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Artigo - Sobre teorias do universo da criação

Hiran de Melo

 

Por mais incrível que pareça, a cada dia recebo uma nova mensagem tratando de um falso debate entre os chamados adeptos do criacionismo e os adeptos do evolucionismo. São adeptos mesmo no sentido de seguidores cegos (sectários) de guias cegos. Neste sentido é um debate sem convergência, e, portanto, sem fim.

 

É um debate falso porque neste se trata de comparar coisas de naturezas diferentes. O Evolucionismo é uma teoria que foi elaborada a partir de observações empíricas relativas às mutações ocorridas em espécies de animais na natureza. Posteriormente, enriquecida com novas observações relativas ao mundo material em geral, aonde ocorrem cruzamentos e mutações e a sobrevivência do mais apto.

 

O Criacionismo é uma teoria que foi elaborada a partir da necessidade que imperava no meio sacerdotal de dotar uma comunidade de uma identidade mediante uma visão de mundo unificadora e pacificadora, isto é uma visão cósmica.

 

A lenda da criação do mundo em sete dias, por exemplo, tem como finalidade principal criar um calendário, um cronograma de atividades cíclicas e eleger um dia da semana para a parada das atividades cotidianas de sobrevivência. O dia da parada é consagrado ao silêncio, a escuta, a contemplação do sagrado. É o dia consagrado ao ser, assim como os demais são dedicados ao ter.

 

Querer contrapor a teoria da criação do universo a partir de uma grande explosão e consequente expansão à teoria da criação do cosmo espiritual é sem dúvida uma proposta de trevas. Parece até risível, e é. Uma grande explosão de luz que propaga a treva sobre o conhecimento do mundo espiritual. Luz que não clareia; luz que encobre. Esta é a natureza da luz dos adeptos do evolucionismo quando aplicada à crítica das antropologias criadas e desenvolvidas nas religiões.

 

Por outro lado tentar impor uma visão de criação do cosmo como a criação efetiva do universo material é uma bobagem tão grande quanto à primeira. A afirmativa de que Deus criou o mundo material em sete dias e há pouco mais de seis mil anos não é levada a sério por nenhum sacerdote, por mais sectário que ele seja. Simplesmente porque o objeto de estudo e de trabalho do sacerdote não é o mundo físico material. Este é objeto das ciências naturais.

 

Todavia isto não impede que existam visões místicas que originaram religiões que são apropriadas pelos cientistas na tentativa de explicar o mundo microscópio. Nada mais semelhante à afirmativa do que “o mundo material é uma ilusão” do que a descrição hodierna do átomo. Quando se lê uma dissertação relativa ao mundo atômico se tem uma nítida impressão que é uma transcrição na linguagem da comunidade acadêmica de uma descrição do mundo feita por um místico religioso oriental. Não impede, mas não é uma prova da superioridade de um saber revelado sobre uma descrição da criação do mundo baseada no conhecimento científico.

 

O conhecimento científico propiciou o surgimento das civilizações tecnológicas atuais baseadas na apropriação da natureza e dos seus frutos como se fossem apenas objetos profanos. O saber religioso propõe o desenvolvimento de um mundo baseado em uma visão holística e ecológica. Nesta visão a natureza é sagrada.

 

O debate necessário que se coloca é discernir qual a visão apropriada para as sobrevivências do mundo e do cosmo. E este não tem nada a ver com as tolices “sagradas” dos criacionistas e as provas “científicas” dos evolucionistas. Estas são apenas especulações de característica exploratória, sem apoios de evidências sólidas e baseadas em fatos de naturezas distintas.

 

Hiran de Melo é professor da UFCG


Data: 28/06/2012