que um deles se utilize do poder legislativo mirim, de mandato popular, para afrontar a consciencia civica e propor a violação de direito humano elementar. Venha a público defender ação hedionda, crime inafiançável.

 

Vejamos o que diz, José Paulo Carvalho de Oliveira, o Russo (PT do B),  ilustre vereador de Pirai, municipio da baixada fluminense, possivelmente banhado por águas ainda turvas, remanescentes do Rio da Guarda:

 

- Mendigo não tem que votar. Mendigo não faz nada. Ele não tem que tomar atitude nenhuma. Aliás, acho que deveria até virar ração para peixe.

 

 

A operação ”mata-mendigo”, como foi vulgarizada pelos opositores de Carlos Lacerda, foi tema do filme Filme que mostra chacina de mendigos é boicotado pela crítica


Por Fausto Barreira 08/12/2009 às 14:06

 

Baseado em fatos reais, o filme desvenda um fato pouco conhecido: a ?Operação mata-mendigos?, que ocorreu no RJ entre 1962 e 1963. O filme, muito atual, mostra o governo, a imprensa e interesses imobiliários por trás dos assassinatos dos moradores de rua. Como se vê, a política de "higienização" das grandes cidades é antiga

 

Assisti numa sala pequena, no único horário da tarde, ao filme "Topografia de um Desnudo". O filme dirigido por Teresa Aguiar baseia-se numa peça de teatro do chileno Jorge Díaz e não teve nenhuma menção de críticos na grande imprensa. Trata-se da adaptação de uma peça de teatro e versa sobre o massacre de moradores de rua no governo de Carlos Lacerda (um dos líderes civis do golpe de 1964) entre os anos de 1962 e 1963.

Teresa Aguiar é diretora de teatro em Campinas. No final da década de 1970, assistiu a uma peça, em um festival universitário da Colômbia. Há vinte anos ela resolveu transformar a ideia da peça em um projeto de cinema e hoje, aos quase setenta anos, apresenta seu primeiro longa metragem: ?Topografia de um Desnudo?.

Rio de Janeiro, anos 1960. A cidade se prepara para receber a visita da rainha Elizabeth. Num clima de tensão social e política que antecede o golpe militar, uma jornalista investiga a morte de moradores de rua e se envolve num perigoso jogo de interesses. Baseado em fatos reais, desvenda um lado pouco conhecido da História: a ?Operação mata-mendigos?, que ocorreu no Rio de Janeiro entre 1962 e 1963 e um dos motivos era a necessidade de ?limpar? a cidade para a visita da rainha.

 

No filme, a diretora expõe o intrincado jogo do governo do estado da Guanabara, de setores da imprensa e de especuladores imobiliários interessados em um grande empreendimento num lixão onde habitavam moradores de rua.Intercalando cenas realistas com imagens oníricas, Teresa Aguiar conseguiu criar um painel convincente das articulações e dos crimes da elite carioca, ao mesmo tempo em que soube dar muita humanidade aos personagens dos moradores de rua.

Com atores importantes como Lima Duarte, Gracindo Júnior e José de Abreu o filme foi massacrado. Segundo um dos poucos expectadores presentes na plateia, o qual participou das filmagens há alguns anos, o filme, nessa época, já estava sendo feito há dez anos e não conseguia nenhum patrocínio, apesar de ter sido aprovado pela Lei Rouanet. Vê-se por aí como funciona a censura do capital.

O filme é atualíssimo, pois mostra a gênese dos programas de "higienização" das grandes cidades brasileiras, que têm como expoentes Gilberto Kassab em São Paulo e Eduardo Paes no Rio de Janeiro, nos quais as populações pobres são expulsas de locais que interessam aos planos de "revitalização", ou seja, à especulação imibiliária.

Sabe-se também que por trás do mensalão do DEM do Distrito Federal está o vice-governador, Paulo Otávio, dono do jornal Correio Brasiliense e da maior construtora de Brasília.

Pode-se assistir ao trailler do filme no You Tube.


 

 

Situar

 

“Mendigo deveria até virar ração para peixe”. A declaração, dada na Câmara Municipal de Piraí, no Sul Fluminense, pelo vereador José Paulo Carvalho de Oliveira, o Russo (PT do B), na sessão ordinária de 8 de outubro deste ano, virou o assunto da cidade desde a última sexta-feira, quando um vídeo com o discurso foi postado no Youtube. O vereador opinava sobre o voto a moradores de rua.

 

- Mendigo não tem que votar. Mendigo não faz nada. Ele não tem que tomar atitude nenhuma. Aliás, acho que deveria até virar ração para peixe. Eu não dou nada para mendigo. Não adianta me pedir que eu não dou. Se quiser, vai trabalhar - discursou.

 

Wilden Vieira da Silva, o Prico (PSD), presidente da Câmara estava na sessão e ouviu o discurso. Ele confirmou as declarações e disse que pretende se reunir com todos os moradores até esta terça para decidir que medidas tomará em relação a Russo. Para Prico, a declaração polêmica não fere a imagem da Casa:

 

- Foi a opinião pessoal dele, que não feria em nada a imagem da Câmara. Ele fala em nome dele. Foi um fato isolado.

 

Segundo ele, a declaração de Russo foi logo após a declaração de um outro vereador que fez considerações sobre os 25 anos da Constituição Federal.

 

Moradores estariam se mobilizando para fazer uma manifestação de repúdio em frente à Câmara, nesta terça-feira (29).

 

Prefeito foi alertado pelo vice

 

O prefeito Luiz Antônio da Silva Neves (PSB) só ficou sabendo das declarações após a divulgação do vídeo, ao ser alertado pelo vice-prefeito da cidade.

 

- Fiquei sabendo porque o vice-prefeito comentou que viu a repercussão através do Facebook. Achei lamentável, porque trata-se de uma questão que deveria ser sensível a todos nós. Não é admissível uma declaração dessas de um representante político. Espero que ele se retrate - disse.

 

O prefeito disse, inclusive, que foi abordado por moradores nas ruas nos últimos dias. No sábado, por exemplo, contou que um homem o abordou para comentar o assunto enquanto ele fazia compras no mercado. Neste domingo, as declarações do vereador Russo foram o assunto de uma festa de aniversário.

 

- Creio que vai ser o assunto da semana agora que ganhou as redes sociais. Ainda mais por ter acontecido numa cidade pequena - prevê o prefeito.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/mendigo-deveria-virar-racao-para-peixe-diz-vereador-de-pirai-ao-defender-projeto-que-proibe-voto-moradores-de-rua-10561076.html#ixzz2j6CGd2Ps

artégia de attiva de eliminação d apobreza pi´sodios mais 


Data: 29/10/2013