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Artigo - Viajar é uma exigência da alma

Wagner Braga Batista

 

 

Diziam navegantes ao se lançar em universos desconhecidos e amedrontadores:  Viajar é uma exigência da alma. 

 

Com base neste presuposto, também somos compelidos a viajar na modernidade.

 

Esclarecemos. Não se tratam de viagens que nos imponham dúvidas, riscos ou sacrificios, mas viagens confortadoras e supostamente alentadoras.  Tornam-se mais se seguras, na medida que realizadas com recursos alheios.

 

Na sociedade das pulsões, caprichos e desejos incontroláveis, sentimo-nos no indeclinável dever de viajar.  Viajamos por viajar, para atender às vicissitudes de alma narcisica, acomodada e pretensamente inquietas. Desta alma restrita e restritiva,  que se reduz às vissicitudes de nosso individualismo. Desta alma pouco sensível, mas suscetível a todos desejos, via de regra estimulados pelas estratégias do mercado.

 

Esta alma volúvel e itinerante que se diz liberta e se deixa prender pelos feitiços de objetos. Desta alma narcisica refém da autorreferencia individual, mas que se deixa seduzir e se levar por vitrines de shopings, mostruários de magazines, perfis reluzentes de revistas de costumes e pelos franshisings da fé.

 

Esta alma narcisica viaja pela sociedade dos desejos na qual necesidades humanas foram sublimadas.

 

Uma vez convidadas pelo hedonismo, são cativadas pela vontade de fruição.

 

Deste modo vivenciam paraxonal sentido de liberdade causado pela dominação, pela privação  de sentidos. Cativadas por objetos e por impulsos de desejos incontidos viajam pelos quadrantes da alienação. Protegidas pela força de cartões de crétido, pelo poder de compra e pelo seu perfiel de fiel usuária das mesmas marcas.

 

Sem hesitar, as almas narcisicas viajam sem medo, sem hesitação pelos territórios profanos.

Convictas de que nada ficarâo a dever ao passado e ao futuro, não se intimidam com as advertências de sua debilitada espiritualidade. Apostam nos ritos da banalidade e no consumo compulsivo que as faz felizes e as conduz ao fascinio de territórios mundanos.

 

Viajam pelo universo licensioso desenhado por estratégias públicitárias que as contemplam com ambições, sonhos e imagens que projetam de si  mesmas.  Por intermédio da alusão a arquetipos convidativos têm a  ilusão de que se renovam ao adquirir as novidades que o fashion e a moda lhes proporcionam.

 

Esta viagem confortante as recomenda a usufruir do espetáculoso marketing, do explendor do imediatismo, das extarordinárias oportunidades que a vida nos nega e as vitrines exuberantes as oferecem.

 

Nos templos dos descartáveis, as almas narcisicas viajam como os controversos heróis da sustentabilidade que se recusam a ceder às tentações dos desperdicios. Veementemente contrárias ao desperdício não podem desperdiçar as oportunidades que as vitrines as oferecem.  Compram indiscriminadamente, sem medo de errar, porque desejos de almas não podem ser desperdiçados.

 

Plenamente saciadas sentem a leveza dos fardos.  Carregam a certeza que sua compulsão correspondeu  aos padrões de consumo, de abundância e de saciedade da sociedade mundada.

 

Se seus desejos e caprichos não fossem prontamente atendidos não seriam autenticas almas narcisicas. Seus desejos estariam sujeitos à horrível metamorfose. Converter-se-iam em horripilantes necessidades que aviltam almas de homens comuns. 

 

O consumo incessante exercita às vaidades e as imuniza contra terríveis necessidades que ameaçam homens comuns.  Almas narcisicas não podem ceder às necessidades que  desfiguram seres humanos.

 

Na sociedade dos caprichos infinitos e da saciedade dos desejos, não há lugar para necessidades que comprometam a fruição de prazeres. Por isto as alamas narcisicas saão incondicionais adeptas da permissividade do design.

 

Resolutas, embarcam nesta viagem mundana que erige seus caprichos e recomenda a sublimação de necessidades.  A viagem ao consumo conspicuo que consagra a  inovação conservadora.

 

A viagem pela autossustentabilidade do hedonismo e pela ética dos que não desperdiçam oportunidades. Que impõe às almas narcisicas não se sensibilizar, nem se abater frente às ameaças das necessidades atroses que flagelam bilhões de seres humanos.

 

Ousam viajar, como uma exigência frugal  que se materializa por meio do consumo. Como irreversível ato de despojamento  da espiritualidade e do ususfruto de adereços que enfeitam e avultam vaidades humanas. Esta viagem beneficia-se de dispositivos modernos, de linhas de crédito e vantagens que modernizam os acaprichos mundanos da alma narcisica.

 

Estas viagens são  consoantes com as injunções e perversões das almas narcisicas. Suprem suas exigencias e atendem suas inclinações restritivas, suas ambições, seus egoismos, sem nenhuma discriminação de crenças e de convicções narcisico-ideológicas.

 

Por isto que, ainda hoje, o marketing se revigora com apelos de que viagens são exigências destas almas.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 16/09/2013