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No clube nuclear, editorial da "Folha de SP"

"Tudo o que o mundo não precisa agora são os EUA envolvidos num terceiro front"

Leia a íntegra do editorial:

É preocupante o anúncio feito na última terça-feira pelo presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, de que Teerã já é capaz de enriquecer urânio, um passo necessário tanto para produzir combustível para usinas atômicas como para fabricar ogivas nucleares.

Há dois motivos para inquietação. O mais óbvio é a perspectiva de que o país conduzido por Ahmadinejad, que entre outras posições belicosas defende a eliminação do Estado de Israel, ponha as mãos na bomba atômica. Essa possibilidade, apesar do avanço tecnológico registrado na terça, é relativamente longínqua.

Aparentemente, o Irã conta hoje com 164 centrífugas para processar urânio. Mas, para enriquecê-lo a 90% -o necessário para fabricar a bomba-, precisaria de alguns milhares de centrífugas trabalhando continuamente por meses ou anos.

A outra preocupação, mais próxima, diz respeito à escalada na guerra diplomática entre Teerã e o Ocidente que o anúncio gera. Ahmadinejad deu a notícia do enriquecimento a 17 dias de esgotar-se o prazo dado pela ONU para que o Irã suspendesse esse tipo de atividade.

Se EUA e União Européia não quiserem se desmoralizar, terão de convencer Rússia e China, membros permanentes do Conselho de Segurança, a adotar sanções contra o Irã, elevando a tensão regional, inclusive no Iraque, onde a maioria xiita não é insensível à influência de Teerã.

O anúncio iraniano também ocorre num momento em que os norte-americanos debatem abertamente a possibilidade de lançar um ataque contra Teerã para destruir suas instalações nucleares.

A Casa Branca nega ter planos para fazê-lo, mas são crescentes as especulações na mídia de que o presidente George W. Bush poderia recorrer à força. Tudo o que o mundo não precisa agora são os EUA envolvidos num terceiro front.


Data: 17/04/2006