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Revista quer mudar publicação científica

Periódico internacional de baixo custo promete transparência em processo que filtra a qualidade das pesquisas.

 

Uma revista científica com acesso gratuito para o público, transparente quanto às condições de edição dos trabalhos e que cobra taxas de publicação até 90% menores que a concorrência pode sobreviver no bilionário mundo dos periódicos acadêmicos?

 

Tem muita gente apostando que sim. Parte do entusiasmo se deve a Peter Binfield, que capitaneia a empreitada. Ex-editor da revista científica "PLoS One" e entusiasta do livre acesso à pesquisa, ele ajudou a consolidar o periódico como uma das mais importantes e inovadoras publicações de leitura gratuita.

 

As novidades da revista, a "PeerJ", começam pelos custos. Em muitos periódicos, em especial nos de acesso livre, os pesquisadores precisam pagar por cada artigo que fazem, e pagam caro. A "PLoS One" cobra US$ 1.350. Esse valor chega a US$ 2.900 na "PLoS Biology".

 

Na "PeerJ", em vez da cobrança a cada novo artigo, basta pagar uma única taxa de publicação vitalícia. São três "planos". Quem desembolsa US$ 259 pode publicar quantas vezes quiser. A primeira edição da revista sai em dezembro.

 

Binfield afirma que, apesar do modelo de "baixo custo", seu projeto é sustentável. "Todos os coautores precisam pagar, e cada artigo tem, em geral, cinco ou seis coautores". Ele também chama atenção para a transparência no processo de revisão por pares, no qual cientistas independentes avaliam a qualidade de cada trabalho.

 

Na maioria dos periódicos, as etapas da publicação costumam ser fechadas, e os leitores não têm acesso às possíveis discussões e reavaliações dos artigos. "Os revisores serão encorajados, mas não obrigados, a revelar sua identidade aos autores. Depois, os autores terão a opção de submeter o 'histórico' da revisão junto com o artigo", afirma.

 

"É difícil dizer se a revista vai dar certo. Mas ela propõe um modelo novo, que merece ser estudado", avalia o professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em publicações científicas Rogerio Mugnaini.

 

O lançamento da publicação pega carona na crescente polêmica sobre os altos preços dos periódicos. A Elsevier, que publica cerca de 2.000 revistas, é alvo de um abaixo-assinado que já tem milhares de assinaturas.

 

Só em 2011, o governo brasileiro gastou R$ 133 milhões para que 326 instituições de pesquisa tivessem acesso a mais de 31 mil periódicos.

 

(Folha de São Paulo)


Data: 21/06/2012