Artigo - Escola Superior de Desenho Industrial- ESDI: 50 anos de desenho industrial no Brasil Wagner Braga Batista Em 1963, tinha inicio o primeiro curso de graduação em Desenho Industrial no Brasil. Criada no ano precedente a Escola Superior de Desenho Industrial- ESDI, no Rio de Janeiro, ladeada pelos arcos da Lapa, tornava-se um marco desta História, que completa cinquenta anos. Constituía a primeira turma de alunos e anunciava a realização de projetos que aprimorariam condições de vida de seus usuários. Adicionaria objetividade ao desenvolvimento de produtos e racionalidade à produção e ao consumo de artefatos industrializados . Como vimos, esta história não transcorreu como se anunciava... Precedendo a ESDI, algumas iniciativas congêneres, realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro, não tiveram o mesmo desdobramento. Não tiveram a continuidade desejada. Igualmente importantes, ficaram circunscritas a atividades ocasionais e especializadas, sem o propósito de formar profissionais qualificados para desenvolver projetos de produtos para a indústria emergente. O desenho industrial acenou com a possibilidade de planificar e sistematizar processos produtivos e projetos de produtos tornando-os menos onerosos, capazes de minimizar o uso de matérias primas e recursos energéticos, por meio do aperfeiçoamento da forma de artefatos. Esta intervenção humanizadora traduzir-se-ia no crescente domínio técnico e funcional do usuário sobre seus bens de consumo. Suas necessidades seriam superadas por meio de relações objetivas que primavam pela racionalidade e pela satisfação no manejo dos artefatos utilizados no seu dia a dia. O desenhista industrial munia-se de uma bagagem teórica, técnica e operacional que questionava o desperdício, a obsolescência de produtos, o consumismo desregrado, entre outras tendências que configuravam deformidades da economia. Inserido em perspectiva de modernização conservadora, o desenho industrial deveria suprir modelo de desenvolvimento econômico consorciado com o capital estrangeiro. A mercê desta circunstancia, viu-se premido pela escassez de indústrias, de falta de oportunidades de emprego e conviveu com as contradições desta estratégia dependente. Nas três décadas subsequentes, este promissor projeto não encontrou terreno propício para se afirmar. A falta de parque industrial e de permeabilidade empresarial dificultou o reconhecimento de suas potencialidades. As políticas e programas de governo também se mostraram incipientes. Em paralelo à criação da primeira escola de desenho industrial no Brasil, realizava-se fato de igual importância para a identificação das virtualidades desta nova área de formação. Um fato auspicioso, porém pouco conhecido. Entre os meses de junho e julho do mesmo ano, o Museu de Arte Moderna- MAM, no Rio de Janeiro, realizou exposição igualmente inusitada. Sob os auspícios de Walter Gropius, viabilizou a mostra de vasto acervo da Bauhaus (1919- 1933), até então desconhecido de imenso público de iniciados nesta área de atividades. A supervisão, a apresentação e a programação visual desta mostra ficaram sob a responsabilidade do gráfico suíço Roman Clemens. Deste modo, estabelecia-se uma preciosa sintonia entre registros desta significativa experiência de cultura material e princípios formadores da nova escola, a ESDI. Esta mostra, certamente, sensibilizou e influiu na opção de gerações de alunos que ingressariam na ESDI. Composta por 154 painéis, distribuídos em nove seções, integralizava as atividades dos laboratórios e cursos realizados pela Bauhaus, entre 1919 e 1933, apresentava trabalhos significativos de duas dezenas de seus integrantes e revelava aspectos da sua vida diária. Entre os projetos expostos identificavam-se edificações e residências modulares, amplo rol de mobiliários, o curso propedêutico de Johanes Ittten, estudos plásticos com diferentes materiais, experimentos fotográficos, estudos de cor e de contrastes, bem como diferentes artefatos domésticos. Na oportunidade em que se comemora 50 anos da ESDI, a refrencia a esta exposição torna-se registro indispensável. O patrimônio educacional, técnico e cultural da Bauhaus converteu-se em relevante matriz para cursos e escolas de desenho industrial subsequentes. O resgate histórico e a preservação da memória do desenho industrial no Brasil requerem a valorização de princípios, de valores e de preceitos fundamentais desta atividade. Fundamentos que devem ser exercitados no dia a dia. Se abdicarmos desta Historia, do lastro que nos confere nosso patrimônio cultural e embarcarmos em recursos facilitatórios , no modismo, na tentativa de abraçar e celebrar estilos de vida efêmeros e frugais, correremos o risco de renegar princípios irredutíveis da nossa profissão. Ou seja, vulgarizar e jogar no lixo nossa História. Sem temeridade, podemos afirmar que, após cinquenta anos, as contribuições do desenho industrial, do seu legado histórico para o patrimônio cultural brasileiro são notórias e relevantes. Porém, faz-se oportuno ressaltar que a valorização deste legado passa inevitavelmente pela educação, pela revitalização do ensino de desenho industrial e de design. Exige a defesa de elevado padrão de qualidade dos inúmeros cursos existentes. Impõe a formação ampla, técnica, crítica e ética que evite que estudantes e profissionais fomentem o desperdício, a obsolescência planejada e o consumismo desenfreado. Que se convertam em meros serventuários de ardilosas estratégias da economia de mercado. e de educação ampla e consistente dos estudantes. Data: 01/08/2013 |