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Artigo - O proletariado e os inempregáveis vão se transformar em núvens

Wagner Braga Batista

 

 

Consultores economicos, depois de sucessivas incursões malogradas em áreas de investimentos financeiros, resolveram especular em outras searas improdutivas.

 

Propõem, ao seu modo, propabilisticio e cabalístico, a democratização das novas tecnologias da informação. 

 

Nossos preclaros consultores preveem a democratização das novas tecnologias transformando-as em nuvens. "A computação em nuvem não é uma nova tecnologia, é um modelo de negócios que democratizou a tecnologia. A barreira de adoção caiu muito" Reforçando esta bilhante ponderação em prol da democratização das tecnologias, nosso preclaro analista de mercado complementa sua radical recomendação emancipatória para toda a América Latina: " ...em países latino-americanos, (...) o contato humano é culturalmente mandatório para a compra e exige contatos de pré-vendas mesmo para serviços em nuvem, teoricamente moldados para o autosserviço.[1]

 

Não podemos nos furtar deste chamamento revitalizador que acende uma nova chama no coração de revolucionários negociantes autossustentáveis.

 

No horizonte desenha-se uma alternativa para o proletariado descrente, desde que  sequestrado de sua própria história pelos insurgentes e iconoclastas ultra-liberais pós-modernistas. 

 

O proletário, em extraordinário exercício de alucinação, vê-se prenhe de energias, sente-se absorvido, consumido e reivindica transformar-se em nuvens.

 

Identifica-se ideologicamente com criadores desta solução messianica, salvadora do lumpesinato, dos deserdados da terra e proletariado fabril em decomposição.

 

Veem-se reintegrados à sua História como parte desta notável metamorfose.

 

 Uma vez que se converta em nada, em coisas insolitas e intangiveis,o proletário de todo mundo, verdadeiramente se internacionalizará.  Cumprindo sua missão histórica, os proletário de todo mundo, assim como as novas tecnologias e os negócios sustentáveis, poderão se mostrar generosos e fraternos,  acessíveis a todos.

 

 Incondicionalemnte, proletários de todo mundo, aderem a este extraordinário paradigma recheado de proeficiente linguajar, tecnoplastia e flexibelidade, que permite alinhar proletários ao mundo dos negócios, fazendo-os emergir do desaparecimento provocado pelo sequestro pós-moderno para ressurgir democraticamente, como nuvens.

 

A elasticidade desta inflexão sobre a democracia não nos surpreende.

 

Assemelha-se à democracia de FHC. Ao projeto defendido com unhas e dentes que proporcionou  democratização do ensino superior no Brasil. Sufocou a universidade pública e democratizou o direito de todos pagarem exorbitantes anuidades em instituições privadas. Facultou a estudantes participar deste negocio unilateralmente sustentável. Deste modo, a ampliação e adesão ao ensino pago  tornou-se sinonimo de democratização do acesso.

 

Agora as nuvens tornam-se expressão universal da democratização das novas tecnologias e, quiçá, do proletariado,  sequestrado da História.

 

Sensiveis às postulações deste extarordinário projeto resgataremos estamos propondo um alinhamento, um pacto federativo que amplie o alcance deste projeto salvacionista, aplicando-o a enorme contingente populacional, desprezado, até então, pelo comércio justo e  pelas sacanagens éticas do mercado. Referimo-nos a esta multidão de excluídos que orbita  em áreas urbanas e no meio rural. Nada melhor do que transformá-la em núvens.

 

Em  consonância com o tratamento dispensado às novas às novas tecnologias e aos negócios sustentáveis, propomos alinhar esta horda de marginalizados e famintos às diretrizes do projeto democrático-salvacionaista, para também transformá-la em núvens. Vamos democratizar esta gente.

Inempregáveis, uma vez transformados em núvens, talvez se convertam em fontes de  novos negócios e sejam reconhecidos humanamente pela economia de mercado.

 

Talvez sejam contemplados com um programa assistencialista e se tornam beneficiários de alguma bolsa do governo. Bolsa multiuso, capaz de  inflar curriculos de governantes e acelar a ascensão social  das nuvens.

 

Deserdadados, fracassados, ociosos, moradores de rua, famélicos, este imenso rol de seres humanos desqualificados pela ideologia liberal com conceitos depreciativos, uma vez transformados em nuvens, poderão se ver livres da pecha de vagabundos.

 

Esta notável operação, que conferirá dignidade a seres humanos transformando-os em núvens, alterará a fisionomia da cultura e da sociedade contemborânea.

 

Ao se volatilizar, a plebe desaparecerá deste cenário. Favorecerá a democratização e o livre curso de operações financeiras e de negócios sustentáveis.

 

É de se supor que, o subito, ressurgimento do proletariado e dos inempregáveis, transformados em nuvens, proporcionará uma imagem mais amena e democrática da sociedade desigualitária.

 

Poderemos nos comprazer, até, de socializar a tudo e a todos, sem temer a existência de recalcitrantes barreiras sociais e a proliferação destas hordas de seres humanos, consideradas imprestáveis, que assustam investidores, constrangem negócios e impedem o harmonioso desenvolvimento da economia de mercado.

 

O projeto democratico-salvacionista nos redimirá de nossas ambiguidades.



[1] Modelo de negócios democratiza a tecnologia, Valor Economico http://www.valor.com.br/empresas/3285172/modelo-de-negocios-democratiza-tecnologia#ixzz2gHLuBDrY em 27 de setembro de 2013


Data: 30/09/2013