topo_cabecalho
Artigo - As orações que são ditas e as práticas que as consumam

Wagner Braga Batista

 

Há muitas pessoas que se dizem religiosas. Não praticam a religão, aderem aos cultos, às cerimonias, aos festejos, às liturgias e aos rituais.  Em verdade, não introjetam valores, nem  encarnam preceitos religiosos, desejam apenas se beneficiar do convivio, das dádivas e das graças que as religiões lhes anunciam.

Sua ação confessional é destituída de fé.  Como fariseus modernos, recitam versiculos da Biblia, adotam rituais,  fazem orações, mas suas rezas são proclamações vazias. Apresentam-se como portadoras de crença e de preceitos religiosos, mas suas praticas de vida não os confirmam no dia a dia.

São como alguns políticos, mandatários do povo, que ignoram de onde provém seus mandatos e solenemente  mandam o povo às favas. Ignoram suas expectativas, apreesões e demandas sociais fixando-se exclusivamente em seus interesses restritos. A vocação religiosa, assim como as  opções políticas, exigem perseverança, honestidade de propósito e desprendimento material.

Falsos pregadores, em igrejas ou outros locais destinados ao culto religioso, em seus olhares e  preconceitos reproduzem ambições e discriminações cristalizadas na vida profana.

O acólito e os atos de comunhão nada lhes dizem, pois não partilham do encontro com desiguais. Os maiores exemplos, a depreciação de mulheres e a discriminação de homossexuais por quase todas as religiões.

A religião não é refem de circunstancias.  Projeta o infinito e nele se vê. Portanto, não pode se manter à mêrce de circunstanciais apelos da economia de mercado, da licenciosidade de  estratégias publicitárias e da mercantilização da fé. De falsos pastores que anunciam a fé e prometem a redenção em troca de algumas moedas.

Como ateu, sinto-me à vontade para dizer que religiões autênticas e humanitárias são benéficas aos homens. Recomendam a prática de valores e de direitos humanos.

Contudo, não asseguram a veracidade e a consistencia da fé, tampouco a prática de recomendações humanitárias.

Porquanto algumas religiões reproduzam em seus deuses virtudes e pulsões próprias dos homens, outras reproduzem os homens à imagem de deus. Atualmente, tornou-se comum franquias religiosas reproduzerem apenas desvios humanos.

Em linhas gerais, religiões sinalizam a remissão de erros e a redenção de todos. Fixam-se em mitos de origem e no destino final de todos os homens.

Todas buscam elos perdidos. Procuram recuperar reconditos traços da humanidade perdida, projetada à luz e à imagem de deuses, a expiação de possíveis erros cometidos e a salvação como graça divina .

Sob este viés, a tentativa de recuperação de sua humanidade, exercitada pelo misticismo, pela espiritualidade e pela religiosidade, é benefica a todos os homens. As religiões autênticas nos humanizam.

A religião ao buscar a religação do homem com sua natureza, aproxima os homens da humanidade. Leva-nos a nos ver em outros homens, em seus sentimentos, em suas carências e necessidades. Promove a identidade e reconhecimento por meio da visão da alteridade.

Esta percepção também se torna possivel por outros caminhos, mas a apreensão da nossa humanidade também é alcançada por intermédio de nossos deuses.

Porém observamos que, mesmo entre misticos, subsistem estartificações assimétricas. Que se impõe a força de hierarquias e de preconceitos.  Diferenciam-se por manifestação de sua fé. Pobres, possivelmente pela falta de iniciação religiosa e de conhecimento de ritos convencionais, são chamados de superticiosos e  fanáticos. Enquanto os educados para a fé,  conhecedores dos textos sagrados e dos rituais de sua igreja, são apenas praticantes da religião.

As vocações religiosas não estão imundes a sentimentos humanos. Refletem pretensões divresas. Entre elas a autorreferencia dogmatica e a prepotencia ameaçadora que se desdobra em conflitos religiosos em nome do fundamentalismo.

A mistica e a religiosidade humana não se medem por profissões de fé. Por palavras, por adereços e pela manipulação de simbólicos e adereços.

Há milhares de religiões espalhdas pelo mundo. Cada qual com seus mitos e ritos. Promotores de seus dogmas, das suas crenças e das suas verdades.

Sociedades contemporâneas tão diversificadas e complexas impõem o reconhecimento de  Estados laicos e da importancia de políticas de Estado que valorizem todas religiões e a legitimidade da religiosidade.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 19/08/2013