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Artigo - Os profissionais da pobreza, os vendedores de lotes de desenvolvimento sustentável em terrenos públicos e os argutos corretores de negócios verdes

Wagner Braga Batista

 

Com o inicio do verão, foi aberta a temporada de caça a pobres, a desenvolvimentos sustentáveis, a negócios verdes e às trutas nas praias de Cochichola.

 

A oportunidade é essa. É pegar ou largar.

As regras estão claras.

 

Escolha seu paradigma, agarre o discurso da vez, explore sua temática, aparafuse os pressupostos éticos de seu projeto biodegradável, compre dez palavras chaves de pronta entrega, um gel consistente para os cabelos, atualize sua consciência social, seu trabalho voluntário remunerado com misteriosos  cachês, a maquiagem nipo, franco, anglo-saxônica do currículo multicultural, globalizante e polissêmico, porém não esqueça de esteróides e anabolizantes para disfarçar as repentinas gorduras de sua conta bancária.

 

A grana vai rolar à solta.

 

Novos editais e kits para produtividade turbinados oferecem excelentes oportunidades de negócios verdes para aquisição de títulos de sócios proprietários empreendedores de instituições públicas. Prevêem compras e aluguéis de condomínios reservados à pobreza na orla marítima, novas gratificações para moradores fora da sede do local de trabalho e polpudas bolsas empresário para professores abstêmios e financistas pesquisadores do CNP3.

 

Imediatamente, abriram-se as comportas.  E a correria foi grande.

 

Munidos de atestados de sócios indigentes do PT, de declarações de abnegação total à Madre Tereza de Calcutá, de administradores dos picadeiros dos palhacinhos Patati e Patatá, de adeptos dos botos tucupis do Maranhão e da Baia de Guanabara, de registros de DNA favoráveis ao aborto e à união de casais do mesmo credo, de certificados de índole proletária, de tez vermelha e de compromissos inarredáveis com as lutas camponesas desde o século XIII, afloraram milhões de candidatados a motoristas de projetos de alivio à pobreza e de balconistas de editais de negócios verdes.

 

Inverteram-se as tendências da véspera.

 

Desde criancinhas, todos são devotos de Marta Suplicy e torcedores do Fluminense de priscas eras.

 

Disputando com os birôs, que pleiteavam os títulos de banqueiros, e as estantes que se apresentavam como notável simbiose de especuladores e participes da social democracia de Caicó, dos solos da inteligência crítica,  afloravam os diplomados em  militantes de MBAs da pobreza. Juravam fazer parte das hordas de criancinhas que não tinham o que comer e se viam na contingência de invadir feudos em universidades públicas para resguardar o seu pedaço.

 

Faziam profissão de fé em defesa da educação pública e deploravam que estudantes sem aulas não se filiassem ao sistema de cotas, aos partidos étnicos e aos movimentos pela pobreza.  Em defesa da causa das salas de aula vazias, proclamavam a paridade entre carteiras vazias e estudantes sem aulas.

 

Defensores incondicionais da pobreza, candidatavam-se a locutores do leilão de verbas públicas e de camelôs de benefícios para si próprios.

 

Estes verdadeiros paladinos dos caminhos das pedras, herdeiros dos roçados da CBF e comensais dos botins da pobreza, apresentavam-se para mais uma árdua tarefa. Dirigir um mirabolante projeto para atender aos requisitos de um edital salvacionista.

Cavaleiros da triste figura, ornados com agendas multilaterais e blocos de notas de diamantes, reivindicavam posições estratégicas em ministérios ambivalentes que patrocinavam cotas para barões de projetos e meia entrada para estudantes nos banquetes para a pobreza.

 

Na falta de vagas, de novos ministérios, de passagens aéreas, de diárias e de carros do ano para serem sorteados como prêmio de consolação para este imenso o rol de órfãos da coerência e de pruridos políticos, este amplo contingente foi mobilizados para aumentar o chororô por Itaquera. A imensa caravana se somou à massa dos centernadas, que protestavam contra a penúria no ano do centenário do Corinthians.

 

Esses milhões de excluídos das listas de nomeações e de cargos comissionados foram ter em São Paulo com o amplo e diversificado movimento dos não contemplados com privilégios das oligarquias ou grandes famílias e, agora, pleiteavam as parcas e milionárias verbas dos editais destinadas aos profissionais da pobreza.

 

Entre eles, um retardário que perdeu a ficha limpa na fila do trem das onze do Judiciário paulista.

 

Agraciado com o Premio Rota, de Combate à Pobreza e de atrocidades no Carandiru, despontava irônico e bem apessoado.

Ostentando a Comenda das Ilhas Caimãs, pelo esmerado trato e manejo de verbas públicas, o nobre defensor dos sustentáveis e desenvolvimentos éticos, subitamente fora homenageado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo com o fraque dos coirmãos Sarneys e Jader Barbalhos.

 

Graças aos seus méritos, fora honrado com o Galardão dos Espertos e Dignos pela prodigiosa  compra superfaturada de frangos com chifres e sem penas, aduiridos para enfeitar a probidade e a árvore de Natal da pobres servidores da Prefeitura de São José da Lagoa da Tapada, em São Paulo.

 

Anunciando seu retorno triunfal às lides do campesinato, do operariado fabril e dos sem teto, Paulo Malluf abdicou de fichas dactiloscópicas. Também não reivindicará o seguro pobreza destinado, mui justamente, para aqueles que perderam seus mandatos.

Afirmou, também, que, por um ato de generosidade e apreço à cidadania, dispensará a bolsa destinada aos sem palácio, aos que não ganharam ministérios ou mansões no Lago Sul.

 

A partir da deferência do tribunal de justiça e da homenagem pública, prestada por antigos  sicários de Médici, reiterou seu compromisso com os indigentes, com os torcionários de sempre, com o ocultamento de mortos e desaparecidos durante o regime militar.

 

Sentenciou que, a partir do apogeu de camarada Lula, dedicar-se-á apenas a mamar na pobreza.

 

Como demonstração de inequívoco desprendimento, manifestou sua intenção de se candidatar apenas às cotas do baronato acadêmico, à obtenção de lotes e concessões nas universidades públicas, às verbas consignadas para abrigar seus parentes e amigos nos quintais de repartições públicas,às gratificações para professores que residem fora das sessões e gabinetes parlamentares e para deputados que não dão aulas.

 

A partir de então o ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, candidato à Presidência da República pela via indireta, deputado pelos bancos suíços e comensal dos paraísos fiscais, será um mero noviço.

 

Um simples iniciado na arte de farejar negócios verdes, de postular e redigir projetos pleiteando para si e para os seus próximos os legítimos recursos dos editais de auxílio aos profissionais da pobreza.

 

 

Wagner Braga Batista é professor aposentado da UFCG


Data: 14/12/2010