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Artigo - O lixo nosso de cada dia...

Luiza Eugênia da Mota Rocha Cirne

 

Diariamente assistimos as mais variadas condutas em relação ao “lixo nosso de cada dia”, conflitos, intolerância, síndromes, infrações e até crimes provocados pela geração e/ou descarte de resíduos. A geração de resíduos é antropogênica e verifica-se que do berço ao túmulo a espécie humana, gera cada vez mais em intensidade e diversidade.

 

Soma-se a essa característica os modelos econômicos e estilos de vida insustentáveis adotados por comunidades. Como exemplo temos que um cidadão norte americano consome energia por 900 nepaleses, o que representa vultosas quantidades de recursos naturais para promover as necessidades de um único individuo.

 

Ao longo do desenvolvimento cientifico as ciências Ecologia e Economia deveria ter seguido caminhos indissociáveis, visto que a primeira é definida como “estudo da casa” e a segunda como “regras da casa”, porém os cenários revelados historicamente e mais fortemente nos dias atuais comprovam os descompassos entre a produção, o consumo e o metabolismo dos materiais dispostos no meio ambiente. Os ciclos biogeoquímicos, do carbono, do nitrogênio, da água e de outros elementos são observados na natureza em processos cíclicos onde ocorre a ciclagem dos nutrientes essenciais à renovação da vida planetária. A economia, por sua vez adota um modelo linear para os processos produtivos com a entrada de matérias primas e a saída de produtos e suas consequências, os resíduos.

 

Atualmente os caminhos das ciências começam a aproximar-se na tentativa de mitigar impactos socioambientais visíveis em todo o mundo. Neste sentido, destaca-se a perspectiva de reaproveitamento, tratamento e reciclagem de matérias que propicia a diminuição das desigualdades sociais na maioria dos municípios brasileiros. Não admitindo o “cinismo da reciclagem” que busca perpetuar o modelo econômico aí posto, de consumir mais para gerar mais, porém refletir as possibilidades de adoção da pedagogia dos ERRES- seguindo as prioridades: REPENSAR ATOS DE CONSUMO, REDUZIR, REUTILIZAR, SEPARAR OS RESÌDUOS e DESTINÁ-LOS AS ORGANIZAÇÔES DE CATADORES, como formas de respeitar os limites de regeneração dos recursos naturais, promover a inclusão social e o exercício da cidadania.

 

Nesta perspectiva, há cinquenta anos, é revelado um caminho pelos “extrativistas urbanos”, cuja classificação brasileira de ocupação - CBO denomina-os de catadores de materiais recicláveis. Homens e mulheres catam, separam, prensam, beneficiam, comercializam, limpam e atuam no gerenciamento dos resíduos urbanos com gratuidade, resgatando nas ruas e nos lixões materiais passiveis de reaproveitamento nas cadeias de valor dos materiais. Vejamos, pois, como geradores de resíduos, o que devemos fazer?  A promoção das organizações de catadores tem inicio no ato do descarte, nas fontes geradoras, que nada mais é do que o local onde os resíduos são gerados, quais sejam: residências, escolas, clubes, bancos, comércios, condomínios, instituições públicas e privadas, empresas, indústrias, universidades dentre outros.  A separação dos resíduos na fonte geradora possibilita a máxima recuperação da matéria prima e maior valorização comercial auferindo melhores preços e ganhos para as organizações de catadores.

 

Não utilizemos como pretexto a tão usada expressão -“não separo o meu lixo porque o caminhão da limpeza junta tudo”. A legislação atual - Política Nacional de Resíduos Sólidos indica que sejam adotados os modelos de gestão integrada, onde as responsabilidades são divididas e compartilhadas entre gestores públicos, munícipes, geradores e catadores, com a implantação da coleta seletiva, o reaproveitamento dos resíduos sólidos nas respectivas cadeias de valor, o tratamento e a destinação final dos rejeitos para os aterros sanitários. Neste sentido, e no cumprimento do papel social que se insere nos pilares do ensino, da pesquisa e da extensão da UFCG, o Programa de Extensão “Mobilização Social em Saneamento Ambiental”- Instrumentos Práticos e Teóricos de Educação Ambiental juntamente com a Comissão de Coleta Seletiva Solidária e o Grupo de Estudos e Pesquisa em Resíduos Sólidos-GEPRS persistem em desenvolver ações internas e externas à UFCG visando à discussão da temática e construção de uma Política Pública para os resíduos sólidos do município de Campina Grande-PB.

 

“A porta da transformação começa em cada um de nós”.

 

Luiza Eugênia Cirne é professora da UFCG


Data: 03/07/2013