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ARTIGO - Escher, a infinitude do inesperado

Wagner Braga Batista*

 

Ainda era estudante de desenho industrial, na ESDI, quando faleceu o gravador, pintor e desenhista Maurits Cornelius Escher (1898-1972).

 

À época tínhamos disciplina de métodos de representação, lecionada pela gravadora Renina Katz, e alguns exercícios de arranjos gráficos despertaram nossa atenção para os trabalhos precedentes de Escher. Talvez também tenham influenciado a série de cartões postais desenvolvida por Aloisio Magalhães, conhecida como cartemas. Sua influência não ficou restrita ao campo das artes gráficas.

 

Arriscamo-nos a sugerir que suas representações gráficas também se reproduziram na imaginação literária de  Jorge Luiz Borges na descrição da sua biblioteca interminável.

 

Escher está sendo mais uma vez lembrado. A exposição itinerante, ora realizada no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, é desdobramento das mostras patrocinadas pelo Centro Cultural do Banco do Brasil, durante os anos de 2010/11, todas organizadas por Pieter Tjabbes, condensadas no livro intitulado “O mundo mágico de Escher”.

 

Apresenta um acervo riquíssimo e se utiliza de recursos audiovisuais que ressaltam sobremaneira o rigor técnico e a sagacidade deste artista gráfico. Sem sombra de dúvida esta exposição converte-se num portal para iniciados nesta atividade. Num curso agradável e  dinâmico, acessível a todos que se interessam por artes visuais. Torna-se ainda mais envolvente graças à montagem performática, que integra todos visitantes as suas obras, suscitando formas de interação deveras convidativas para os participes desta experiência.

 

É uma aula de metodologia visual, indispensável para alunos de desenho industrial e design.

A leitura do folheto de apresentação da mostra remete-nos ao onírico, ao possível enlace com o fantasioso mundo de Alice, criado por Lewis Carol. Por meio do entrelaçamento de planos e de formas, gera o espanto, por meio de construções caóticas que exploram a perspectiva e a visão reflexa do mundo para compor imagens do moto contínuo.

 

Nos frisos ornamentais gregos a azulejaria encontramos referenciais do rigoroso apuro técnico na criação de movimentos, ritmos e descontinuidades que compõem seus magistrais painéis.

 

Escher é um artista gráfico sui generis cuja maestria concilia a ilusão de ótica com o registro das  técnicas que as proporcionam. É sem sombra de dúvida uma fonte imprescindível para o desenvolvimento de projetos gráficos.

 

Suas contribuições são inúmeras, não só para o estudo da perspectiva, central e cônica, como também de uma disciplina ignorada pelos fazedores de logomarcas, a axonometria.

 

Escher, assim como Joahnes Vermer (1632-1675), esmerou-se na pesquisa ótica, experimentou diversos  dispositivos para explorar vertentes da percepção visual desde a visão panorâmica à reprodução  cíclica. Valeu-se da ilusão de ótica, capaz de produzir efeitos controversos, a exemplo da distorção de imagens, para favorecer a percepção de formas pregnantes.

 

Em muitos de seus trabalhos, a legibilidade das formas se tornou possível por meio de processos paradoxais, ou seja de subsequentes reduções e distorções. Este, entre tantos outros artifícios gráficos, certamente contribuíram para pavimentar a metodologia aplicada ao desenvolvimento de organogramas de símbolos gráficos, de identidades visuais construídas por meio de uma racionalidade tangenciada pela elaboração intuitiva dos caricatos  logomakers.

 

Autores, que teorizaram sobre linguagens visuais, meios e métodos de representação e fenômenos óticos, exaltados na academia, possivelmente jamais manipularam um lápis ou outro instrumento gráfico, tampouco incorreram no risco de traçar um risco, porém beberam água desta fonte generosa.

A nosso ver, Escher exerceu uma influência significativa na consolidação da programação visual, na década de 1960, ou seja, do meticuloso planejamento gráfico, ignorado pelos heróis da banalização do design.

 

* Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 15/10/2013