topo_cabecalho
Artigo - Reflexões a partir do artigo do reitor da UFCG sobre a sucessão reitoral de 2012 nas universidades públicas da Paraíba

Lemuel Guerra

 

1. Discutir o futuro das universidades implica necessariamente pensar o passado remoto e recente, o que significa avaliar os rumos determinados por dois mandatos dos atuais dirigentes das instituições citadas. Sendo assim, as eleições para reitor que se aproximam significarão, sem sombra de duvida, momentos para avaliar, julgar o que tem acontecido em termos de gestão universitária pública na Paraíba, principalmente nos últimos 8 anos.

 

2.  Sem sombra de dúvida os atuais dirigentes deverão se posicionar diante das propostas que forem apresentadas, e suas preferências deverão se refletir nos blocos sob sua influência. Isso é o que se espera num processo democrático, ao mesmo tempo em que os grupos de pressão e as estratégias de convencimento não devem significar o uso de práticas repressivas, de ameaças e de mecanismos escusos para a conquista dos votos do eleitorado.

 

3. De modo nenhum as políticas recentes referidas à educação em geral e em particular às instituições de ensino universitário são inatacáveis e estão acima da crítica.  Os pontos controversos das recentes ações governamentais na área são diversos e as campanhas de sucessão reitoral deverão inclusive contribuir para a realização de balanços, avaliações e eventuais delineamentos de estratégias de reivindicações no sentido da correção dos desvios e equívocos constatados.

 

4 . Pensar os docentes como afogados pelas atribuições da sala de aula e por isso prejudicados em sua atividade de pesquisa  somente tem sentido num cenário em que se fala muito da articulação da pesquisa, ensino e extensão e que efetivamente  se tem separado de modo radical as atividades descritas como o tripé inarredável da universidade.

 

5. É claro que questões específicas relativas ao ensino, pesquisa e extensão nos níveis da graduação e da pós-graduação, a articulação com o ambiente englobante, em termos do sistema educacional em nível nacional e internacional,  as condições de trabalho de todos os que fazem as nossas universidades, deverão ser objeto de reflexão e de delineamento das propostas que serão colocadas em disputa.  Todavia, o deficit principal que o processo sucessório nas universidades brasileiras deverá permitir revelar e enfrentar é o de filosofia, de utopia, de poesia.  Nossas instituições universitárias carecem de gestores que ultrapassem os desejos medianos, a demanda insensível que frequentemente o mercado e os setores conservadores da sociedade querem nos impor e que sejam capazes de administrar com os coletivos universitários a partir de uma plataforma sólida de princípios, de belas e radicais utopias, que não desejem mais um mandato, porque devem ser indicados a partir da construção conjunta de projetos , que tornam irrelevantes os personagens individuais e necessários os pactos coletivos que podem fazer avançar as instituições do tipo das universidades públicas.

 

6. Enquanto os professores apaixonados pela pesquisa, pelo ensino e pela extensão não ocuparem os cargos de gestão universitária em seus diversos níveis, dando lugar para os ocupem  aqueles que adoram a burocracia visível e invisível*, que terminam por desejar uma carreira  na administração, inclusive pretendendo fazer desses lugares nos quais acumulam capital político** para a conquista de espaços na esfera política extra-universidade, não teremos nossas universidades como lugares especializados na extensão e aprofundamento do conhecimento humano, da compreensão da vida em todas as suas manifestações, do avanço da técnica e da ciência com uma profunda preocupação ética; da crítica radical e iluminadora do presente.

 

7. Pelo fim do mecanismo da re-eleição para cargos de gestão universitária em todos os niveis; pela promoção urgente de um debate amplo e irrestrito da ideia de universidade pública, capaz de produzir respostas claras para questionamentos sobre as razões de sua existência, as funções que ela exerce, as linhas gerais do projeto utópico-filosófico que a inspiram.

 

 

Lemuel Guerra é professor da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais da UFCG, campus de Campina Grande.

 

* Sobre os efeitos do amor à burocracia sobre si e sobre os outros, ler o conto de Kafka, A construção.

** Conforme BOURDIEU, Pierre.  O Poder Simbólico. Lisboa: DIFEL, 1998.


Data: 15/02/2012